O Peru foi palco de repetidas revoltas indígenas durante todo o século XVIII, culminando em 1780, na maior de todas, liderada por Túpac Amaru, um descendente real inca.
Nascido no Peru, em 1740, com o nome de José Gabriel Condorcanqui em uma família de descendência real inca, ele herdou terras, gado e uma tropa de mulas que usava no transporte de mercadorias. Em 1780, Condorcanqui tomou o nome do último imperador inca, Túpac Amaru, e iniciou um movimento, inicialmente pacífico, em favor de reformas que melhorassem a vida e o trabalho dos nativos.
A população do Vice-reinado do Peru era, então, composta por 58% de índios, 20% de mestiços e escravos e 12% de brancos (espanhóis e descendentes de espanhóis). Essa minoria controlava a vida econômica e política do país. Os indígenas, a principal mão de obra, eram empregados nas plantações, nas minas e nas tecelagens onde eram forçados a trabalhar em um regime de exploração conhecido como mita.
Túpac Amaru apresentou uma petição junto ao governo para que os indígenas fossem liberados do trabalho obrigatório das minas. Denunciou os riscos a que estavam submetidos (desmoronamentos e intoxicação de gases), a exploração desumana de mulheres, crianças e anciãos forçados a trabalhar sem descanso e gravemente doentes pelo mercúrio usado nas minas. A audiência de Lima, composta na maioria por encomenderos e donos de minas, sequer se dignou a escutar ao pedido do inca.
Túpac Amaru partiu, então, para uma ação mais radical e preparou a insurreição. Tendo iniciado perto de Cuzco, em novembro de 1780, o movimento logo se alastrou por grande parte do Peru. Além da própria causa, a rebelião fortaleceu-se pela extensa rede de parentesco de Túpac Amaru e suas ligações com o comércio e o transporte regional – condições que garantiram o recrutamento de milhares de indígenas.
Os rebeldes assaltaram depósitos e armazéns, tomaram armas de fogo e grande quantidade de munição. Crianças e anciãos prepararam armas brancas e flechas envenenadas. Por onde passava, o exército de Túpac Amaru abolia a escravidão, a mita e a cobrança de impostos.
Em 18 de novembro de 1780, em Sangarará, as forças rebeldes entraram em combate contra o exército espanhol e o derrotaram. A vitória encorajou os rebeldes. Cerca de 100 mil indígenas em uma extensão de 1500 km se dispuseram a seguir Túpac Amaru.
A gravidade da situação levou os vice-reis de Lima e de Buenos Aires a unirem suas forças formando um exército de 17 mil homens fortemente armados.
Túpac Amaru buscou apoio dos criollos, tentando convencê-los a se unirem ao movimento e lutar contra os espanhóis. Os proprietários nascidos na América, contudo, não tinham interesse em um movimento que libertava a mão de obra que exploravam. As ideias de Túpac Amaru eram revolucionárias demais para eles e, assustados com a dimensão da revolta, os criollos aliaram-se aos espanhóis em defesa de suas propriedades.
O exército dos vice-reis levou adiante uma campanha de terror contra a população nativa saqueando aldeias e assassinando indiscriminadamente todos seus habitantes. O resultado foi a fuga de muitos indígenas e a deserção de grandes fileiras do exército rebelde.
Na noite de 5 de abril de 1781, ocorreu a batalha final, em Checacupe, em que milhares de indígenas foram massacrados. Túpac Amaru foi feito prisioneiro e, durante dias, foi torturado para revelar os nomes de outros chefes rebeldes. Manteve-se calado até o fim.
Em 17 de maio de 1781, Túpac Amaru foi condenado à morte sofrendo uma das execuções mais cruéis da História. Primeiro, obrigaram-no a presenciar a tortura e morte de sua mulher, filhos e amigos. Depois, teve suas pernas e braços amarrados em quatro cavalos para ser esquartejado vivo. Não chegaram, contudo a concluir a execução e decidiram decapitá-lo, cravar a cabeça em uma lança e enviar seus quatro membros às cidades onde ele havia lutado.
A repressão aos rebeldes continuou por mais um ano. Chefes indígenas foram brutalmente executados e seus seguidores perseguidos até a morte. Implantaram-se então algumas reformas institucionais, entre as quais, a extinção da encomienda – medida que objetivava mais o fortalecimento do domínio espanhol do que o bem-estar dos indígenas.
História Animada Tupac Amaru
Tupac Amaru II – O el anuncio de una gran revolución
Vocabulário
Mita: forma de trabalho existente entre os incas e que foi usada pelos espanhóis resultando em trabalho forçado de indígenas nas minas, lavouras e obras públicas em troca de um pagamento ínfimo em moedas, tecidos ou bebida alcoólica.
Encomendero: colono espanhol autorizado pelo governo a utilizar indígenas nas minas ou fazendas e exigir-lhes tributos em gênero (milho, batata, ovos, peixe, sal, tecidos, porcos, aves etc). Em troca, o encomendero devia oferecer instrução religiosa, comida e proteção aos indígenas “encomendados”, o que nem sempre acontecia.
Criollos: colonos brancos nascidos na América; entre eles, muitos eram mestiços, isto é, tinham antepassados nativos. Eram proprietários de terras e minas, mas não participavam das decisões políticas que ficavam nas mãos dos espanhóis.
Fonte
LYNCH. John. As origens da independência da América espanhola. In: BETHEL, Leslie (org.). História da América Latina. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2001, v. 3.
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Obrigada prof. Fábio pela inclusão desse artigo em seu blog https://nossahistorianet.wordpress.com/2015/04/06/8o-ano-orientacoes-de-trabalho/
Abr.
POSTAGEM SENSACIONAL! Parabéns!