A lousa e o giz é uma das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) mais antigas em todo mundo e a mais conhecida pelos professores. Tão antigas e familiares que raramente um curso de magistério ou licenciatura ensinam a utilizá-las, talvez por achá-las simples ou óbvias demais. O professor utiliza esses recursos reproduzindo o que viu outros professores fazerem e estes, por sua vez, também imitaram outros numa sucessão infinita de aprendizagem por imitação. A lousa branca e a eletrônica parecem que estão seguindo na mesma tradição.
Como tudo começou
A grande lousa fixa na parede de frente para os alunos é uma invenção relativamente recente. Pequenas placas polidas de ardósia (uma pedra escura hoje usada como piso) foram usadas durante séculos pelos alunos, em casa ou em sala de aula, para praticar leitura, escrita e matemática. Facilmente apagáveis, eram um substituto barato para o papel e a tinta – recursos caros para serem desperdiçados. Em 1800, James Pillans, diretor da Escola Superior de Edimburgo, na Escócia, querendo mostrar mapas maiores nas aulas de geografia teve a ideia de unir várias placas de ardósia formando um grande quadro. No ano seguinte, Goerge Baron, professor de matemática, fez a mesma coisa para escrever equações e fórmulas a um público maior. A partir de então, o uso dessas lousas de pedra espalhou-se rapidamente. Em 1809, todas as escolas públicas da Filadélfia, nos Estados Unidos, já adotavam a nova tecnologia.
Os professores agora tinham um recurso visual versátil, que era tanto livro (quando preenchido) quanto uma página em branco, ou melhor, em preto. E, o mais importante, tinham um ponto de foco, que atraia e mantinha a atenção dos alunos. O quadro negro, como passou a ser chamado, ilustra e é ilustrado. Os alunos não somente ouviam o professor, mas também viam o que ele falava. A partir de 1840, quadros negros foram fabricados comercialmente.
Surgiram substitutos para a ardósia: tábuas de pinho pregadas lado a lado e cobertas com uma mistura de clara de ovo e restos de carbono obtido de batatas carbonizadas até chapas de aço revestida com esmalte que podiam durar de 10 a 20 anos. Por volta de 1930, começou a aparecer a lousa pintada de verde que reduzia o brilho e era mais confortável para os olhos.
O apagador como nós conhecemos – um bloco de madeira com feltro – surgiu no final do século XIX. Antes dele, limpava-se a lousa com um pano seco. Limpar a lousa poderia ser um castigo ou um prêmio, dependendo do professor mas, de qualquer maneira, sempre provocando uma enorme nuvem de poeira nada saudável para o pulmão.
Ser chamado ao quadro negro, na frente da classe, era um terror ou o supremo reconhecimento da inteligência. O professor entregava um pedaço de giz ao aluno e pedia-lhe para escrever a tabuada, resolver uma equação, escrever uma palavra ou separar as sílabas, desenhar uma molécula ou qualquer outro exercício que avaliava em público o aprendizado. O quadro negro podia servir também de castigo para o aluno indisciplinado escrever dezenas de vezes uma determinada frase, quase sempre no horário do recreio. A cena ficou tão gravada no imaginário escolar que ainda hoje aparece nos cartuns (Calvin), nos desenhos animados (Os Simpsons), no cinema (Harry Porter) e nos programas humorísticos da televisão (Escolinha do Professor Raimundo).
Quadros negros com registros de aula de cem anos
Durante a reforma da escola, na cidade de Oklahoma, EUA, os trabalhadores encontraram atrás dos quadros negros, outros, mais antigos e que ainda possuíam as explicações e os desenhos feitos a giz pelo professor. Uma raridade. Veja a reportagem aqui.
Sabendo usar essa tecnologia
O quadro é o ponto de atenção da aula. Como não lembrar da aula de química em que professor e giz, perfeitamente sincronizados, explicam e desenham o átomo e, de repente, o giz aponta o centro no exato momento que o professor diz “núcleo”. Quanta tecnologia, didática e conhecimento prático existem nesse exemplo de uso da lousa e do giz?
Longe de serem ultrapassadas, essas tecnologias simples e de baixo custo exigem técnica e conhecimento pedagógico para se tornarem eficientes. São um poderoso recurso didático de visualização do conteúdo mas, para isso, é preciso que o professor tenha claro que conteúdo o aluno vai visualizar na lousa.
Preencher a lousa inteira (ou mais de uma!) com textos que os alunos devem copiar no caderno está longe de ser pedagógico. Nada justifica essa atitude nos dias de hoje diante das facilidades de impressão, de pesquisa na Internet ou de projeção em Power Point. Se sabemos que o aluno nada aprende quando usa o Ctrl+C e Ctrl+V na Internet, por que alguns professores ainda insistem encher a lousa com textos intermináveis ameaçando com o apagador os alunos mais lentos?
A lousa e o caderno do aluno não são espaços para armazenar informação. Estes são espaços privilegiados para sistematizar e organizar de forma sequencial e lógica o conteúdo aprendido. No caso de uma aula de História, por exemplo, a lousa serve para registrar as informações essenciais do tema (conceitos, nomes, datas, fatos, estruturas, conjuntura), sempre em poucas palavras e, o mais importante, marcando as relações que existem entre as informações dadas. O registro deverá ser claro e didático permitindo ao aluno, ao final da aula, visualizar o conteúdo ensinado, isto é, recompor mentalmente toda a trajetória de explicação do professor. A boa lousa é aquela que os alunos querem fotografar com o celular.
Para isso, é preciso cuidar da estética da lousa. Todos os detalhes interferem para uma boa leitura e compreensão: letra (formato e tamanho), cores de giz, hierarquia de títulos e subtítulos, alinhamento e espaçamento das frases, desenhos (gráfico, esquema, mapa, tabela, ilustração etc). Dá trabalho, requer planejamento e muito treino. Saber usar a lousa é trabalho para profissional, exige que o professor prepare bem sua aula e decida o que vai escrever na lousa. Por isso, professor, aprenda a fazer mapas mentais e mapas geográficos esquematizados ou busque modelos nos livros didáticos e treine muito para desenhar na lousa com segurança.
Tenha um padrão de uso e organização da lousa. Isso criará um hábito de leitura da lousa pelo aluno que saberá de antemão sua metodologia de uso desse recurso. Uma sugestão: divida a lousa em 3 ou 4 partes. Destine a parte central para a explicação do conteúdo propriamente dito. A parte lateral deixe para informações “fixas”: datas (do dia, da entrega de trabalho, prova final etc), título do tema, capítulo e página do livro, conceitos.
Se possível, elabore sua aula de maneira que toda a explicação possa caber na lousa sem precisar apagar para escrever uma nova informação. Mas, se for imprescindível apagar a lousa, use o apagador de cima para baixo, direcionando a poeira do giz para o aparador que fica na base do quadro.
Conclusão
A lousa e o giz são um dos mais úteis, práticos e simples recursos visuais para o ensino-aprendizagem. Por isso continuam presentes em todas escolas, das mais pobres às mais sofisticadas onde convivem lado a lado com recursos digitais inovadores.
É o espaço privilegiado de esquematizações e representações do conteúdo ensinado facilitando ao professor mostrar relações e sequencias, destacar características, identificar semelhanças e diferenças, reforçar conceitos ou fórmulas.
Longe de ser um recurso ultrapassado, a lousa é a superfície do pensamento do professor.
Fonte
- Adrian Doff. Teach English Trainer’s Handbook: a training course for teachers. Disponível aqui.
- Lewis Buzbee. Blackboard: a personal history of the classroom. Disponível aqui.
Faço uso do quadro branco, mesmo porque a realidade da Escola que trabalho esta longe de se encaixar nos padrões ditos de tecnologia. Mas, digo que, saber usar esse recurso é muito bom. Não gosto de encher o quadro, gosto de esquematizar a aula, e resumir o máximo possível, e também o utilizo fazendo desenhos esquemáticos. Muito bom.
Procuro em minhas aulas apresentar aulas com formas diferenciadas ( apresentação de vídeos, esquemas em PowerPoint) porém quando necessito elaborar esquemas apresento em forma de tópicos, brainstorm ( tempestade de idéias), gráfico plus-delta (+ e-) … Isso facilita nosso trabalho e faz com que os alunos não se cansem de nossas aulas.
Esse dinamismo é essencial para o bom andamento das aulas. Parabéns.
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