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Império Britânico: o que não está nos livros didáticos

11 de novembro de 2016

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A maioria dos britânicos tem orgulho do poder hegemônico que o Império Britânico exerceu no mundo por séculos. No auge, em 1920, o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, 25% da população mundial e abrangia 20% das terras do planeta. Estendia-se do Caribe (Honduras Britânicas e Guiana Inglesa) até a Austrália e ilhas remotas do Pacífico, passando por um terço da África (destaque para a África do Sul, Nigéria, Egito, Quênia e Uganda) e avançando para a Índia, Birmânia e China. Dizia-se, então, que “o Sol nunca se põe no Império Britânico” pois, devido à sua extensão ao redor do mundo, o Sol sempre estaria brilhando em pelo menos um de seus territórios.

  • BNCC: 8º ano – Habilidade: EF08HI23, EF08HI23, EF08HI26

O Império Britânico no seu apogeu, em 1920. O império teve início em 1583 com a colonização da América do Norte e terminou em 1997 com a devolução de Hong Kong para a China.

Entretanto, o legado desse domínio é desconhecido por boa parte da população britânica que ignora as violências e atrocidades cometidas pelo imperialismo britânico em suas colônias. O tema não é tratado nas salas de aula. O ensino da História imperial e colonial britânica enaltece os feitos dos colonizadores e ignora o lado sombrio do imperialismo que diz respeito aos povos dominados.

O Império Britânico ensinado nas escolas

Uma pesquisa realizada pela YouGov, empresa internacional líder de pesquisa de mercado, e divulgada em janeiro de 2016, revelou que 44% dos britânicos estavam orgulhosos da história do colonialismo britânico, enquanto 21% lamentavam-na e 23% não tinham qualquer opinião.

A mesma pesquisa também perguntou se o Imperialismo britânico foi positivo ou negativo: 43% disseram que foi positivo, enquanto que apenas 19% afirmaram que ele foi negativo, e 23% não souberam avaliar.

Serviçal hindu serve chá a uma senhora britânica, início do século XX.

Britânia, a guerreira de traje branco (seu nome está escrito no capacete) conduz soldados e colonos britânicos em solo africano. Ela leva a “Civilização” enfrentando seu inimigo em cuja bandeira se lê “Barbarismo”. Do cabo ao Cairo, Puck, 1902. Biblioteca do Congresso.

Os resultados da YouGov causaram reação no meio acadêmico e entre as autoridades políticas e educacionais. Os historiadores britânicos são unânimes em enfatizar a importância de se repensar o ensino de História nas escolas:

 “Há uma amnésia coletiva sobre os níveis de violência, exploração e racismo envolvidos em muitos aspectos do imperialismo, para não mencionar as várias atrocidades e catástrofes que foram perpetradas, causadas ou agravadas pela política colonial britânica”. Precisamos de uma educação melhor e um debate público aberto sobre todos os aspectos da história colonial britânica incluindo as feridas, não como um exercício de autoflagelação, mas como um meio de entender melhor o mundo que nos rodeia e como somos vistos pelos outros”. Dra. Andrea Major, professora de História Colonial Britânica da Universidade de Leeds.

“A violência do Império Britânico tem sido esquecida. Precisamos enfrentar essa história e a educação é crucial se quisermos fazê-lo”. Dra. Esme Cleall, professora de História do Império Britânico, da Universidade de Sheffield.

“O tema é praticamente inexistente no currículo. Nosso conhecimento da nossa própria história é muito limitado geograficamente, sem dar qualquer sentido para entender as atrocidades que foram cometidas sob o jugo imperial. Enquanto as pessoas ficam, geralmente, felizes em recordar o passado glorioso, elas são relutantes em enfrentar o lado mais sombrio do império”.  Dra. Pippa Virdee, professora de História Moderna da Ásia Meridional, da Universidade de Montfort.

“Nos últimos anos, tem-se falado muito sobre o papel da Grã-Bretanha em abolir a escravidão, mas pouco de fala sobre o envolvimento da Grã-Bretanha no tráfico de escravos, em primeiro lugar! Temos que ser mais honestos sobre nossa herança imperial, não apenas dentro da sala de aula, mas também fora dela”. Dr. Christopher Prior, professor de História do Século XX, da Universidade de Southampton.

Selo britânico de 1914.

“O Império Britânico representa a paz e a segurança mundial. Defenda-o”, diz o selo britânico de 1914.

O tema está despertando a atenção das autoridades educacionais. O conservador Michael Gove, secretário de Educação entre 2010-2014, afirmou que a história do colonialismo britânico deve ser ensinada nas escolas, enquanto que o líder trabalhista Jeremy Corbyn afirmou que as crianças também devem ser ensinadas sobre os sofrimentos que o imperialismo causou às populações dominadas.

Conhecer a própria História e reconhecer como ela interferiu na vida de outros povos tem sido a tônica de alguns governos contemporâneos. Em 2006, Tony Blair, líder do Partido Trabalhista e primeiro-ministro britânico (1997 a 2007), pediu desculpas sobre o papel da Grã-Bretanha no comércio transatlântico de escravos, descrevendo a prática como um “crime contra a humanidade”.

No entanto, David Cameron, do Partido Conservador e primeiro-ministro britânico (2010 a 2016), em uma visita à Índia em 2013, afirmou ter orgulho dos feitos do Império Britânico. Naquela oportunidade, Cameron recusou-se a pedir desculpa pelo massacre de Amritsar de 1919 (veja abaixo), no qual as tropas imperiais britânicas mataram 379 indianos, incluindo mulheres e crianças, que faziam uma manifestação pacífica pela independência da Índia.  Negou-se, também, a devolver o diamante Koh-i-Noor tomado da Índia em 1850 quando esse país foi anexado ao Império Britânico. Desde então, o célebre diamante faz parte da Coroa da Rainha Mãe.

Seis fatos vergonhosos da história britânica

1. Comércio escravo

Os livros didáticos (britânicos e brasileiros) costumam dar destaque às ações da marinha britânica, no século XIX, de apreensão dos navios negreiros. Isso passa a ideia de uma Grã-Bretanha defensora da liberdade e dos direitos humanos. Na verdade, a Grã-Bretanha teve, também, um importante papel no comércio escravo transatlântico e ele durou mais de dois séculos.

O comércio britânico de escravos começou em 1562, durante o reinado de Elizabeth I, quando John Hawkins, vendeu um lote de africanos aos espanhóis de Santo Domingo em troca de ouro, açúcar e couro. Em pouco tempo, os britânicos dominavam o tráfico de escravos no Caribe estendendo-o depois às 13 colônias inglesas na América do Norte. Estima-se que, até 1807, quando o tráfico foi proibido, os navios negreiros britânicos tenham transportado cerca de 4 milhões de escravos.

Morte de crianças bôeres nos campos de concentração britânicos

Cartoon denunciando o extermínio de crianças bôeres nos campos de concentração britânicos

2. Campos de concentração, África do Sul

Mais de 100 mil bôeres foram presos e colocados em campos de concentração superlotados onde morreram cerca de 27 mil deles, sendo 24 mil crianças (menores de 16 anos), 2.200 mulheres e 800 homens. Os campos de concentração eram a maior arma para vencer a resistência dos bôeres e foram responsáveis pelo extermínio de cerca de 50% de sua população infantil.

Os bôeres, colonos de origem holandesa e francesa, ocupavam a região desde 1830. A descoberta de minas de diamante, ouro e ferro no território atraiu a atenção dos britânicos para estender seus domínios em todo sul da África. A guerra ocorreu em duas etapas: 1880 a 1881 e 1899 a 1902. Os campos de concentração foram construídos no final da guerra.

3. Massacre de Amritsar, na Índia

Em abril de 1919, uma multidão que incluía mulheres e crianças manifestava-se pacificamente contra o domínio britânico em Amritsar, cidade sagrada no norte da Índia. O governo britânico havia proibido aglomerações e protestos públicos e o general Reginald Dyer fez cumprir a ordem: mandou os soldados se posicionarem na única saída da praça e ordenou que atirassem contra a multidão desarmada.  Foi um massacre: 379 mortos e 1.200 feridos em dez minutos de fuzilamento que só parou porque acabaram as balas dos fuzis.

A versão britânica explica a tragédia como uma reação de defesa do general Dyer que se sentiu ameaçado diante de 25 mil indianos e contando com apenas 90 soldados armados e outros 40 sem rifles. As manifestações antibritânicas estavam, então, em seu ponto mais alto. Três dias antes do massacre, três funcionários britânicos foram linchados em seus escritórios e seus cadáveres queimados na rua. Uma missionária idosa, Miss Sherwood, foi espancada e deixada morta. Cartazes na rua pediam vingança acusando os britânicos de terem estuprado meninas em Amritsar.

Massacre de Amritsar, filme "Gandhi", de 1982

Massacre de Amritsar, cena do filme “Gandhi”, de 1982, ganhador de oito prêmios Oscar.

4. Divisão do território indiano

A separação entre a Índia e o Paquistão, em agosto de 1947, levou a uma guerra sectária que matou um milhão de pessoas. Criado para abrigar a população muçulmana da Índia, o Paquistão era dividido em dois territórios: um no Oeste e outro no Leste (que, em 1971, se tornou Bangladesh). No meio, ficava a Índia, de maioria hindu.

Essa partilha do território indiano, baseada na religião, resultou na migração em massa de quase 15 milhões de pessoas: muçulmanos que deixaram a Índia para o Paquistão, e hindus e sikhs fazendo o caminho inverso.

Mal preparados para lidar com essa situação, os novos governos não conseguiram manter a lei e a ordem, e a violência eclodiu nos dois lados da fronteira, no que muitos consideram uma das maiores tragédias do século XX.

As estimativas sobre o número de vítimas até hoje são imprecisas, fala-se que morreram entre 200 mil e 1 milhão de pessoas. Dezenas de milhares de mulheres foram estupradas ou sequestradas, e cerca de 12 milhões de pessoas se tornaram refugiadas.

Os britânicos foram acusados de se retirar da Índia rápido demais. Críticos afirmam que eles não conseguiram estabelecer um mapa definitivo das novas fronteiras e fracassaram no planejamento para a migração em massa que se seguiu à divisão do território.

5. Fome deliberada na Índia e Irlanda

Em 1943, cerca de 3 milhões de pessoas morreram de fome e desnutrição em Bengala, na Índia, sob administração do Império britânico. No ano anterior, os britânicos haviam perdido, para o Japão, a Birmânia, o maior produtor e exportador de arroz para a Índia. Winston Churchill, primeiro-ministro na época, ordenou que os estoques de alimento fossem destinados para os soldados britânicos na Índia e no Oriente Médio e ainda enviou grandes quantidades de arroz para a Grécia (que estava também sofrendo com uma fome em massa).

Grande Fome de Bengala, 1943

Massas de famintos esqueléticos morreram nas ruas de Bengala enquanto os britânicos e indianos que os serviam comiam fartas refeições em seus clubes e casas.

Um século antes, outra fome em massa assolou um país do Reino Unido: a Irlanda. A Grande Fome de 1845-1851, na Irlanda, matou cerca de 1 milhão de irlandeses e forçou mais de 1 milhão a emigrar da ilha, reduzindo a população entre 20 e 25%. A causa imediata da fome foi uma doença que contaminou as plantações de batatas em toda Europa na década de 1840. Mas enquanto outros governos socorreram sua população, o governo britânico nada fez e ainda impediu todas as formas de ajuda humanitária em um projeto considerado, por muitos, de genocídio.

6. Tortura no Quênia

Milhares de quenianos sofreram todo tido de tortura durante a Revolta Mau Mau (1952-1963): linchamento, espancamento, castração, estrupros além de confisco de bens e propriedades por forças coloniais britânicas. Os Mau Mau lutavam para libertar o país dos colonizadores britânicos que desde 1888 dominavam o país.

Não se sabe quantos quenianos morreram, as estimativas falam em 20 mil até 100 mil pessoas, e outro tanto de sobreviventes das torturas. O filme “Uma lição de vida” (The First Grader, direção de Justin Chadwick, Reino Unido, BBC Films, 2010) conta a história de um combatente Mau Mau. Em 2013, o governo britânico pagou em torno de 30 milhões de libras atendendo as reivindicações feitas por mais de 5 mil veteranos Mau-Mau.

Prisioneiros mau-mau, 1953.

Prisioneiros mau-mau em um campo de detenção britânico em 1953.

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Eduino de Mattos
Eduino de Mattos
7 anos atrás

Joelza,(Desculpe) É NOJENTO, mas recontar a história “humana” é muito necessário, para os filhos e netos desta geração NÃO REPRODUZAM ÁS BARBÁRIES COMETIDAS, NB; Tenho Formação em Direitos Humanos (UFRGS) e fico ENOJADO quando alguns comunicadores ficam EXOVALHANDO os direitos humanos quando um policial é morto, Há Direitos Humanos é só para Defender Bandidos,…(Alexandre Mota TV Record RS,… Igreja Universal ? !) “DO REINO DE DEUS” ? ? ? Qual o deus deles ? ! Com Certeza Não é o Meu Deus, PARABÉNS ! recontar a História é Mais que Necessário, É UM RESGATE AOS POVOS ATINGIDO PELOS “IMPÉRIOS BÁRBAROS”… Read more »

Waldir Filho
Waldir Filho
6 anos atrás

A escritora indiana Madhusree Mukerjee escreve em seu livro “Churchill’s Secret War” que Churchill foi diretamente responsável pelo extremo sofrimento, mostra documentos nunca antes divulgados. Análise de encontros do gabinete de guerra mostra que navios carregados de grãos da Austrália passavam pela Índia em seu caminho para o Mediterrâneo, onde grandes reservas foram construídas. “Não era uma questão se Churchill sabia ou não: pedidos de suprimentos para Bengala foram feitos repetidamente e ele e seus associados mais próximos recusaram todos os esforços”, disse Mukerjee. “Os Estados Unidos e a Austrália ofereceram-se para prestar ajuda mas não puderam, porque o gabinete… Read more »

Marcelo Augusto
Marcelo Augusto
6 anos atrás

Parabéns pelo tema suscitado. Não quero me meter no seu artigo, mas quem sabe seria interessante, também, comentar o absurdo que foi as duas Guerras do Ópio contra a China que fizeram com que essa nação perdesse territórios importantes para o Reino Unido e, indiretamente para a própria Rússia, por meio da Convenção de Pequim, em 1860.

Andries Viljoen
Andries Viljoen
6 anos atrás

O Império Britânico, em média, era uma força para o bem no mundo? NÃO… aprenda porque em https://imagembrasileira.blogspot.com.br/2017/06/o-imperio-britanico-em-media-era-uma.html

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