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Retirada do exército de Napoleão da Rússia

19 de outubro de 1812

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Em 19 de outubro de 1812, após cinco semanas  acampado sobre as cinzas de Moscou, o imperador francês Napoleão Bonaparte decidiu iniciar o retorno à França. Ele havia entrado na capital do Império Russo em 14 de setembro e, desde então, esperava por um pedido de rendição ou paz que nunca chegou. Seu exército de 685 mil homens, em junho de 1812 (RIEHN, 1991) – o maior exército reunido até aquele momento na história da Europa – estava reduzido a 77 mil homens enfraquecidos e com moral baixa (¹). As linhas de abastecimento foram cortadas.

Junto aos soldados, seguiram carroças carregadas de peles, prata, porcelana e seda – fruto dos saques.

“Napoleão se retirando de Moscou”, por Adolphe Northen (1828-1876).

Campanha da Rússia: o início

A campanha da Rússia começou na madrugada do dia 24 de junho de 1812, quando o grande exército napoleônico atravessou a fronteira e invadiu a Rússia sem avisos ou declarações formais de guerra. Em 16 de agosto, atacou Smolensk. A ação foi um golpe nos planos do czar Alexandre I que estava organizando seu exército.

A vitória de Smolensk deixou Napoleão otimista e ele avançou perseguindo o exército russo que recuava. A partir de então, os russos empregaram a política de terra arrasada destruindo aldeias, cidades e plantações e forçando os invasores a confiar em um sistema de suprimentos incapaz de alimentar seu grande exército no campo.

Finalmente, na manhã de 7 de setembro de 1812, o exército russo enfrentou os franceses na batalha de Borodino, a menos de 150 km de Moscou. Os efetivos militares em combate eram maiores do lado francês:

  • Força francesa: 135 mil homens e 587 canhões.
  • Força russa: 155 mil homens e 640 canhões.

Foram 16 horas de confronto ininterrupto, o que transformou Borodino na maior batalha de um dia das guerras napoleônicas. Os russos foram derrotados perdendo 66 mil homens, incluindo 29 generais entre eles o célebre general Bagration.  Napoleão amargou 58 mil mortos, incluindo 48 generais.

Napoleão rumou para Moscou onde tinha certeza de poder se reabastecer. Entrou na capital no dia 14 de setembro e encontrou a cidade surpreendentemente vazia, evacuada dias antes, prevendo a invasão. As linhas de abastecimento estavam cortadas. Enquanto Napoleão acampado esperava a rendição do czar, seus soldados famintos e indisciplinados  saqueavam tudo que encontravam e destruíam o que não podiam levar. A cidade ficou uma pilha de escombros.

Retorno das tropas: o desastre

Napoleão teve que reavaliar as opções e, após cinco semanas de espera decidiu voltar à França em 19 de outubro. Começava, então, o dramático episódio do retorno das tropas napoleônicas.

24 de outubro…

Quando os soldados franceses procuravam suprimentos em Maloyaroslavets, a 121km de Moscou, foram surpreendidos pelas tropas russas em 24 de outubro de 1812.  Ali os franceses perderam cerca de 6.000 soldados, enquanto os russos, 4.412 homens e além de 2.753 desertores. Mais da metade das unidades de infantaria russas eram compostas por recrutas inexperientes.

As tropas francesas seguiram em direção à fronteira polonesa.

4 de novembro…

Uma neve pesada começou a cair sobre os franceses subnutridos em 4 de novembro. Falta de comida e de forragem para os cavalos, hipotermia do frio intenso e os persistentes ataques de guerrilha de grupos isolados de camponeses e cossacos russos levaram a grandes perdas humanas e minaram a disciplina e coesão do Grande Exército de Napoleão.

9 de novembro…

No dia 9 de novembro a temperatura caiu para –26°C e continuava abaixando. O frio penetrava nas roupas esfarrapadas dos soldados e se somava à exaustão. Muitos mal conseguiam andar com neve até os joelhos. Cair significava não levantar mais devido a fraqueza das tropas.

O sentimento de “cada um por si” espalhou-se pelas tropas francesas. As armas e bagagens de saque, agora inúteis e inoportunas, eram abandonadas pelo caminho. Os cadáveres congelados espalhavam-se aos milhares pelas estradas, vilas abandonadas e florestas. Lutar contra o exército russo deixou de ser o foco de preocupação, somente o desejo cego de fugir estimulava o restante do exército francês.

26 de novembro…

No dia 26 de novembro, sob um frio de –38 °C,  os soldados franceses remanescentes atingiram o rio Berezina (na atual Bielorússia). O exército principal de Napoleão reduzira-se a apenas 40.000 soldados. Os russos os aguardavam na ponte e, por trás, aproximava-se o exército do marechal russo Kutuzov totalizando 60.000 soldados.

Napoleão enviou seu corpo de engenharia para construir uma ponte improvisada sobre o semi-congelado Berezina. Quando os russos perceberam, abriram fogo (28/11). Napoleão perdeu quase metade de seus homens, muitos dos quais só foram encontrados com o degelo da primavera. Mesmo no limite de suas forças, os franceses conseguiram abater 10 mil russos.

14 de dezembro…

No dia 14 de dezembro, o que restou do Grande Exército conseguiu cruzar o rio Nemen e entrar na Polônia. A tropa principal reduzira-se a 22.000 soldados. A data de 14 de dezembro de 1812 marca o fim da épica campanha da Rússia,  evento histórico que grande importância na cultura e no nacionalismo russo que inspirou obras como Guerra e Paz, de Liev Tolstoi, e na composição Abertura 1812, de Tchaikovsky, em centenas de pinturas e até na sua identificação com a invasão alemã de 1941-1945.

Batalhas de Napoleão Bonaparte

No sentido horário, do canto superior esquerdo: “Batalha de Borodino”, 7 de setembro de 1812, por Louis Lejeune (1822); “O fogo de Moscou”, de Albrecht Adam; “Marechal Ney na retaguarda na batalha de Kaunas”, por Auguste Raffet (1812); “Retirada francesa”, de Illarion Pryanishnikov .

O engano de Napoleão

A marcha até Moscou não estava nos planos iniciais de Napoleão Bonaparte, que acreditava ser possível obter uma vitória decisiva sobre o exército russo logo nas primeiras semanas, no máximo em setembro, no final do verão. Não foi o que aconteceu e ele foi surpreendido pelo congelante inverno russo.

Além do inverno e da fome, doenças e deserções levaram a grandes perdas. O corpo principal do Grande Exército de Napoleão diminuiu em 1/3 nas primeiras oito semanas da campanha, antes da batalha principal ser travada. Essa perda de força deveu-se em parte às deserções, à necessidade de guarnecer os centros de suprimentos, às vítimas sofridas em ações menores e a doenças como difteria, disenteria e tifo.

A campanha da Rússia foi um ponto de virada nas guerras napoleônicas. Foi a maior e mais sangrenta das campanhas napoleônicas, envolvendo mais de 1,5 milhão de soldados, com mais de 500.000 baixas francesas e 400.000 russas. A reputação de Napoleão foi abalada e a hegemonia francesa na Europa enfraqueceu-se drasticamente. Muitos países se rebelaram. Era o fim do sonho napoleônico de dominar a Europa.

——–

(¹) O número de soldados que Napoleão levou para a Rússia varia muito conforme o autor: 450 mil, 550 mil, 600 mil até 685 mil soldados. Qualquer que seja o número exato, é geralmente aceito que a esmagadora maioria deste grande exército, francês e aliado, permaneceu, em uma condição ou outra, dentro da Rússia.

 batalha de Borodino

Napoleão assiste a batalha de Borodino (7 de setembro de 1812). A batalha terminou com a retirada das forças russas. Napoleão continuou avançando em território inimigo por mais quarenta dias até decidir retornar em 19 de outubro de 1812.

Fonte

  • RIEHN, Richard K. 1812: Napoleon Russian Campaign. Nova York: Wiley, 1991.
  • LIEVE, Dominic. A Rússia contra Napoleão. A batalha pela Europa, de 1807 a 1814. sâo Paulo:  Manole, 2014.
  • ZAMOYSKI, Adam. 1812, a marcha fatal de Napoleão rumo a Moscou. Record, 2013.

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