Edgar Morin, filósofo e sociólogo francês, nascido em 1921 (completa 103 anos em 8 de julho de 2024) é autor de mais de 70 livros. Concebeu os fundamentos do chamado pensamento complexo, que viria a se tornar o seu Método, sua obra mais conhecida, publicada entre 1977 e 2004.
O pensamento complexo de Morin é uma forma de pensamento que aceita a sobreposição de cada domínio do conhecimento e da transdisciplinaridade. O termo complexidade é tomado no sentido etimológico – “complexus” que significa “aquilo que está entrelaçado”. Nesse sentido, Morin propõe uma reforma do pensamento, capaz de interligar os conhecimentos visando a construção de um Homo complexus, menos especializado, mas que, a partir de seu lugar de especialização possa encontrar espaços de abertura e diálogo com o outro, com a diferença, em buca de um comum.
Esse comum, diz Morin, pode ser o fato de que habitamos todos uma mesma Terra-Pátria, ou seja, compartilhamos uma comunidade de destino. Daí a importância de uma ética planetária. Em suma, o pensamento complexo oscila entre o microssocial e o macroplanetário; defende uma racionalidade aberta e a autocrítica permanente do sujeito; compreende que possuímos ideias, assim como elas nos possuem; foge das respostas fáceis e prontas; busca abrir o diálogo entre os conhecimentos; sabe da impossibilidade de construirmos o melhor dos mundos, mas defende a utopia concreta de um mundo melhor, onde a luta por igualdade e fraternidade não prejudique a liberdade (*).
Em 1999, a convite da UNESCO, Morin escreveu Sete saberes necessários para a educação do futuro no qual propõe as modificações que considera importantes no ensino para que este se adapte à complexidade do mundo moderno.
Segundo Morin, a educação atual, assim como a modernidade, tende a fragmentar e compartimentar o conhecimento, bem como a tornar as técnicas autônomas em relação às preocupações existenciais e humanas. Ele propõe, então, uma abordagem transdisciplinar para ajudar os alunos a compreenderem os problemas contemporâneos em toda a sua globalidade e complexidade.
Recomenda vincular conhecimentos dispersos em cada disciplina para ensinar “a condição humana e a identidade terrena”, o que também permitiria desenvolver no aluno a compreensão do outro. Em vez de reduzir a educação à transmissão de conhecimentos estabelecidos, numa concepção muitas vezes terminista da evolução das sociedades, considera preferível explicar “o modo de produção do conhecimento”, ou até mesmo o “conhecimento do conhecimento”.
Resumimos abaixo os Sete saberes necessários para a Educação do futuro. O texto integral, publicado pelo MEC, pode ser lido aqui.
Sete saberes necessários para a Educação do futuro – Edgard Morin
Os sete saberes necessários à educação do futuro não estão concentrados no primário, nem no secundário, nem no ensino universitário, mas aborda problemas específicos para cada um desses níveis que precisam ser apresentados, porque dizem respeito aos sete buracos negros da educação completamente ignorados, subestimados ou fragmentados nos programas educativos que, na minha opinião, devem ser colocados no centro das preocupações da formação dos jovens que, evidentemente, se tornarão cidadãos.
1. Ensinar o que é conhecimento
O primeiro buraco negro diz respeito ao conhecimento. O ensino fornece conhecimento, saberes. Porém, nunca se ensina o que é o conhecimento. O problema chave do conhecimento é o erro e a ilusão.
Ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria delas contém erros e ilusões, mesmo quando pensamos há vinte anos atrás e constatamos como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução.
Mesmo no fenômeno da percepção em que os olhos recebem estímulos luminosos que são transportados a um outro código, e esse código binário transita pelo nervo ótico e isto é transformado em percepção, logo a percepção é uma reconstrução. Tomemos o exemplo da imagem do ponto de vista da retina: as pessoas que estão perto, parecem muito maiores do que aquelas que estão mais distantes, pois, a distância, o cérebro não registra,
Até nos processos de leitura, isto acontece. Nós sabemos que não seguimos a linha do que está escrito, pois, às vezes, nossos olhos saltam de uma palavra para outra, ou um grupo de palavras e reconstrói o conjunto de uma maneira quase alucinatória, ou seja, neste momento é o nosso espírito que colabora com o que nós lemos. É o mesmo que acontece, por exemplo, quando há um acidente de carro, as versões e as visões do acidente são completamente diferentes, principalmente, pela emoção e o fato das pessoas estarem em ângulos diferentes.
No plano histórico há erros. Tomemos o exemplo dos debates sobre a Primeira Guerra Mundial, uma época em que a França e a Alemanha tinham partidos socialistas fortes, potentes e muito pacifistas, e que, evidentemente, eram contrários a guerra que se anunciava, mas, do momento em que se desencadeou a guerra, os dois partidos se lançaram, massivamente, a uma campanha de propaganda cada um imputando ao outro os atos mais ignóbeis. Hoje, podemos constatar com os eventos trágicos do Oriente Médio a mesma maneira de tratar a informação, cada um do seu lado prefere camuflar a parte que lhes é desvantajosa para colocar em relevo a parte criminosa do outro.
Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem. Cada um pensa que suas ideias são as mais evidentes e as que não estão dentro desta norma, são julgadas como um desvio patológico e são rejeitadas como ridículas, não somente no domínio das grandes religiões ou das ideologias políticas, mas também das ciências. Quando Watson e Crick decodificaram a estrutura do código genético, o DNA, surpreendeu e escandalizou a maioria dos biólogos que não pensavam que isto poderia ser transcrito em moléculas químicas. Foi preciso muito tempo para que essas ideias pudessem ser impostas e aceitas.
Lenin dizia: “Os fatos são teimosos, mas as ideias são ainda mais teimosas do que os fatos e resistem aos fatos durante muito tempo”.
Portanto, o problema do conhecimento não deve ser um problema restrito aos filósofos, é um problema de todos e que cada um deve levá-lo em conta muito cedo e explorar as possibilidades de erro para ter condições de ver a realidade, porque não existe receita milagrosa.
2. Ensinar os princípios do conhecimento relevante
O segundo buraco negro é que não ensinamos as condições de um conhecimento pertinente, isto é, de um conhecimento que não mutila o seu objeto. Por que? Porque nós seguimos em primeiro lugar, um mundo formado pelo ensino disciplinar. É evidente que as disciplinas ajudaram o avanço do conhecimento, mas isto não significa que seja necessário conhecer somente uma parte da realidade, é preciso ter uma visão que possa situar o conjunto. Não é a quantidade de informações, nem a sofisticação em Matemática que podem dar sozinhas um conhecimento pertinente, mas a capacidade de colocar o conhecimento no contexto.
A economia erra muitas vezes nas suas previsões, porque está ensinando de um modo que privilegia o cálculo e esquece todos os outros aspectos humanos: sentimento, desejo, temor, medo. Quando há um problema na bolsa e as ações despencam, aparece um fator totalmente irracional que é o pânico, que faz com que o fator econômico tenha a ver com o humano, e por sua vez se liga à sociedade, à psicologia, à mitologia. Essa realidade social é multidimensional, o econômico é uma dimensão dessa sociedade, por isso, é necessário contextualizar todos os dados.
Se não houver conhecimentos históricos e geográficos para contextualizar, cada vez que aparece um acontecimento novo que nos faz descobrir uma região desconhecida, como o Kosovo, o Timor ou Serra Leoa, não entendemos nada.
Portanto, o ensino por disciplina, fragmentado e dividido, impede a capacidade natural que o espírito tem de contextualizar, é essa capacidade que deve ser estimulada e deve ser desenvolvida pelo ensino de ligar as partes ao todo e o todo às partes. Pascal dizia, já no século XVII: “Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes”.
Atualmente, o conhecimento deve se referir ao global. Os acidentes locais têm repercussão sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os acidentes locais, o que foi comprovado depois da guerra do Iraque, da guerra da Iugoslávia e atualmente com o conflito do Oriente Médio.
3. Ensinar a condição humana
O terceiro aspecto é a identidade humana. É curioso que nossa identidade seja completamente ignorada pelos programas de instrução. Podemos perceber alguns aspectos do homem biológico em Biologia, alguns aspectos psicológicos em Psicologia, mas a realidade humana é indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie. A sociedade está em nós, pois desde o nosso nascimento a cultura se imprime em nós.
Nós somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie é em nós e depende de nós. Se nos recusamos a nos relacionar sexualmente com um parceiro de outro sexo nós acabamos com a espécie. Portanto, o relacionamento entre indivíduo-sociedade-espécie é como a trindade divina, um dos termos gera o outro e um se encontra no outro. A realidade humana é trina.
Eu creio que se pode fazer convergir todas as ciências sobre a identidade humana. Um certo número de agrupamento disciplinar vai favorecer esta convergência. Assim, há a cosmologia, as ciências da terra, a ecologia e a pré-história. Nossa missão não é mais a de conquistar o mundo como acreditava Descartes, Bacon e Marx. Nossa missão se transformou em civilizar o pequeno planeta em que vivemos.
Este planeta é formado por fragmentos cósmicos de uma explosão de sóis anteriores e estes fragmentos aglomerados puderam criar uma tal organização para nos dar este planeta. Ele gerou a vida e a nós. A teoria da evolução nos prova como trazemos dentro de nós o processo de desenvolvimento da primeira célula vivente que se multiplicou e se diversificou. Quando sonhamos sobre nossa identidade, devemos pensar que temos partículas que nasceram no despertar do universo. Somos filhos do cosmo, mas nos transformamos em estranhos pelo nosso conhecimento e pela cultura.
Portanto, é preciso ensinar a unidade dos três destinos, porque somos indivíduos, mas somos um fragmento da sociedade e uma parte da espécie Homo sapiens, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe, a sociedade só vive dessas interações.
É importante, também mostrar que o ser humano é múltiplo. Voltaire, no século XVIII, disse: “Os chineses são iguais a nós, têm paixões, choram”. E o pensador alemão Herbart afirmou: “Entre uma cultura e outra não há comunicação, os seres são diferentes”. Os dois tinham razão, mas essas duas verdades têm que ser articuladas, nós temos os elementos genéticos da nossa diversidade e, é claro, os elementos culturais da nossa diversidade.
É preciso lembrar que rir, chorar, sorrir, não são atos aprendidos ao longo da educação, são inatos e modulados de acordo com a educação. Chegamos, então, ao ensino da literatura e da poesia. A literatura é para os adolescentes uma escola de vida e meio para se adquirir conhecimentos. As ciências sociais vêem categorias e não indivíduos sujeitos a emoções, paixões e desejos. A literatura, ao contrário, aborda o meio social, o familiar, o histórico e o concreto das relações humanas com uma força extraordinária.
A vida não é aprendida somente nas ciências formais e a literatura tem a vantagem de refletir a complexidade do ser humano e a quantidade incrível de seus sonhos. Como James Joyce, por exemplo, mostrava que uma pessoa pode ter sentimentos totalmente diversos. Ou como o herói de Dostoiévski, em O Idiota, que não sabe se a jovem está apaixonada por ele e no fim da trama, depois de ter sofrido muito, um amigo lhe diz: “mas que imbecil você é, não entendeu que ela o ama”. Isto pode acontecer com qualquer pessoa, a dificuldade de saber o que o outro pensa e sente.
Então, podemos compreender a complexidade humana através da literatura, enquanto que a poesia nos ensina a qualidade poética da vida, essa qualidade que nós sentimos diante de fatos da realidade. A vida é viver poeticamente na paixão, no entusiasmo.
Para que isso aconteça devemos fazer convergir todas as disciplinas conhecidas para identidade e para a condição humana, ressaltando a noção de Homo sapiens, o homem racional e fazedor de ferramentas, que é, ao mesmo tempo, louco e está entre o delírio e o equilíbrio, no mundo da paixão em que o amor é o cúmulo da loucura e da sabedoria.
Nós somos homo ludens pois não existe apenas o homo economicus que só vive em função do interesse econômico. Há, também o homo mitologicus, isto é, vivemos em função de mitos e crenças. Enfim, há o homem prosaico e poético, como dizia Hölderling: “O homem habita poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não poderíamos desfrutar da poesia”.
4. Ensinar a compreensão
O quarto aspecto é sobre a compreensão humana. Nunca se ensina sobre compreender uns aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos pais. O que significa compreender? A palavra compreender vem de compreendere em latim, que quer dizer: colocar junto todos os elementos de explicação, quer dizer, não ter somente um elemento de explicação, mas diversos.
Mas a compreensão humana vai além disso, porque na realidade ela comporta uma parte de empatia e identificação. Compreender alguém que chora, por exemplo, não é analisar as lágrimas no microscópio, mas saber o significado da dor, da emoção, por isso é preciso compaixão que quer dizer sofrer junto. É isto que permite a verdadeira comunicação humana.
Contudo, há os verdadeiros inimigos da compreensão, porque não existe a preocupação de ensiná-la. Na realidade, isto está se agravando, estamos vivendo numa sociedade individualista, que desenvolve o egocentrismo, o egoísmo e, consequentemente, alimenta a auto-justificação e a rejeição ao próximo.
A raiva leva a vontade de eliminar o outro e tudo que aborrece. De certa maneira, isto favorece ao que os ingleses chamam de self-deception, isto é, mentir para si mesmo, pois o egocentrismo vai tramando sempre o negativo e esquecendo dos outros elementos.
Outro aspecto da incompreensão é a indiferença que nos bloqueia a compreensão. Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.
Por isso, é importante este quarto ponto: compreender não só os outros como a si mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a auto-justificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão que é o câncer do relacionamento entre os seres humanos.
5. Ensinar a enfrentar a incerteza e o inesperado
O quinto aspecto é a incerteza, apesar de ensinar-se só as certezas: a gravitação de Newton, o eletromagnetismo. É necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na história o surgimento do inesperado. Eurípides dizia no fim de suas tragédias: “os deuses nos causam grandes surpresas, não é o esperado que chega e sim o inesperado que nos acontece”.
As ciências mantêm diálogos entre dados sobre os quais se podem basear hipóteses, outros que parecem mais prováveis e os incertos. Os processos físicos pressupõem variações que nos levam a desordem caótica ou para a criação de uma nova organização. Analisando a história da vida, constata-se que ela não foi linear, que não teve uma evolução de baixo para cima. A evolução segundo Darwin foi uma evolução composta de ramificações a exemplo do mundo vegetal e o mundo animal.
O homem vem de uma dessas ramificações e conseguiu chegar à consciência e à inteligência, mas não somos a meta da evolução, fazemos parte desse processo, o que quer dizer que a história da vida foi marcada por catástrofes.
Nenhuma sociedade antiga sobreviveu, nem mesmo o império romano que parecia eterno. Todas sofreram o colapso por uma razão ou outra. As sociedades andinas que eram mais potentes que seus colonizadores espanhóis e cujas capitais eram muita mais ricas que Paris, Madri ou Lisboa foram destruídas por espanhóis que chegaram com cavalos e armas desconhecidas.
Isto nos demonstra a necessidade de ensinar o que chamamos de ecologia da ação: a atitude que se toma quando uma ação é desencadeada e escapa ao desejo e às intenções daquele que a provocou, desencadeando influências múltiplas que podem desviá-las até o sentido oposto ao intencionado.
A história humana está repleta de exemplos dessa natureza. O mais evidente, no final do século XX, foi o projeto político de Gorbatchev que pretendeu reformar o sistema político da União Soviética, mas provocou o começo de sua própria desagregação e implosão.
Assim tem acontecido em todas as etapas da história, o inesperado aconteceu e acontecerá, porque não temos certeza nenhuma do futuro. As previsões não foram concretizadas, não existe determinismo do progresso. Portanto, os espíritos têm que ser fortes e armados para afrontarem essa incerteza e não se desencorajarem. Essa incerteza é uma incitação à coragem.
A aventura humana não é previsível. É necessário tomar consciência de que as futuras decisões devem contar com o risco do erro e estabelecer estratégias que possam ser corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se tem.
6. Ensinar uma consciência planetária
O sexto aspecto é a condição planetária, sobretudo na era da globalização do século XX, que começou, na verdade no século XVI com a colonização da América e a interligação de toda a humanidade. Esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que tudo está conectado, é outro aspecto que o ensino ainda não tocou, assim como o planeta e seus problemas, a aceleração histórica, a quantidade de informação que não conseguimos processar e organizar.
Este ponto é importante porque estamos num momento em que existe um destino comum para todos os seres humanos, com o crescimento da ameaça nuclear e da ameaça ecológica, a degradação da vida planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência de todos esses problemas, ela é tímida e não conduziu a uma decisão efetiva, por isso, devemos construir uma consciência planetária.
Conhecer o nosso planeta é difícil: os processos econômicos, ideológicos, sociais estão de tal maneira imbricados e são tão complexos que é um verdadeiro desafio para o conhecimento. Mas, é preciso ensinar que não é suficiente reduzir a um só problema a complexidade do planeta como a demografia, ou a escassez de alimentos, ou a bomba atômica ou a ecologia.
Os problemas estão todos amarrados uns aos outros. Sobretudo, há, daqui em diante, os problemas de vida e morte para a humanidade, como a arma nuclear, como a ameaça ecológica, como o desencadeamento dos nacionalismos acentuados pelas religiões. É preciso mostrar que a humanidade vive agora um destino comum.
7. Ensinar a ética da humanidade (antropo-ética)
O último aspecto eu vou chamar de antropo-ético, porque os problemas da moral e da ética diferem entre culturas e na natureza humana. A antropo-ética corresponde ao ser humano desenvolver: autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), participação social (as responsabilidades sociais) e participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum.
A antropo-ética tem um lado social: ela só tem sentido na democracia, porque na democracia o cidadão deve se sentir solidário e responsável e permite uma relação indivíduo-sociedade. A democracia em princípio deve controlar, o controlado passa a controlar quem controlava e deve tomar para si responsabilidades por meio de eleições o que permite aos cidadãos exercerem suas responsabilidades.
Evidentemente, não existe democracia absoluta, ela é sempre incompleta, mas sabemos que vivemos em uma época de regressão democrática porque existe, cada vez mais, o poder tecnológico que agrava os problemas econômicos. Na verdade, é importante orientar e guiar essa tomada de consciência social que leva à cidadania para que o indivíduo exerça sua responsabilidade.
Por outro lado, está se desenvolvendo a ética do ser humano com as associações não-governamentais, como os Médicos Sem Fronteiras, o Green Pace, a Aliança pelo Mundo Solidário e tantas outras que trabalham acima de denominações religiosas, políticas ou de Estados nacionais assistindo aos países ou às nações que estão sendo ameaçadas ou em graves conflitos. Devemos conscientizar todos dessas causas tão importantes, pois estamos falando do destino da humanidade.
Seremos capazes de civilizar a terra e fazer com que ela se torne uma verdadeira pátria? Estes são os sete saberes necessários a ensinar. Não digo isso para modificar programas. Não temos que destruir disciplinas, mas integrá-las, reuni-las umas às outras em uma ciência articulada em uma concepção sistêmica da terra. Penso que tudo deve estar integrado, para permitir uma mudança de pensamento que concebe tudo de uma maneira fragmentada e dividida e impede de ver a realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes.
Hoje, que o planeta já está ao mesmo tempo unido e fragmentado começa a se desenvolver um ética do gênero humano para que possamos superar esse estado de caos e começar, talvez, a civilizar a terra.
Fonte
- MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. [tradução Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya]. 6ª ed., São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2002.
(*) FRANÇA, Fagner Torres de; DANTAS, Eugênia Maria; OLIVEIRA, Josineide Silveira de. Edgard Morin – lições de um centenário. A Terra é redonda, 8 jul 2021.
Saiba mais
- A Teoria da Compreensão na educação, de Kieran Egan
- Teoria da aprendizagem significativa, de David Ausubel