Em 3 de fevereiro de 1488, o navegador português Bartolomeu Dias, depois de treze dias navegando em direção sudoeste, virou para o norte e conduziu a frota para leste conseguindo a façanha que parecia impossível: transpôs o Cabo das Tormentas, o ponto mais extremo do continente africano e entrou no Oceano Índico. Havia contornado a África.
A façanha de Bartolomeu Dias foi o resultado de um enorme esforço coletivo de Portugal para chegar às Índias, desde a tomada de Ceuta, em 1415, e sob estímulo do infante D. Henrique. Quando este morreu, em 1460, os marinheiros portugueses ainda não tinham chegado ao Golfo da Guiné, na África Ocidental.
A viagem de Bartolomeu Dias
Em agosto de 1487, Bartolomeu Dias deixou Lisboa com duas caravelas (a sua própria São Cristóvão e a São Pantaleão) e um navio de abastecimento. A expedição incluía alguns dos principais pilotos da época, entre eles Pêro de Alenquer e João de Santiago, que anteriormente tinha navegado com Diogo Cão.
A missão de Dias era continuar a exploração da costa africana, como demonstra as embarcações escolhidas – caravelas em vez de naus. Levava consigo seis africanos para servirem de intérpretes junto aos nativos nas trocas comerciais.
Uma vez na costa ocidental africana, a armada navegou até São Jorge da Mina onde provavelmente terá parado para se abastecer. Daqui teria seguido a rota reconhecida por Diogo Cão, rumando até à foz do rio Zaire e continuando para sul. A frota atingiu as costas da atual Namíbia em 25 de dezembro de 1487. Em seguida, deixando para trás o navio de abastecimento, continuou em direção ao sul.
A certa altura, Bartolomeu Dias se distanciou da costa e rumou a sudoeste, navegando o interior do Atlântico ao longo de treze dias até virar para norte aproveitando a corrente marítima e os ventos favoráveis chegando a leste do Cabo Agulhas, no extremo sul do continente africano, hoje considerado como a divisória entre os oceanos Atlântico e Índico.
Na volta do mar que experimentara, a frota de Bartolomeu Dias havia transposto o cabo das Tormentas sem que o soubesse. Era o dia o dia 3 de Fevereiro de 1488.
Bartolomeu Dias continuou navegando pelo Índico pretendendo seguir viagem para a Índia, mas se viu obrigado a regressar diante da recusa da tripulação em ir mais longe devido a escassez de provisões e ao estado deplorável dos navios. No retorno, avistando o ponto mais meridional por onde havia passado, chamou-o de Cabo das Tormentas, mais tarde rebatizado pelo rei D. João II de Cabo da Boa Esperança.
De volta a Lisboa, em dezembro de 1488, depois de 16 meses de viagem, Bartolomeu Dias foi aclamado por populares entre os quais havia um marinheiro ainda desconhecido: Cristóvão Colombo. O navegador havia explorado mais de 2 mil quilômetros de costas africanas desconhecidas na época e mostrou que era possível chegar às Índias por essa rota. Porém sua façanha não foi recompensada pelo rei D. João II.

Rota da viagem de Bartolomeu Dias e estátua do navegador português, em Londres.
Missões posteriores
A experiência de Bartolomeu Dias serviu de referência às viagens posteriores, complementadas com os conhecimentos adquiridos nas expedições exploratórias realizadas na década seguinte, entre 1488 e 1497. A rota costeira foi reconhecida como impraticável, sobretudo para embarcações menos manobráveis como eram as naus, e apontou-se como solução uma volta em arco, pelo largo da costa africana.
Bartolomeu Dias foi encarregado pelo rei para supervisionar a construção dos navios São Gabriel e São Rafael usados para a expedição de Vasco da Gama à Índia em 1497. Ele foi autorizado a navegar com a expedição de da Gama apenas até as ilhas de Cabo Verde.
Em 1500, Bartolomeu Dias integrou a expedição de Pedro Álvares Cabral, incumbido da missão de explorar a região de Sofala, em Moçambique. Em maio daquele ano, a embarcação que comandava foi atingida por uma tempestade junto às ilhas de Tristão da Cunha, no Atlântico sul. Bartolomeu Dias desapareceu perto do Cabo da Boa Esperança.
O cabo da Boa Esperança
Conhecido pelo clima tempestuoso e mar agitado da região, o cabo está situado na convergência da corrente quente Moçambique-Agulhas do Oceano Índico e da corrente fria de Benguela das águas da Antártida.
A vegetação de grama e arbustos baixos é característica do promontório, que faz parte da Reserva Natural do Cabo da Boa Esperança (criada em 1939) que abrange a ponta sul da península,. Há um farol em Cape Point, a cerca de 2 km a leste do Cabo da Boa Esperança.

Reserva Natural do Cabo da Boa Esperança, província do Cabo Ocidental, África do Sul. Foto Shutterstock.com
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Fonte
- ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses – séculos XV e XVI, v.I, Lisboa: Círculo de Leitores, 1987.
- AXELSON, Eric, Portuguese in South-East Africa 1488-1600, Johannesburg, University of Witwatersrand, 1973.
- FONSECA, Luís Adão da, O Essencial Sobre Bartolomeu Dias. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987.