Em 28 de abril de 1945, o ditador fascista Benito Mussolini (62 anos) e sua amante Clara Petacci (33 anos) foram fuzilados por partisans italianos (membros da resistência antifascita) em um pequeno vilarejo no norte da Itália.
Seus corpos foram levados para Milão e pendurados pelos pés, em uma viga, de cabeça para baixo, na Piazzale Loreto. Ali ficaram expostos à multidão enfurecida que gritava insultos e atirava objetos nos cadáveres. O rosto de Mussolini ficou desfigurado pelos golpes.
A execução de Mussolini foi o último ato do declínio político do líder fascista que já durava um ano e meio, desde sua derrubada em julho de 1943.
A queda de Mussolini: julho de 1943
Mussolini foi derrubado e preso em 25 de julho de 1943, sendo substituído por Pietro Badoglio. O descontentamento com Mussolini era tão intenso que, quando a notícia de sua queda foi anunciada no rádio, as pessoas se alegraram porque acreditavam que isso traria o fim da guerra.
A prisão de Mussolini durou menos de dois meses. Em 12 de setembro, ele foi libertado pelos paraquedistas alemães da SS do hotel-prisão no Gran Sasso, na Itália central. O resgate salvou Mussolini de ser entregue aos Aliados de acordo com o armistício.
Três dias após seu resgate, Mussolini foi levado à Alemanha para um encontro com Hitler em Rastenburg, em seu quartel-general na Prússia Oriental. Apesar das declarações públicas de apoio, Hitler estava claramente chocado com a aparência desleixada e abatida de Mussolini, bem como sua relutância em ir atrás dos homens em Roma que o derrubaram.
Por cerca de um ano e meio, Mussolini viveu em Gargnano, no Lago Garda, na Lombardia, norte da Itália. Embora ele insistisse publicamente que estava no controle total, ele sabia que não passava de um governante fantoche sob a proteção dos alemães. Na verdade, ele vivia sob o que equivalia a uma prisão domiciliar pela SS, que restringia suas comunicações e viagens.
Em 21 de abril de 1944, Hitler convoca Mussolini para uma reunião. Mussolini, que estava deprimido e cansado do curso que a guerra havia tomado, apenas ouve o líder nazista. Na reunião, Hitler diz que cientistas alemães estavam preparando armas que mudariam o cenário da guerra. Quando Mussolini pediu a Hitler que lhe desse mais detalhes, este apenas lhe disse para ter confiança no que seus homens estavam preparando.
Mussolini, porém, não ficou atrás: alguns meses depois, começaria a falar de uma “arma secreta” italiana conhecida como o “raio da morte” que Marconi, o inventor do rádio, havia inventado nos anos 1930. Contudo, nenhuma arma nova apareceu.
O fim de Mussolini: abril de 1945
No dia 22 de abril, Mussolini daria sua última entrevista perante uma centena de oficiais da Guarda Republicana, reunidos no pátio da prefeitura de Milão. Foi, na verdade, um monólogo do Duce sobre o fascismo, o nazismo e a guerra. Falou sobre seu projeto de “socialização mundial” e seu desejo de paz que teria sido impedido.
“Não sei se Churchill é, como eu, calmo e sereno. Lembre-se bem: assustamos o mundo dos grandes negócios e dos especuladores. Eles não queriam que tivéssemos a chance de viver. Se os acontecimentos dessa guerra tivessem sido favoráveis ao Eixo, eu teria proposto ao Führer a socialização mundial uma vez obtida a vitória.” (Mussolini, última entrevista, 20.04.1945).
Em 23 de abril, as tropas aliadas entraram na cidade de Parma e, no dia seguinte, libertaram Gênova. A rápida aproximação dos aliados, fez Mussolini decidir por deixar Milão, o que ele fez na noite, do dia 25 de abril. Seguiu na direção da cidade de Como acompanhado pelo tenente Birzer e seus homens, encarregados por Hitler de escoltar Mussolini aonde quer que ele fosse.
A cidade de Como parecia um refúgio seguro e isolado para esconder-se. Não foi, porém, o que Mussolini e sua escolta encontraram e na madrugada do dia 26 seguiram para o norte. Enquanto isso, em Milão, ocorria uma insurreição geral contra as forças nazi-fascistas e o jornal Corriere della Sera anunciava em primeira página: “Mussolini desaparece de Milão depois de dramáticas prevaricações”.
Enquanto isso, Mussolini e comitiva viajavam em caminhões onde se escondiam mais de cinquenta pessoas: todos membros do governo fascista além de suas esposas e filhos. Mussolini disfarçava-se usando um traje de baixa patente militar.
Por volta das 16h do dia 27 de abril, próximo à cidade de Dongo, os veículos foram detidos por guerrilheiros da Resistência antifascita italiana. Mussolini foi reconhecido sob a bancada do caminhão. Foi prontamente desarmado de sua metralhadora e pistola Glisenti, preso e teve sua maleta confiscada.
Todos os outros membros da comitiva também foram presos. Alguns se renderam espontaneamente, outros ofereceram dinheiro e objetos de valor para comprar a liberdade. Os ocupantes de um carro blindado tentaram resistir iniciando um tiroteio. Alguns tentaram fugir pulando no lago.
No dia seguinte, 16 entre os mais proeminentes expoentes do regime, foram fuzilados sumariamente na beira do lago de Dongo; nas duas noites seguintes, outros dez prisioneiros foram mortos.
Não demorou para chegar, em Milão, a notícia da prisão de Mussolini. Os guerrilheiros temiam um golpe fascista para tentar libertar Mussolini, ou alguma tentativa dos Aliados de se apoderar dele (a 34ª Divisão dos Estados Unidos estava chegando a Dongo). Por isso, nas horas seguintes, Mussolini e Clara Petacci foram transferidos para diferentes esconderijos.
Por volta das 3h da madrugada do dia 28 de abril, Mussolini de Clara Petacci foram alojados em Bonzanigo. O que se passou a partir desse momento, tem inúmeras histórias e versões. A versão histórica ou oficial é o resultado dos depoimentos prestados pelos três executores. São versões diferentes, mas concordam na forma como foi feita a execução, diferindo nas atitudes e palavras faladas.
O casal foi levado até Villa Belmonte, uma graciosa residência de férias, e ali foram metralhados no portão da residência. Segundo uma das versões, as últimas palavras de Mussolini – em óbvia deferência à sua personalidade egocêntrica – foram:
Atirem aqui (apontando para o peito). Não destruam meu perfil.
A exposição dos corpos em Milão
Os corpos de Mussolini, Clara Petacci e outros 16 baleados foram carregados em um caminhão; um pano foi estendido sobre eles no qual os guerrilheiros se sentaram durante a viagem. O veículo partiu para Milão por volta das 18h onde chegou na madrugada do dia 29 de abril.
Os 18 corpos foram jogados no chão da Piazzale Loreto. Ao amanhecer, os primeiros transeuntes notaram os corpos e logo a praça lotou de gente. A confusão se fez: os cadáveres foram pisoteados e desfigurados. Muitos insultaram, zombaram, cuspiram, chutaram e urinaram sobre os cadáveres. Uma mulher disparou cinco tiros contra o cadáver de Mussolini para vingar seus cinco filhos mortos na guerra. Um estandarte fascista foi colocado na mão de Mussolini para zombaria.
Uma equipe de bombeiros chegou com um caminhão cisterna que lavou abundantemente os cadáveres manchados de sangue, cuspe, urina e lixo. Os bombeiros arrastaram os sete cadáveres mais conhecidos para longe do centro da praça, içando-os pelos pés até a marquise do posto de gasolina Esso que ficava próximo, deixando-os pendurados de cabeça para baixo. Entre os corpos estavam o de Mussolini e Clara Petacci.
Numerosos fotógrafos e cinegrafistas registraram a cena.
Enterro, roubo, ocultação e novo enterro do cadáver
Já era madrugada quando oficiais militares americanos chegaram à cidade e ordenaram que os corpos fossem retirados e levados ao necrotério da cidade para autópsia. Amostras do cérebro de Mussolini foram extraídas e enviadas para os Estados Unidos para análise. Pretendia-se investigar a hipótese de que a sífilis havia causado sua insanidade, mas nenhuma evidência de sífilis foi encontrada no corpo.
Mussolini foi enterrado em uma cova sem nome no cemitério de Milão. Porém, em 1946, seu corpo foi desenterrado e roubado por apoiadores fascistas. Durante quatro meses, foi levado de um local para outro enquanto as autoridades o procuravam.
Em agosto, o corpo foi localizado em Pavia, próximo a Milão, e levado para um esconderijo onde ficou nos onze anos seguintes. O paradeiro do corpo permaneceu em segredo inclusive para a família de Mussolini.
Em maio de 1957, o primeiro-ministro italiano Adone Zoli, conhecido por suas ligações com a extrema-direita, autorizou que os restos mortais de Mussolini fossem entregues para serem enterrados na cripta da família, na sua cidade natal, Predappio, no centro da Itália.
O mausoléu de Mussolini tornou-se um lugar de peregrinação para os neofascistas que ali se encontram no dia 28 de abril, aniversário de morte do Duce. Uma caminhada acontece entre o centro da cidade e o cemitério, são proferidos discursos, cantos e saudações fascistas. Em abril de 2009, as autoridades municipais baniram a venda de recordações fascistas na cidade.
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