Esse pedaço de calcário, chamado óstraco pelos egiptólogos, traz um texto e marcas de números: é um recibo de entrega de pedra para a construção da pirâmide de Meidum, da 3ª dinastia, anterior à grande pirâmide de Khufu (Queóps). A pirâmide de Meidum foi uma das “experiências fracassadas”, construções piramidais que ficaram inacabadas ou desmoronaram por erros estruturais.
- BNCC: 6 ano. Habilidade: EF06HI07
Formas de registro no Egito Antigo
Nem todos os documentos do passado são poemas, exaltações a reis ou preces a deuses. Há também escritos de lista de alimentos, recibos, lições escolares, desculpas por não ir trabalhar, reclamações contra os filhos etc.
Materiais como o papiro eram muito caros e, por isso, anotações temporárias e descartáveis como lembretes, exercícios de alunos e avisos eram feitos em pedaços de cerâmica quebrada ou em lascas de calcário. Eram chamados de óstraco ou óstracon.
Óstracon é uma palavra grega (pl. ostraca) que significa “caco de pote” ou “caco de cerâmica” (lembra do “ostracismo” dos gregos?). O termo é também usado pelos egiptólogos para se referir a pedaços de calcário com textos ou representações neles.
Era um material muito mais barato que o papiro. Milhares de óstracos foram encontrados, a grande maioria em Deir el-Medina, a vila de trabalhadores na margem oeste de Tebas. Além dos óstracos com textos, também há muitos exemplos com ilustrações, em geral, rascunhos talvez de alunos que aprendiam a desenhar. Algumas dessas ilustrações retratam cenas humorísticas e satíricas.
Os óstracos dos trabalhadores das pirâmides
Examinando estes fragmentos de calcário, pode-se conhecer detalhes curiosos da construção das pirâmides e outros monumentos. Por exemplo, sabemos que os trabalhadores se organizavam em grupos e cada grupo podia ter um nome. Conhece-se o nome de algumas equipes de construtores de pirâmides como:
- “Purificadores do Horus Me Djedu (Khufu)”,
- “Purificadores das duas terras (Egito)”,
- “Seguidores da poderosa coroa branca de Khufu”,
- “Amigos de Khufu”
- “Amigos de Menkaure”,
- “Leões de Khafa”,
- “Bêbados de Menkaure” (embora alguns egiptólogos digam que deveria ser traduzido como “trabalhadores”).
Quando alguma equipe se destacava sobre as demais, podia deixar um óstraco marcando o feito do grupo. Nas câmeras da pirâmide de Khufu há uma inscrição dos “Amigos de Khufu” comemorando terem terminado seu trabalho “durante a décima sétima conta de gado”.
As anotações levam a supor que havia um espírito de competição entre os diferentes grupos de trabalhadores. Talvez eles recebessem rações extra de cerveja ou carne.
Há óstracos com justificativas da ausência no trabalho. Alguns exemplos:
- Buqentuf estava “envolvendo o cadáver de sua mãe morta”.
- Amenmose “buscando pedras para o escriba”.
- Pennub “estava com a mãe doente”.
- Huynefer estava frequentemente “sofrendo com o olho”.
- Aapehti precisou “fazer oferendas a Deus”.
- Seba “foi picado pelo escorpião”.
“Produzir cerveja” também era um motivo comum de ausência. A cerveja desempenhava um papel importante na vida cotidiana do antigo Egito e era associada a deuses como Hathor.
Fonte
- BABCOK, Jennifer. Ancient Egyptian Ostraca: a reevaluation. The Met. 10 out 2012.
- RECKER, Jane. Archaeologists uncover 18.000 ancient egyptian ‘notepads’. Smithsonian Magazine. 9 fev 2022.
- Ostracon. The British Museum.