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Massacre de Tlatelolco contra estudantes, Cidade do México

02 de outubro de 1968

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Em 2 de Outubro de 1968, milhares de estudantes que protestavam contra o governo do presidente mexicano Gustavo Dias Ordaz foram agredidos pelas forças militares com carros blindados e tanques que abriram fogo contra a multidão. O massacre ocorreu na Praça das Três Culturas, em Tlatelolco, na cidade do México, apenas dez dias antes do início dos Jogos Olímpicos de 1968, disputados nessa mesma cidade.

Movimento estudantil mexicano

O episódio foi o ponto culminante de uma série de manifestações do movimento estudantil mexicano de 1968, movimento social composto por uma ampla coalizão de estudantes das principais universidades do México que conquistou amplo apoio público para mudanças políticas no México. Um fator importante em seu surgimento público foi o gasto generoso do governo mexicano para construir instalações olímpicas para as Olimpíadas na Cidade do México (de 12 a 27 de outubro).

O movimento exigia maiores liberdades políticas e o fim do autoritarismo do regime do PRI (Partido Revolucionário Institucional), que estava no poder há quase quarenta anos (desde 1929) e era apoiado pelos Estados Unidos.

Os esforços dos estudantes universitários para mobilizar o povo mexicano por amplas mudanças na vida nacional foram apoiados por muitos setores da sociedade civil mexicana, incluindo trabalhadores, camponeses, donas de casa, comerciantes, intelectuais, artistas e professores.

O movimento tinha uma lista de reivindicações para o presidente mexicano Gustavo Díaz Ordaz sobre questões estudantis específicas, bem como outras mais amplas, especialmente a redução ou eliminação do autoritarismo. As demandas no México eram por uma mudança democrática no país, mais liberdades políticas e civis, a redução da desigualdade social e até a renúncia do governo do PRI.

O governo mexicano queria mostrar seu progresso econômico ao mundo sediando as Olimpíadas de 1968 na Cidade do México, o que poderia atrair investidores internacionais. O crescimento econômico, porém, não havia sido distribuído a toda população, e o país vivia sob um regime autoritário. Para os estudantes, contudo, havia outras prioridades para o país.

A escalada dos conflitos no México

Durante o verão de 1968, a oposição às Olimpíadas cresceu e houve grandes manifestações contra os jogos. Os estudantes reivindicavam: No queremos Olimpiadas, queremos revolución ” (Não queremos Jogos Olímpicos, queremos uma revolução).

Em 22 e 23 de Julho de 1968, ocorreu um confronto entre estudantes secundaristas que acabou com a intervenção policial-militar e a prisão de vários alunos.

No dia 26 de julho de 1968, ocorreram duas manifestações estudantis simultâneas, uma para protestar contra o ataque aos estudantes, a outra em solidariedade à Revolução Cubana organizada pelos Estudiantes Democráticos, uma organização juvenil comunista. As duas manifestações se cruzaram e se juntaram, marchando até o Zócalo, a praça central da Cidade do México. No entanto, foram impedidos de entrar na praça central pela polícia montada.

Nos dias seguintes, os estudantes se manifestaram nas ruas do centro da Cidade do México e atearam fogo em ônibus vazios. Durante esse período, centenas ficaram feridos e talvez mil foram presos.

Estudantes mexicanos em um ônibus queimado durante um dos confrontos de rua, Cidade do México, 28 de Julho de 1968.

No dia 1° de agosto de 1968, o reitor da Universidade Autônoma do México (UNAM), liderou 50 mil estudantes num protesto pacífico contra as ações repressivas do governo e a violação da autonomia universitária. O percurso da marcha começou na Cidade Universitária e percorreu avenidas do centro. A marcha ocorreu sem grandes distúrbios e prisões. A ordem da manifestação demonstrou ao público mexicano que os estudantes não eram agitadores.

Os estudantes de 70 universidades  e escolas preparatórias (equivalente ao Ensino Médio) formaram o Conselho Nacional de Greve (Consejo Nacional de Huelga ou CNH), que coordenou protestos para promover reformas sociais, educacionais e políticas. O CNH organizou todos os protestos seguintes contra o governo Díaz Ordaz.

No dia 13 de setembro, o CNH fez a Marcha do Silêncio – uma manifestação silenciosa com o objetivo de provar que o movimento não era de agitadores, mas tinha disciplina e autocontrole.

No final da tarde de 23 de setembro, a polícia e o exército invadiram o campus universitário politécnico para desalojar os estudantes. A intervenção resultou em 12 horas de combate desigual: pistolas calibre 22 contra fuzis militares M-1, bazucas contra coquetéis molotov. Houve mortos e muitas prisões.

O exército usou até bazucas para forçar os estudantes a desocuparem o campus da universidade. Fontes independentes relataram 15 mortos, enquanto o governo afirmou que foram apenas 4.

Massacre de Tlatelolco

Em 2 de outubro de 1968, cerca de 10.000 estudantes universitários e do ensino médio se reuniram na Plaza de las Tres Culturas, em Tlatelolco, para protestar contra as ações do governo e ouvir pacificamente os discursos. Muitos homens e mulheres não associados ao CNH se reuniram na praça para assistir e ouvir; eles incluíam famílias residentes no Edifício Chihuahua, um complexo de apartamentos de treze andares e três módulos.

Estudantes reunidos na Plaza de las Três Culturas em 2 de outubro de 1968, poucas horas antes do massacre. Foto feita do Edifício Chihuahua.

Os estudantes gritavam seu lema “No queremos olimpiadas, queremos revolución! quando helicópteros da polícia e do exército sobrevoaram a praça. Por volta das 18 horas, 5.000 soldados e 200 tanques das Forças Armadas Mexicanas avançaram contra os estudantes. O que ocorreu depois dos primeiros tiros disparados na praça permaneceu mal definido por décadas após 1968.

O ataque deixou dezenas de mortos e feridos. Os soldados atiraram nos prédios próximos e na multidão, atingindo não apenas os manifestantes, mas também observadores e transeuntes, incluindo  jornalistas e crianças atingidos por balas. Montes de corpos logo estavam no chão.

O governo mexicano e a mídia alegaram que as Forças Armadas foram provocadas por manifestantes atirando contra elas, mas documentos governamentais tornados públicos desde 2000 sugerem que atiradores de elite foram empregados pelo governo.

O número de mortes é contestado. De acordo com os arquivos de segurança nacional dos EUA, a analista americana Kate Doyle documentou a morte de 44 pessoas; no entanto, as estimativas do número real de mortos variam de 300 a 400, com testemunhas oculares relatando centenas de mortos. Além disso, o chefe da Direção Federal de Segurança relatou que 1.345 pessoas foram presas.

A maioria dos corpos foi retirada da praça e jogada de helicópteros no Golfo do México, um método de extermínio que seria amplamente utilizado mais tarde pela Operação Condor nas ditaduras do Chile e da Argentina que aconteceram depois. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pelos assassinatos de Tlatelolco.

O PRI continuou governando o México até o ano 2000, quando foi derrotado nas eleições daquele ano. Voltou ao poder em 2012, mas foi novamente derrotado em 2018. Atualmente o México é governado por Cláudia Sheinbaum, a primeira mulher a ser eleita presidente do país, e que integra o Movimento Regeneração Nacional, partido de esquerda.

No primeiro pronunciamento de Claudia Sheinbaum à frente do país, foram discutidos os atos de violência cometidos em 2 de outubro de 1968 pelo então presidente do México, Gustavo Díaz Ordaz. Ela se comprometeu, como Comandante Suprema das Forças Armadas, a não permitir que as estruturas militares sejam utilizadas para atacar o povo mexicano e a não repetir as atrocidades e atos de repressão contra a população (Fernando D’Ávila).

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