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Alice Stewart, a cientista pioneira sobre os perigos da radiação na saúde

27 de setembro de 2021

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A britânica Alice Stewart (1906-2002) foi médica e epidemiologista, mais conhecida por seu trabalho pioneiro sobre os efeitos da radiação na saúde. Foi a primeira pessoa a demonstrar os efeitos dos raios-X em mulheres grávidas e no feto. Mas sua pesquisa não foi nada fácil. Em 1995, com 89 anos de idade ela afirmou em uma entrevista: “Se eu fosse um homem, nunca teria suportado. Eu teria deixado tudo. As perspectivas eram muito ruins, o salário muito baixo. Mas, sendo mulher, não tinha tantas opções”.

Primeiros anos

Alice era filha de médicos e foi deles que ela tirou seu senso de justiça social. Ambos foram pioneiros na pediatria e muito comprometidos em melhorar as condições sociais nos assentamentos da classe trabalhadora em Sheffield, Inglaterra.

Sua mãe estava entre as primeiras médicas e seu pai era um defensor das mulheres na medicina, ao contrário de muitos de seus colegas. A própria Alice inicialmente relutou em seguir seus passos, mas acabou cursando medicina em Cambridge.

Completou sua residência em 1932. Em 1941, ela se tornou professora do Departamento de Medicina da Universidade de Oxford onde desenvolveu seu interesse pela medicina social.

No início do século XX, a medicina exercida por mulheres era vista com descrédito até mesmo pelas mulheres. “Ele está dormindo agora e está se recuperando. Ele me pediu em casamento esta manhã”, diz a doutora. A segunda responde: “De fato! Ele provavelmente estava delirando”.

Estudos da toxidade das munições

Durante a Segunda Guerra Mundial, ela liderou uma pesquisa com trabalhadoras que preparavam munições com TNT, um explosivo. O estudo foi elaborado para evitar a experiência da Primeira Guerra Mundial quando mulheres que trabalhavam em uma fábrica de munições morreram devido à exposição a produtos químicos tóxicos.

Alice e uma equipe de 44 alunos passaram vários meses trabalhando nas fábricas de munições testando seu próprio sangue para verificar a toxidade dos produtos. Seus resultados revelaram que a exposição ao TNT altera a capacidade do organismo de formar sangue.

Em 1944, seu estudo sobre TNT foi publicado na primeira edição do British Journal of Industrial Medicine e levaram a Grã-Bretanha a modificar suas técnicas de fabricação.

Mulheres operando uma máquina de carregar munição. Elas não usam nenhum equipamento de proteção, sequer luvas e máscaras.

Os efeitos do carvão nos mineradores

Após a guerra, Alice foi trabalhar no recém-criado Departamento de Medicina Social em Oxford, chefiado pelo professor John Ryle. Ela estudou os efeitos do pó de carvão nos pulmões dos mineradores, uma condição conhecida como “pulmão negro”.

Mais tarde, ela confessou que “somos sobreviventes de epidemias em câmera lenta” que poderiam ser combatidas por pequenas, mas transformadoras decisões tomadas, especialmente em locais de trabalho, para melhorar a saúde das pessoas.

Os danos causados pelo Raio-X

Alice integrou a equipe da Oxford Children’s Health Surveys. A instituição vinha coletando informações, desde a década de 1930, sobre centenas de milhares de crianças na Grã-Bretanha e observando que o número de leucemia infantil estava aumentando.

Alice começou a investigar fatores ambientais que pudessem estar relacionados ao câncer começando desde o estágio inicial, o feto no útero.

Os resultados mostraram uma clara conexão entre os casos de leucemia antes dos 10 anos e a exposição materna a raios-X em exames pré-natais de rotina. Ela conseguiu provar que o feto é cerca de três vezes mais sensível à radiação no primeiro trimestre da gravidez e que as crianças são muito mais suscetíveis a doenças infecciosas antes de desenvolverem câncer.

Ela publicou suas descobertas no British Journal of Industrial Medicine, de 1958.

O Raio-X foi descoberto em 1896 pelo físico alemão Wilheim Conrad Röntgen e logo foi usado mundialmente. Os efeitos da radiação, contudo, só foram descobertos sessenta anos depois por Alice Stewart.

Alice contrariou os interesses militares

O relatório sobre os efeitos prejudiciais da radiação foi recebido com indignação por muitos médicos. Havia, então um entusiasmo geral pelos raios-X. Era também o auge da Guerra Fria, quando os governos britânico e americano investiram grandes somas para promover a expansão da energia nuclear incluindo o marketing em construir a confiança pública neste tipo de energia.

Ninguém queria aceitar que a radiação de baixo nível pudesse matar crianças. Como resultado, Alice nunca mais recebeu uma grande bolsa de pesquisa na Inglaterra para outros estudos.

Em 1974, quando Alice tinha 70 anos de idade e estava prestes a se aposentar de Oxford, ela foi contactada pelo dr. Thomas Mancuso. Ele havia sido nomeado pela Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos para estudar a saúde dos trabalhadores na fábrica de plutônio de Hanford. Suas descobertas foram surpreendentes, revelando uma taxa 10 vezes maior de câncer entre os trabalhadores de Hanford do que o previsto. Seguiu-se um clamor imediato e contundente. Como resultado da análise, Mancuso foi demitido e as autoridades americanas retiraram o apoio à pesquisa. Apesar disso, Mancuso continuou investigando incluindo as pessoas que moravam ao redor da fábrica.

Alice também foi penalizada por investigar os perigoso da radiação por plutônio. Ela foi privada de apoio à pesquisa na Grã-Bretanha e seu trabalho foi submetido ao isolamento profissional, muitas vezes com ataques de menosprezo e desconfiança.

Apoio dos ativistas antinucleares

Os ativistas antinucleares, contudo, abraçaram os estudos de Alice Stewart. Mas ela manteve certa distância da militância. Como ela explicou em sua biografia: “Eu não era muito boa em marchar em manifestações. Achei importante não ser ativista. Não queria que meus sentimentos sobre a questão nuclear confundissem minha ciência e não queria fazer nada que pudesse prejudicar minha credibilidade”.

Em uma série de publicações, Alice Stewart alertou com base em investigações científicas as as razões pelas quais os dados de Hiroshima e Nagasaki subestimaram o risco de radiação em níveis baixos. Um dos principais motivos era a seleção de indivíduos excepcionalmente saudáveis ​​entre os sobreviventes identificados até 1950. Este trabalho, que é particularmente importante para as diretrizes de proteção radiológica, até agora não foi refutado de forma convincente pelas comissões internacionais de proteção radiológica; ele simplesmente foi ignorado.

Alice Stewart (a terceira da esquerda para a direita) com médicos e enfermeiras de Edimburgo. As frases fazem referência ao movimento antinuclear como “Cuidando da Paz”, “Camas e não bombas”

“A verdade é filha do tempo”

Alice Stewart viveu o suficiente para ver seu trabalho mundialmente reconhecido, mas permaneceu uma figura controversa ao longo de sua vida. Em 1986, aos 80 anos de idade, recebeu o Right Livelihood Award, o chamado “Prêmio Novel Alternativo”, junto com  Rosalie Bertell “por descobrir os perigos reais – ao contrário das afirmações oficiais – das baixas doses de radiação” e “por educar o público sobre a destruição da biosfera e dos genes humanos por meio de baixas doses de radiação”. Apesar da importância do prêmio, a embaixada britânica na Suécia se recusou a enviar um carro para levá-la à cerimônia.

Em 1993, Alice teve o prazer em ver Hazel O’Leary, secretária de Energia dos Estados Unidos na presidência de Bill Clinton, divulgar os documentos secretos das operações nucleares durante a Guerra Fria, incluindo registros de testes de radiação em humanos. Eles confirmaram sua pesquisa de vinte anos atrás.

Em 2000, ela também viu outro ministro da Energia, Bill Richardson, recomendar uma compensação aos trabalhadores nucleares que tiveram câncer contraído durante o trabalho, e a implementação de um plano de descarte de lixo nuclear.

Por influência dos estudos de Alice, as diretrizes da ICRP (International Commission onRadiological Protection) sobre os níveis permitidos de radiação para o público foram reduzidos em dois terços. Em 1956, o valor da dose limite foi estabelecido em 5 mSv/ano; em 1990, foi reduzido para 1 mSv/ano.

Em uma entrevista em 1995, ela refletiu sobre sua luta: “Se eu fosse um homem, nunca teria suportado. Eu teria deixado tudo. As perspectivas eram muito ruins, o salário muito baixo. Mas, sendo mulher, não tinha tantas opções”. E concluiu enfatizando: “A verdade é filha do tempo e ajuda ter uma vida longa neste campo de pesquisa”.

Alice Stewart faleceu em 23 de junho de 2002, aos 96 anos de idade.

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