Dez personalidades femininas foram homenageadas com estátuas douradas durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024. O momento emocionante foi ritmado pelo hino francês, cantado por um coro de 34 mulheres e liderado pela cantora Axelle Saint-Cirel. Às margens do Rio Sena, o público pode acompanhar as estátuas douradas emergirem das águas destacando mulheres que influenciaram profundamente diversos campos, como exploração, filosofia, literatura e esporte.
O objetivo da apresentação, segundo os organizadores, era dar ainda mais destaque a essas mulheres que mudaram a história mundial, enfrentando uma sociedade culturalmente machista.
As estátuas douradas serão deixadas em Paris, como uma herança para a cidade. Atualmente a capital francesa conta com 260 estátuas homenageando homens e somente 40 quarenta são de mulheres. A partir de agora, esse número sobe para 50.
Da Idade Média à Contemporânea, as mulheres francesas tiveram uma grande influência na conquista de direitos femininos. A luta pela igualdade de gênero, emancipação e direito básicos das mulheres são algumas das pautas que as homenageadas lutaram durante muito tempo.
As dez homenageadas são:
1. Simone de Beauvoir (1908-1986)
Filósofa, ativista política e ícone do feminismo internacional, Simone de Beauvoir teve um impacto profundo na sua época com a publicação de O Segundo Sexo em 1949. Esta obra monumental explora as diferentes facetas da condição feminina e defende os direitos das mulheres face à opressão. Simone de Beauvoir examina os papéis e expectativas colocados às mulheres na sociedade e revela como as mulheres têm sido historicamente oprimidas e alienadas da liberdade.
2. Olympe de Gouges (1748-1793)
Pseudônimo de Marie Gouze, foi pioneira do feminismo na França sendo conhecida pelo seu ardente compromisso com a causa dos direitos das mulheres e com a abolição da escravatura. Olympe de Gouges Escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, onde destacou a participação feminina na Revolução Francesa e exigiu o acesso das mulheres à plena cidadania.
3. Alice Milliat (1884-1957)
Atleta francesa comprometida com o esporte feminino e a participação da mulher nos grandes campeonatos incluindo os Jogos Olímpicos. Fundou em 1912 a Federação Francesa de Esportes Femininos. O sucesso das iniciativas lideradas por Alice Milliat permitiu aumentar a visibilidade do esporte feminino e lutar contra os estereótipos da época. Em 1922, depois de muitas tentativas de incluir atletas mulheres em Olimpíadas, criou o Jogos das Mulheres em Mônaco, reunindo delegações da França, Inglaterra, Itália, Noruega e Suécia.
4. Gisèle Halimi (1927-2020)
Advogada franco-tunisiana, foi ativista feminista pelos direitos das mulheres. Esteve no centro de inúmeras batalhas jurídicas, nomeadamente lutando pela descriminalização do aborto e pelo reconhecimento do estupro como crime em defesa das vítimas de violência sexual. Lutou pela igualdade e justiça social, combateu a tortura e o colonialismo. Foi eleita membro do parlamento e serviu como embaixadora na UNESCO.
5. Paulette Nardal (1896-1985)
Mulher preta, nascida na Martinica, escritora, jornalista e pioneira do movimento da consciência literária negra. Foi uma das autoras envolvidas na criação do gênero Negritude. Além de sua escrita, Paulette e sua irmã Jeanne foram as primeiras estudantes negras a ingressar na Sorbonne (1920), a mais tradicional universidade francesa. Desempenhou um papel crucial na divulgação de ideias literárias e políticas de negritude , introduzindo a consciência racial no discurso francófono.
6. Jeanne Barret (1740-1807)
Foi a primeira mulher a dar a volta ao mundo, feito que realizou entre 1766 e 1769. Disfarçada de homem e sob o nome de Jean Barret, ela conseguiu integrar a expedição a Bougainville, driblando a proibição de mulheres embarcarem em navios. Apaixonada por botânica, ela se tornou assistente do naturalista Philibert Commerson, desempenhando um papel crucial na coleta e identificação de novas espécies de plantas. Ela não só abriu caminho para as mulheres em áreas reservadas aos homens, mas também enriqueceu o campo da botânica com inúmeras descobertas.
7. Christine de Pizan (1364-1431)
Nascida em Veneza e criada em Paris, é reconhecida como a primeira mulher profissional de letras. Sua obra The City of Ladies marcou uma virada na literatura do período ao defender os direitos das mulheres e ao reconhecer suas contribuições para a sociedade, desafiando a misoginia presente no meio literário, predominantemente masculino. A partir de 1399, iniciou uma verdadeira carreira profissional, produzindo dezenas de manuscritos originais. Seus escritos abriram caminho para outras grandes figuras femininas na história literária.
8. Louise Michel (1830-1905)
Figura emblemática da Comuna de Paris (1870), participou ativamente em funções políticas e militares dentro da Guarda Nacional estando na linha de frente das barricadas e também em funções de apoio como motorista de ambulância. Ativista anarquista pela igualdade social, após a queda da Comuna, foi deportada para a Nova Caledônia em 1871 e regressou a França em 1880. Durante os anos de exílio, ela leu as obras de Bakunin e Kropotkin, reforçando suas crenças anarquistas.
Antes de seu exílio, Louise Michel abriu uma escola diurna em Paris, em 1865, demonstrando o seu compromisso com a educação dos mais necessitados. Como forte defensora dos direitos das mulheres, ela continuou a lutar pela justiça social e pela igualdade.
9. Alice Guy-Blaché (1873-1968)
Pioneira do cinema francês, foi a primeira cineasta e roteirista de filmes ficcionais. Alice dirigiu mais de mil filmes durante os 20 anos de carreira, administrou seu próprio estúdio e serviu de inspiração para outras mulheres iniciarem suas carreiras. Com apenas 22 anos, foi a responsável por encabeçar a primeira produção do mundo com uma narrativa cinematográfica: La Fée aux Choux (A Fada do Repolho), feito por volta de 1896 sendo baseado num antigo conto francês. Ela inovou ao introduzir avanços tecnológicos como colorização e som sincronizado em suas obras.
10. Simone Veil (1927-2017)
Sobrevivente do Holocausto, ela se tornou uma figura importante na luta por justiça social na França e Europa. Virou referência do feminismo após se tornar Ministra da Saúde em 1974 por lutar pela melhoria de vida das mulheres e instituir a descriminalização do aborto por meio da “Lei Veil”. Enfrentou uma oposição feroz para garantir que as mulheres pudessem decidir livremente sobre os seus corpos, marcando um momento decisivo para a justiça social e os direitos humanos. Em 1979, foi eleita Presidente do Parlamento Europeu, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo.