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As linhas de Nazcas são geoglifos gigantescos traçados no deserto peruano cobrindo uma área de cerca de 500 km2. São a expressão artística mais conhecida dos nazcas, uma cultura anterior à inca que se desenvolveu entre 200 a.C. e 600 d.C., vivendo em assentamentos no deserto ao longo do rio Nazca, no sul do Peru.
Os geoglifos foram registrados pela primeira vez por cientistas em 1927. Ao longo do século, pesquisadores atribuíram cerca de 430 figuras ao povo Nazca. Agora, um novo levantamento, com auxílio de inteligência artificial, publicado em setembro de 2024 (SAKAI et al., 2024), encontrou 303 geoglifos adicionais em apenas seis meses. Eles fornecem informações sobre os costumes da antiga civilização Nazca.
Imagens de drone com contornos brancos adicionados como guia visual. As barras de escala representam 5 metros.
As figuras de orcas empunhando armas (punhais) surpreenderam os cientistas pois, até então, nunca haviam sido identificadas nos estudos das linhas de Nazcas. Mas, em algumas peças de cerâmica do período Nazca, há cenas que retratam orcas com facas cortando cabeças humanas”
Os geoglifos figurativos retratam humanoides, cabeças, animais domesticados (camelídeos), orcas, pássaros, felinos, cenas cerimoniais e interação entre humanos e animais.
Uso de IA na pesquisa arqueológica
Os pesquisadores utilizaram um modelo de IA treinado para detectar linhas tênues em imagens de satélite do deserto. A IA consegue identificar contornos 20 vezes mais rápido do que os humanos. Depois que o modelo identificou várias figuras, a equipe viajou até alguns dos locais escaneados para confirmar a existência das ilustrações. Os cientistas passaram mais de 2.600 horas inspecionando manualmente esses sítios, capturando fotografias com drones e realizando inspeções de campo.
Masato Sakai, arqueólogo da Universidadade de Yamagata, no Japão, e principal autor do estudo, comentou sobre o uso de IA:
“Historicamente, a taxa de descoberta de novos geoglifos figurativos de Nazca tem sido da ordem de 1,5 por ano (de 1940 a 2000). Devido à disponibilidade de imagens de sensoriamento remoto de alta resolução, essa taxa acelerou para 18,7 por ano entre 2004 e 2020.
Nosso trabalho atual representa uma aceleração de 16 vezes (303 novos geoglifos figurativos durante a temporada de trabalho de campo de 2022/23) utilizando tecnologias de big data geoespacial e mineração de dados com o auxílio de IA. Assim, a IA pode estar prestes a inaugurar uma revolução nas descobertas arqueológicas, semelhante à revolução que as imagens aéreas tiveram no campo.” (SAKAI et al., 2024).
Em outras palavras, levou um século para que os cientistas encontrassem 430 desenhos nazcas. Agora, com o uso de IA, foram encontrados 303 geoglifos em seis meses. Os autores do estudo acreditam que, nos próximos anos, poderão identificar cerca de 250 outros geoglifos de Nazca que foram sinalizados pelo modelo de IA, mas que não tiveram tempo de examinar pessoalmente.
Figuras de humanoides estão entre os 303 novos geoglifos nazcas identificados pelo novo estudo.
Uma cabeça decepada e um camelídeo identificados pelo estudo com uso de IA.
Um humanoide (à esquerda) e uma serpente com duas cabeças devorando humanos (à direita).
Fonte
- SAKAI, Masato; SAKURAI, Akihisa; LU, Siyan; FREITAG, Marcus. Um levantamento acelerado por IA em Nazca quase dobrou o número de geoglifos figurativos conhecidos e esclareceu seu propósito. Anais da Academia Nacional de Ciências (PNAS), 23 set 2024.
- ANDERSON, Sonja. Veja os desenhos de Nazca recém-descobertos que retratam lhamas, sacrifícios humanos e muito mais. Smithsonian Magazine, 24 set 2024.
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