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A origem e a história do sistema de datação a.C./d.C.

26 de fevereiro de 2025

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O sistema de datação a.C. (antes de Cristo) / d.C. (depois de Cristo) foi usado pela primeira vez no século XVII e, desde então, tem sido usado em publicações acadêmicas, por pessoas de todas as religiões e culturas em um esforço para ser inclusivo. Este sistema também é mais preciso, pois não faz nenhuma reivindicação de datar o ano do nascimento de Cristo, que ninguém sabe.

Nos últimos anos, diante das críticas à essa marcação, tem-se usado a expressão AEC (antes da Era Comum) e EC (Era Comum) na datação de eventos históricos. Esta designação é uma tentativa de “remover Cristo do calendário” para torná-lo laico. Ela, porém, não faz sentido porque continua sendo referenciada pelo sistema a.C./d.C.

Há ainda aqueles que se opõem à expressão “era comum’ afirmando que o uso de a.C./d.C é realmente estipulado pela Bíblia ou de alguma forma carrega autoridade bíblica.

Não há autoridade bíblica para a.C./d.C. Ele foi criado mais de 500 anos após os eventos descritos no Novo Testamento cristão e não foi aceito até que outros 500 anos se passaram. O uso de a.C./d.C. se tornou mais comum nos últimos anos.

A expressão “era comum” também não é uma invenção dos nossos tempos. Seu uso aparece pela primeira vez em alemão no século XVII e em inglês no século XVIII. O uso dessa designação não tem nada a ver com “remover Cristo do calendário”, mas com a necessidade de lidar com eventos históricos e incluir pessoas de todas as religiões em discussões de história.

História do a.C./d.C

O calendário hebraico, ainda em uso, é baseado em um conceito conhecido como Anno Mundi (“no ano do mundo”) que marca os eventos a partir do início da criação da Terra, conforme calculado pelas escrituras.

Civilizações antigas como a Mesopotâmia e o Egito baseavam seus calendários nos reinados de reis ou nos ciclos das estações, conforme estabelecido pelos deuses. Na Mesopotâmia, por exemplo, pode-se datar um evento como “cinco anos do reinado do Rei Sulgi” e, no Egito, como “três anos após o último Festival Opet de Ramsés II” ou “no 10º ano do reinado de Ramsés, que triunfou em Kadesh”.

Tabuleta da Fundação, com o nome de Sulgi, rei da terceira dinastia de Ur, 2095-2049 a.C., marcando o início de seu reinado.

Esse método de datação foi continuado pelos romanos, que marcavam seu calendário civil os fastos consulares (período de governo dos cônsules, dos ditadores e dos censores) e os fastos triunfais (registro do nome do general vitorioso, a data e o lugar de seu triunfo).

Júlio César (49-44 a.C.) reformou o calendário e renomeou os meses. O calendário juliano permaneceu em uso, com revisões periódicas, até 1582 d.C., quando o Papa Gregório XIII instituiu o Calendário Gregoriano, ainda em uso nos dias atuais.

Os cristãos usaram o calendário judaico do Anno Mundi e o calendário romano nos primeiros tempos do cristianismo. Em c. 525 d.C., no entanto, um novo conceito de datação foi introduzido por um monge cristão chamado Dionísio Exíguo (c. 470-544 d.C.), que forneceu a base para o sistema de datação posterior de a.C./d.C.

Dionísio inventou o conceito de Anno Domini (“no ano de nosso Senhor”) em uma tentativa de estabilizar a data da celebração da Páscoa. Na época em que ele estava trabalhando nesta contagem, os cristãos da influente igreja de Alexandria marcavam os eventos tendo por referência a Era dos Mártires, iniciada no reinado do imperador romano Diocleciano, em 284, famoso pelas perseguições aos cristãos. Dionísio estava buscando um consenso entre as igrejas oriental e ocidental sobre um único dia para a celebração da Páscoa.

Este objetivo fora proclamado por Constantino, o Grande, no Concílio de Nicéia em 325, ainda não havia sido alcançado. Para este fim, Dionísio ajustou o calendário romano e o sistema alexandrino para o seu próprio, estabelecendo o início da Era Cristã ao nascimento de Jesus de Nazaré. Sua escolha também eliminou uma questão desconfortável: datar eventos referenciando-se no reinado de um imperador que matou tantos cristãos.

Nascimento de Jesus e os Evangelhos

O maior problema com a datação a.C./d.C. era que ninguém sabia quando Jesus de Nazaré nasceu. O próprio Dionísio não fez nenhuma reivindicação sobre a data desse evento. Ele parece ter chegado a seus cálculos confiando nas escrituras e na intenção de criar um calendário cristão aceitável pelas igrejas ocidentais e orientais da época para harmonizar a celebração da Páscoa.

Nunca foi intenção de Dionísio datar com precisão o nascimento de Jesus de Nazaré; ele buscava atender os desejos do papa que de realizar o objetivo de Constantino. A celebração da Páscoa da ressurreição era considerada a mais importante da igreja e Constantino, e aqueles que o seguiram no poder, queriam que o evento fosse observado por todas as igrejas no mesmo dia.

Este foi o trabalho de Dionísio, e calcular a data do nascimento de Jesus era um meio para esse fim, não um fim em si mesmo. Além disso, não se considerou um ano zero O como ponto de partida para a cronologia: o ano 1 d.C. seguiria 1 a.C. direto.

Usar os quatro evangelhos para determinar o nascimento de Jesus, no entanto, era problemático, pois há discordância entre eles. O Evangelho de João não concorda com os outros três, o de Mateus, Marcos e Lucas nem sempre concordam entre si em relação a eventos significativos. O acadêmico Robert R. Cargill explica:

De acordo com o Evangelho de Mateus, Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande. De acordo com várias fontes antigas, Herodes morreu em 4 a.C. Isso significaria que Jesus de Nazaré nasceu em ou antes de 4 a.C. Se adicionarmos a esses 4 anos o fato de que Herodes, o Grande, não morreu imediatamente após o nascimento de Jesus, mas, de acordo com Mateus, ordenou a morte de todas as crianças de dois anos de idade ou menos na tentativa de matar Jesus, podemos adicionar mais dois anos ao nascimento de Jesus, tornando seu nascimento aproximadamente 6 a.C. Se também adicionarmos o ano zero ausente, é mais provável que, de acordo com o Evangelho de Mateus, Jesus tenha nascido por volta de 7 a.C.!

Assim, o sistema a.C./d.C. é fundamentalmente falho, pois deturpa o nascimento de Jesus em aproximadamente 7 anos. Isso significa que o ministério de Jesus não começou por volta do ano 30, mas sim por volta do ano 23. Da mesma forma, o Pentecostes e a origem da Igreja Cristã não devem ser datados em “33 d.C.”, mas em cerca de 26 d.C.

Um problema ainda maior ainda existe com o sistema a.C./d.C: o ano do nascimento de Jesus difere dependendo do Evangelho que se lê. Enquanto o Evangelho de Mateus afirma no capítulo 2:1 que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande, o Evangelho de Lucas afirma no capítulo 2:1-2 que Jesus nasceu durante o primeiro censo do governo de Quirino, governador da Síria. De acordo com fontes antigas, a data deste censo é cerca de 6 a.C.. Assim, a Bíblia é internamente inconsistente em relação ao ano do nascimento de Jesus. (2)

Inconsistência bíblica não estava na mente de Dionísio quando ele estava envolvido em seus cálculos. Ele nunca explica em lugar nenhum como chegou às suas conclusões sobre a data do nascimento de Jesus e nunca afirma ter datado com precisão. Ele precisava fazer o calendário cristão funcionar de acordo com os desejos do papa e conseguiu fazer isso.

A Era Comum

Dionísio também não é responsável pelas designações a.C./d.C. Ele apenas estava interessado em datar eventos a partir da encarnação de Jesus de Nazaré, isto é, da concepção de Jesus por graça do Espírito Santo, e não do seu nascimento, nove meses depois. Este era outro aspecto do problema: essa data é a mesma da anunciação?

Dionísio nunca explicou como ele resolveu esta questão. Em sua obra, eventos após a encarnação de Jesus ocorrem no “ano do Senhor” e eventos anteriores não são considerados.

O uso de a.C./d.C para distinguir períodos de tempo veio mais tarde, após a publicação de História Eclesiástica do Povo Inglês, em 731, por Beda, o Venerável, monge e historiador inglês que viveu no reino da Nortúmbria. As designações de a.C./d.C. apareceram em obras anteriores, mas o livro de Beda as popularizou e outros escritores seguiram o exemplo. Assim como Dionísio, Beda datou o Anno Domini como sendo o momento da encarnação.

Manuscrito da “História Eclesiástica do Povo Inglês”, de Beda, o Venerável, Estrasbrugo, França.

 Não era uma designação universalmente aceita, no entanto, e não se tornaria difundida até o reinado de Carlos Magno (800-814), que instituiu o sistema para padronizar a datação por todo Império Carolíngio. Apesar dos esforços de Carlos Magno, o uso do sistema de calendário Anno Domini não foi reconhecido em toda Europa. A Hispânia continuou seguindo a Era Hispânica ou “dos Césares”, que se iniciara em 38 a.C., até bem tarde na Idade Média. No Oriente, manteve-se a Era dos Mártires, atualmente utilizada pelos cristãos coptas, bem como durante muito tempo pela Igreja Ortodoxa Etíope. outro sistema recorria à dtação a partir da data de crucificação de Jesus Cristo, situada em 29 d.C., durante o consulado de Lucio Rubélio Gêminno e Caio Fúlfio Gêmino

Foi somente no século XV que a Europa adotou o calendário Anno Domini , o que permitiria ao Papa Gregório XIII reformá-lo em 1582.

No século XVII, o termo “Era Vulgar” aparece pela primeira vez como uma substituição para Anno Domini nos escritos do astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630. O termo “vulgar” não tinha significado depreciativo, significandoa, então, “comum”. A expressão “Era Vulgar” foi então usada por escritores de forma intercambiável com “depois de Cristo” ou “na era comum”, que eventualmente veio a ser abreviada com EC e, em contrapartida, deu origem a AEC para os eventos anteriores à era comum.

Moeda de ouro suíça com a inscrição “Anno Domini” no verso, 1712.

AEC/EC nos dias atuais

AEC/EC continua a ser usado porque é mais preciso do que a.C./d.C. Dionísio não tinha entendimento do conceito de zero e nem Beda. O calendário do qual eles dataram os eventos, portanto, é impreciso.

Os monges Dionísio, o Menor (c. 470-c. 554), à esquerda, e  Beda, o Venerável (c. 673-735), à direita.

 

Quando as pessoas começaram a questionar a datação de Dionísio mais de 1000 anos se passaram e uma grande quantidade de história foi registrada. Não havia mais como desfazer o sistema de Dionísio.

Além de ser mais preciso, AEC/EC é inclusivo. O uso de a.C./d.D. subordina todos os eventos anteriores e posteriores ao nascimento de Jesus de Nazaré à compreensão cristã de que Jesus é o Cristo, o ungido de Deus, o Messias. O calendário “faz a contagem regressiva” até o nascimento de Jesus e então prossegue para a contagem a partir dele. Para um cristão, isso pode parecer senso comum simples e a maneira como o mundo funciona, mas não para alguém de fora dessa tradição. Pessoas de diferentes culturas e sistemas de crenças devem ser capazes de acessar e discutir a história sem ter que datá-la de acordo com a crença cristã em Jesus como o filho de Deus e o Messias.

A marcação a.C./d.C. já foi motivo de debate político no Brasil. Em 2020, um deputado evangélico protocolou uma Menção de Repúdio contra um vídeo transmitido na rede pública de ensino do estado de São Paulo em que a professora não usava o nome de Cristo para datar os eventos históricos (veja aqui). A Secretaria de Educação de São Paulo recomendou o uso das marcações a.C./ d.C. como padrão, mas sugeriu a explicação por parte dos professores da expressão “Era Comum”. O caso ilustra bem como a contagem do tempo ainda se mistura a questões religiosas.

Fonte

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