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Compaixão: um sentimento nas origens da humanidade  

18 de julho de 2024

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BNCC

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A ideia que fazemos do homem pré-histórico é repleta de figuras embrutecidas, em permanente luta pela sobrevivência, e vivendo sob emoções básicas de medo, raiva, surpresa e satisfação. Seria verdadeira a imagem que temos desse passado longínquo?

Novas tecnologias na arqueologia estão sendo utilizadas para revisar fósseis antigos fornecendo dados ocultos sobre nossos ancestrais mais remotos. Eles não teriam sido tão selvagens, cruéis e incapazes de sentimentos elevados como imaginamos. Ao contrário, podem ter demonstrado compaixão por seus semelhantes.

O que é compaixão

A compaixão é o sentimento de compreender o estado emocional de outra pessoa acompanhado do impulso altruísta de buscar maneiras de aliviar, reduzir ou eliminar a infelicidade, a dor e o sofrimento alheio.

A compaixão (do latim, cum pátior, “sofrer com”) é mais intensa que empatia (identificar-se com o outro) e não se confunde com a caridade (fornecer benefícios) nem com a piedade (sentir sem agir). A compaixão distingue-se pela sua duração e intensidade, pelo desejo de agir e cuidar para remediar o sofrimento do outro.

Como saber se o homem pré-histórico sentia compaixão?

Existe uma disciplina emergente chamada Bioarqueologia do Cuidado (Bioarchaelogy of Care), relacionada à saúde, que analisa evidências em restos humanos que indicam sobrevivência do indivíduo possuidor de uma patologia incapacitante que tornaria difícil viver até a idade de sua morte sem ter recebido cuidados especiais.

Os cientistas estão descobrindo que pessoas com doenças raras desfrutaram do apoio de sua comunidade e puderam sobreviver bem até a idade adulta e, ainda, que foram enterradas não como marginalizados, mas recebendo os mesmos cuidados dos demais mortos de seu grupo.

Essas evidências sugerem que, nas sociedades humanas, desde suas origens, prestar assistência aos que mais necessitavam era a norma, como mostram os exemplos abaixo.

Shanidar 1, o Neanderthal com deficiência

Na caverna de Shanidar, no Curdistão, a nordeste do Iraque, foram encontrados os restos de dez Neanderthais, datados de 45 mil a 50 mil anos atrás.

Entre eles, havia um, apelidado de Shanidar 1, que sobreviveu apesar de graves limitações físicas. Seus restos mortais indicam que ele tinha o braço direito atrofiado, provavelmente amputado acima do cotovelo, talvez após uma fratura e evidências de uma marcha anormal, bem como provável hiperostose esquelética idiopática difusa.

Sofria também de surdez e teve um traumatismo craniano que esmagou a órbita esquerda e deixou cego de um olho. Enfim, uma séria privação sensorial para um caçador-coletor do Pleistoceno que tornava impossível ele participar das atividades de sobrevivência do grupo.

Todos os ferimentos de Shanidar 1 mostram sinais de cura, então nenhum deles resultou em sua morte. Na verdade, cientistas estimam que ele viveu até 35–45 anos de idade, uma longevidade nada desprezível para os Neanderhais. Shanidar 1 viveu por um tempo substancial antes de sua morte e,  portanto, deve ter recebido cuidados de seu grupo (TRINKAUS, 2017).

Ossos do Neanderthal Shanidar 1, note o úmero direito atrofiado comparado com o úmero esquerdo robusto.

Seu braço amputado e cicatrizado indica que os neanderthais realizaram uma cirurgia em Shanidar 1 e sua recuperação foi bem-sucedida.

Outra surpresa foi o sepultamento do esqueleto apelidado de Shanidar 4, um homem adulto com idade entre 30 e 45 anos. Sobre sua sepultura foi encontrado grande quantidade de pólen, sugerindo que flores inteiras fizeram parte do ritual funerário. O estudo do material permitiu identificar: mil-folhas (Achillea millefolium), centaureas (Centaurea cyanus), cardo amarelo (Centaurea solstitialis), muscari (erva-de-santiago) e malva rosa – todas plantas usadas tradicionalmente como diuréticas, estimulantes, adstringentes e anti-inflamatórias.

Além da prática funerária deliberada dos neanderthais, esses dados sugerem, também, conhecimentos de plantas curativas e que possivelmente Shanidar 4 tivesse sido um xamã agindo como curandeiro em seu grupo.

Romito 2, o caçador do Paleolítico com nanismo

A caverna de Romito (Grotta de Romito) fica na Calábria, no sul da Itália. Ali foram encontrados vestígios de ocupação humana durante o Paleolítico Superior de 17.000 anos atrás e o Neolítico de 6.400 anos atrás.

Entre os restos humanos, está o de Romito 2 (provavelmente homem, 17–20 anos) datando de cerca de 12.000 AP e representam o primeiro caso conhecido de nanismo (displasia acromesomélica), uma doença rara que ocorre em menos de um caso por cada dois milhões.

Esqueleto, braço esquerdo e crânio de Romito 2, o indivíduo com nanismo do Paleolítico.

Suas pernas curtas não poderiam acompanhar a tribo nômade de caçadores-coletores que vivia em uma região montanhosa do sul da Itália.

A displasia esquelética severa de Romito 2 (sua estatura era 1,10-1,20 m) limitava sua participação em atividades econômicas e outras tarefas realizadas por seu grupo. Além disso, ele também teria reduzida capacidade para apanhar, segurar e manipular objetos (TILLEY, 2015).

Mesmo com tantas dificuldades, Romito 2 não foi deixado para trás. Ele foi alimentado, limpo, vestido, aquecido e carregado nas caminhadas em terrenos mais difíceis. Suas necessidades foram atendidas até sua morte, com 17-20 anos, quando recebeu um enterro tão digno quanto o resto de seu grupo. Ele não foi marginalizado, mas incluído como membro de seu grupo.

Bebês pré-históricos com síndrome de Down

Em 2020, Lara Cassidy, geneticista do Trinity College Dublin, Irlanda, diagnosticou um bebê pré-histórico com Síndrome de Down através do DNA antigo. Ela estava examinando genes de esqueletos enterrados em uma tumba de 5.500 anos no oeste da Irlanda. Os ossos de um menino de seis meses continham quantidades incomumente altas de DNA do cromossomo 21.

Um novo estudo publicado na Nature (ROHRLACH, 2024) confirmou seis casos de síndrome de Down em crianças pré-históricas que datam entre 5.000 e 2.400 anos atrás. Um deles, identificado omo YUN039 (c. 2900–2700 a.C.), é uma menina de 6 meses de idade, enterrada em um recipiente de cerâmica sob o piso de uma habitação da camada da Idade do Bronze de Tell Yunatsite, no sul da Bulgária.

Os restos mortais do indivíduo CRU001, um menino com Sindrome de Down do início da Idade do Ferro, encontrado enterrado em Alto de la Cruz, Navarra, Espanha.

Outro esqueleto, identificado como LAZ019 (c. 1400–1200 a.C.), também feminino de 12–16 meses de idade, foi enterrado em uma pequena sepultura na ilha de Egina, Grécia. Estava usando um colar feito de 93 contas, pasta de vidro, faiança e cornalina (4 contas), de diferentes cores e tamanho.

Já mais recente, o esqueleto HKI002 (1640–1790 d.C.) foi encontrado enterrado em um caixão de madeira sob a atual Senate Square em Helsinki, anteriormente um cemitério de igreja, na Finlândia. Seu traje funerário continha alfinetes de bronze e flores decorativas de bronze, que eram uma tendência comum da época.

Em todos esses casos, as crianças foram igualmente amamentadas e aquecidas até morrrerem e receberam um enterramento digno.

Man Bac 9, o homem tetraplégico do Neolítico

O sítio de Man Bac no delta do Rio Vermelho do Vietnã é um dos sítios arqueológicos do Sudeste Asiático mais meticulosamente escavados e analisados ​​nos últimos anos. É um cemitério neolítico datado de 4.000 anos atras. O ocupante da sepultura 9, com 20-25 anos, foi deitado sobre o lado direito, e flexionado. Exibia membros inferiores e superiores atrofiados, rigidez da coluna e do pescoço e degradação da articulação da mandíbula.

Man Bac 9 (M9) sofria de uma doença congênita terrível conhecida como síndrome de Klippel-Feil. Por volta dos 10 anos de idade, ele ficou paralisado da cintura para baixo ficando movimentos limitados na parte superior do corpo.

Man Bac 9, o homem tetraplégico do Neolítico. Note os ossos muito finos das pernas e dos braços.

Praticamente tetraplégico, M9 sobreviveu mais uma década o que só seria possivel tendo recebido cuidados extensivos em todas as necessidades da vida. Além disso, sua alimentação deveria ser diferenciada para se adequar às necessidades dietéticas únicas de M9 decorrentes de problemas gastrointestinais associados à imobilidade.

Os cuidados que M9 recebeu, mesmo sem poder contribuir para a subsistência do grupo neolítico, indicam um excedente de mão de obra e de recursos disponíveis para atendê-lo e, também, que havia compaixão e disposição na comunidade para fazê-lo (SÁEZ, 2023)

M9 é um dos primeiros exemplos pré-históricos de assistência de longo prazo e sobrevivência com incapacidade total.

Como salienta a investigadora australiana Lorna Tilley, casos como estes sugerem uma sociedade em que todos os membros eram valorizados e prestavam assistência aos que mais necessitavam.

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