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Descoberto o diário de construção da Grande Pirâmide de Queóps

21 de março de 2024

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BNCC

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Definitivamente não foram alienígenas, nem seres de uma civilização desaparecida os construtores das pirâmides de Gizé. Foram egípcios, trabalhadores especializados que recebiam pelo serviço prestado (não eram escravos) e que trabalhavam em equipe sob uma chefia e uma organização hierarquizada.

Os arqueólogos já sabem disso há tempos pelas evidências arqueológicas, mas faltavam documentos mais detalhados. Eles foram descobertos, em 2013, nas ruínas de um antigo porto no Mar Vermelho. Trata-se do diário do inspetor Merer que relata, dia a dia, o transporte de blocos de calcário para Gizé. Acabou o mistério da construção da Grande Pirâmide de Gizé.

O diário do inspetor Merer

Diário de Merer é o nome de fragmentos de papiro com anotações feitas há mais de 4.500 anos por Merer, um inspector (sehedj) responsável pelo transporte de blocos de calcário para a construção da Grande Pirâmide de Queóps.

O diário é conhecido pelos arqueólogos como Papiros Jarf, em referência a Wadi al-Jarf, nome do local onde foram encontrados em 2013.

Foi chamado, também, de Pergaminhos do Mar Vermelho pelo próprio descobridor, o arqueólogo francês Pierre Tallet, em um artigo de 2021.

São os papiros com texto mais antigos conhecidos, datados do final do reinado do faraó Khufu (Queóps), que reinou de 2.620 a 2.580 a.C., da IV Dinastia. Até agora são os únicos documentos sobreviventes sobre a construção da Grande Pirâmide.

O responsável pela Grande Pirâmide de Gizé só teve sua aparência preservada nessa estatueta de marfim de 7 cm de altura. É o único retrato do faraó Khufu ou Queóps. Foi descoberto nas ruínas de um templo de um período posterior em Abidos. Todos os otros relevos e estátuas foram encontrados em fragmentos.

Waidi al-Jarf: local da descoberta dos papiros

Os papiros estavam enterrados junto às galerias escavadas no antigo porto de Wadi al-Jarf, na costa do Mar Vermelho, a 180 km ao sul de Suez. O porto era um centro de comércio de materiais utilizados na construção das pirâmides, a cerca de 280 km de distância. Por ali chegavam cobre da península do Sinai) e calcário das pedreiras de Tura, perto do Cairo. Nas pirâmides foram utilizados, também, basalto de Faium e granito de Assuã.

Wadi al-Jafar era um porto, na costa do Mar Vermelho, a 180 km ao sul de Suez.

O sítio Wadi al-Jarf consiste em diversas áreas diferentes, espalhadas por vários quilômetros entre o Nilo e o Mar Vermelho. Da direção do Nilo, a cerca de 5 km da costa, contém cerca de 30 grandes câmaras de calcário usadas para armazenamento e para guardar os navios.

Além das estruturas portuárias, como um cais de pedra de 180 metros, os arqueólogos encontraram 130 âncoras esculpidas em pedra, bem como potes de armazenamento, fragmentos de corda e pedaços de cerâmica. Foram descobertos, também vestígios de construções que podem ter sido usadas como residências.

Estima-se que o porto Wadi al-Jarf foi inaugurado na época do faraó Sneferu e abandonado no final do reinado de seu filho Khufu. Esteve ativo durante um curto período, mas durante esse tempo o porto foi dedicado à construção do túmulo de Khufu (pirâmide de Queóps), conhecido então como Akhet-Khufu, que significa “Horizonte de Khufu”.

Após a morte de Khufu, o porto foi desativado. Os registros mostram que uma equipe foi enviada de Gizé para fechar as câmaras escavadas no calcário. Durante esse trabalho, os papiros de Merer, agora sem utilidade, ficaram esquecidos e enterrados sob os blocos de pedra. O clima seco do deserto preservou os papiros por mais dois mil e quinhentos anos.

Outros documentos foram descobertos (são centenas de fragmentos!), mas os escritos de Merer causaram mais entusiasmo. É o registro do trabalho que sua equipe realizou durante quatro meses na construção da Grande Pirâmide. Os textos mencionam o faraó Khufu.

O complexo de Sacara contém uma inscrição em pedra representando o transporte de grandes colunas por barco – uma rara evidência dos métodos reais de construção usados ​​pelos antigos egípcios.

Transporte de grandes colunas de pedra por barco, inscrição de Sacara.

O conteúdo do Diário

O texto em tinta vermelha e preta, escrito em hierático (a letra cursiva dos hieróglifos) e também em hieróglifos, cobre o período de julho a novembro, no 26º ano do reinado de Quéops. Consiste principalmente em listas das atividades diárias de Merer e sua equipe.

Os fragmentos mais bem preservados documentam o transporte de blocos de calcário branco das pedreiras de Tura (sul do Cairo) para Gizé por barco.

Pierrer Tallet, descobridor do Diário de Merer, exibe uma parte dos papiros.

Embora o diário não especifique onde as pedras seriam usadas ou com que propósito, o arqueólogo Pierre Tallet, descobridor e estudioso dos papiros, acredita que elas provavelmente foram usadas ​​para revestir a parte externa da Grande Pirâmide (Queóps), revestimento completamente desaparecido hoje.

A cada dez dias, eram feitas duas ou três viagens de ida e volta, enviando talvez 30 blocos de 2 a 3 toneladas cada, totalizando a 200 blocos por mês. Cerca de 40 barqueiros trabalharam sob seu comando.

O transporte por barco era o meio mais usado pelos antigos egípcios. Eles não se limitaram a navegar o rio Nilo e o mar Vermelho, mas abriram grandes canais de navegação e construíram portos para facilitar o transporte de pedras, mercadorias, alimentos e pessoas por todo Império. Relevo da V Dinastia.

Trechos do Diário de Merer

Os textos estão todos estruturados de acordo com o mesmo esquema. Na parte superior há uma linha horizontal de texto indicando a estação e o mês. Abaixo dela há outra linha horizontal de texto com uma lista de cada dia do mês. Abaixo de cada dia há duas colunas verticais com informações sobre o que aconteceu naquele dia.

O texto menciona os nomes:

  • Tura: pedreira onde o calcário era extraído
  • Akhet-Khufu significa “Horizonte de Khufu”: é o nome original da Grande Pirâmide de Queóps.
  • She Khufu, significa “a piscina de Khufu”: refere-se ao lago artificial construído próximo à pirâmide de Queóps. O nome é abreviação de Ro-She Khufu.
  • Ro-She Khufu, significa a “entrada da piscina de Khufu”, funcionava como sede da administração do projeto da pirâmide, situada no porto do lago artificial próximo à pirâmide de Queóps. Local onde eram descarregadas as pedras.

Trechos do Diário de Merer:

Dia 22: passa a noite em Ro-She Khufu. Pela manhã saímos de Ro-She Khufu em direção a Akhet-Khufu, passa a noite nas capelas de Akhet-Khufu.

Dia 24: O inspetor Merer passa o dia com sua phyle transportanto [pedras? artesanato?] com aqueles que estão no registro da Elite, os aper-times e o nobre Ankhaf, diretor do Ro-She Khufu.

Dia 25: O Inspetor Merer passa o dia com equipe transportando pedras no sul de Tura; passa a noite em Tura norte.

Dia 26: O Inspetor Merer zarpa com sua equipe do sul de Tura, carregado com blocos de pedra, para Akhet-Khufu; passa a noite em She-Khufu [área administrativa, pouco antes de Gizé].

Dia 27: Embarque em She-Khufu, navega até Akhet-Khufu carregado de pedras; passa a noite em Akhet-Khufu.

Dia 28: Partida de Akhet-Khufu pela manhã; navegação rio acima em direção ao sul de Tura.

Dia 29: O Inspetor Merer passa o dia com sua equipe transportando pedras no sul de Tura; passa a noite em Tura.

Dia 30: O Inspetor Merer passa o dia com sua equipe transportando pedras no sul de Tura; passa a noite em Tura.

 (Trechos do Papiro B Seção BI)

O responsável pelas obras

Busto de Ankhaf feito em calcário pintado, vizir e encarregado das obras de construção da Grande Pirâmide.

Além do inspetor Merer, os papiros mencionam Ankhaf (veja seu nome no dia 24).

Ankhhaf era meio-irmão de Quéops e filho do faraó Snefru. Durante o reinado de Queóps e Quéfren, ele ocupou o cargo de vizir e encarregado das obras de construção da Grande Pirâmide. Ele é mencionado no Papiro B com o título Iripat, o mais alto título da corte egípcia, equivalente a príncipe, e também como o “chefe de todas as obras do rei e de Ro-She Khufu”, responsável pelo porto de Gizé.

Ankhaf está sepultado na mastaba G 7510 no Cemitério Leste da pirâmide de Queóps, em Gizé. É a maior sepultura privada de todo o planalto. Ali foi encontrado busto de Ankhaf feito em calcário pintado, que hoje se encontra no Museu de Belas Artes de Boston. Apesar do tamanho, a mastaba possui apenas a sua sepultura. A esposa de Ankhaf, Hetepheres, foi enterrada em um local até então desconhecido.

 Outros detalhes do diário

As anotações de Merer estão em vários papiros desenterrados em Wadi al-Jarf.

Os Papiros A e B (os mais intactos) tratam do transporte de blocos de calcário para Gizé, conforme mostrado nos fragmentos acima.

O Papiro C menciona a construção de instalações portuárias.

O Papiro D menciona as obras da residência e do templo do complexo funerário de Khufu.

O Papiro E registra o período de seis meses que a equipe de Merer passou cruzando o Mar Vermelho transportando trabalhadores, alimentos e cobre de uma costa a outra.

O Papiro H detalha o pagamento das rações aos trabalhadores como pão, cerveja e figos. Isso demonstra que os construtores das pirâmides eram trabalhadores qualificados que recebiam por seus serviços.

Cesta com figos, uma ração dada aos trabalhadores por serviços prestados.

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