Os governantes Mochicas, no Peru, e os Astecas, no México (e também outras sociedades pré-colombianas) usavam diversos ornamentos corporais como símbolos de posição social e poder político e religioso. Os ornamentos que chegaram aos nossos dias foram encontrados em túmulos, enterrados junto com seu portador – o que permite aos arqueólogos identificar sepultamentos de indivíduos da elite. Para os povos antigos da América, tais ornamentos serviam de identidade na vida após a morte.
Enfeites de orelha
Brincos grandes decorados com pedras foram descobertos em sítios arqueológicos por toda a América, do Peru ao México. São conhecidos aqueles fabricados pelos Moche ou Mochicas, que viviam na costa norte do Peru, entre 100 a.C. e 800 d.C. Por muitos anos, os especialistas acreditaram que esses objetos eram usados apenas por homens importantes. Estudos recentes, no entanto, revelaram que essas peças também eram usadas por mulheres poderosas! Meninas e meninos de famílias de alta posição social furavam as orelhas para inserir brincos que, de tempos em tempos, aumentavam de tamanho para alargar os furos. Lóbulos longos e caídos eram um sinal de poder — às vezes, chegavam até os ombros!
Estes ornamentos não se pareciam com os brincos que conhecemos atualmente. Não tinham fechos ou ganchos para prendê-los nas orelhas. O pino que atravessa o lóbulo da orelha equilibra a parte frontal, evitando que ela caia. A parte frontal é grande — entre 8 e 10 cm de largura. Esses enfeites provavelmente eram usados com as figuras voltadas para dentro, em direção ao rosto. Essas figuras parecem estar correndo, possivelmente para transmitir uma mensagem importante a quem as usa.

Enfeite de orelha, ouro com incrustações de turquesa, sodalita e concha, 9,5 alt, 10 larg x 8,5 cm (pino), cultura Moche, 400-700 d.C., Peru, The Met, Nova York, EUA.

Representação artística de como o par de brincos mochicas teria sido usado.
Os labrets
Magnificamente trabalhado na forma de uma serpente pronta para atacar, este labret — um tipo de piercing inserido abaixo do lábio inferior — é uma rara sobrevivência da ourivesaria Asteca. O ouro, chamado pelos astecas de teocuitlatl, era um presente divino, associado ao poder do sol, e portanto, ornamento por excelência dos governantes e nobres astecas. Fontes históricas descrevem uma variedade de objetos feitos de ouro, incluindo um labret de serpente enviado por Hernán Cortés como um presente ao imperador Carlos V. Porém, quase todos esses objetos foram derretidos pelos conquistadores e convertidos em lingotes de ouro para facilitar o transporte e o comércio.

Labret de serpente com língua articulada, ouro, cultura Asteca, 7 cm alt x 4,5 cm larg x 7 cm prof, c. 1500 d.C., México, The Met, Nova York, EUA
A cabeça da serpente apresenta uma mandíbula poderosa com dentes serrilhados e duas presas proeminentes. A língua bifurcada, moldada como uma peça móvel, podia ser retraída ou balançada de um lado para o outro, talvez acompanhando os movimentos do portador. A forma sinuosa do corpo da serpente se prende a um cilindro ou tampão basal circundado por uma faixa de pequenas esferas e uma faixa de espirais onduladas.
Os labrets, eram símbolos de poder político. Serviam como marcadores visuais da fala eloquente e verdadeira esperada da realeza e da nobreza. Feito de material sagrado, um labret como este destacava a autoridade divinamente sancionada do governante e afirmava sua posição como o indivíduo que poderia falar em nome de um império. Por isso, a colocação de um labret fazia parte da cerimônia de ascensão de um governante.

Representação artística de como o labret teria sido usado pelo governante asteca.
Este labret de ouro não era usado diariamente, mas sim como parte dos trajes cerimoniais ou de batalha em ocasiões específicas. Nesses momentos, a figura da serpente pronta para atacar sua presa, dava ao seu portador uma visão aterrorizante. No dia a dia, o governante usava um labret de obsidiana ou pedra verde.
Serpentes têm sido um tema favorito na arte mesoamericana desde pelo menos o segundo milênio a.C. Como criaturas que podiam se mover entre diferentes reinos, como terra, água e céu, eram considerados símbolos particularmente apropriados para governantes e heróis mitológicos como Quetzalcoatl, a lendária “serpente emplumada”.
Enfeites de nariz
Ornamentos nasais, usados suspensos no septo nasal e cobrindo a boca, eram feitos para indivíduos de alto status na América antiga. Eram usados como expressões materiais de posição e poder.
Esse ornamento traz quatro aranhas presas em uma delicada teia dourada.

Enfeite de nariz com aranhas, ouro, 5 cm alt x 11 cm larg, cultura Salinar, Peru, 200 a.C.-300 d.C., The Met, Nova York, EUA.
As aranhas eram particularmente importantes na cosmologia da Costa Norte do Peru por sua capacidade de capturar e matar presas vivas, uma habilidade que as ligava à guerra e ao sacrifício ritual. Os Moche, que floresceram nesta região entre 200 e 850 d.C. consideravam a prática da aranha de enredar sua vítima em uma teia e drenar fluidos vitais como análoga à maneira como um guerreiro capturava um inimigo com cordas e extraía seu sangue.
Na Costa Norte do Peru, as aranhas eram ainda entendidas como precursoras da fertilidade agrícola, visto que frequentemente surgiam antes das chuvas, um importante recurso vital nos ambientes áridos e desérticos do litoral peruano.

Reconstituição artística de como o enfeite de nariz teria sido usado pelas elites governantes da América Andina antiga.

Enfeite de nariz encontrado no túmulo da Senhora de Cao, governante Mochica, traz dois lagostins de prata com incrustações de turquesa e um caranguejo de ouro, 5 cm de altura.
Máscaras funerárias
As máscaras funerárias são parte importante do enxoval funerário dos líderes das sociedades do antigo Peru. Elas ajudavam a construir a identidade do falecido no outro mundo. Os governantes Mochicas, Lambayeque, Chimu e outras sociedades da costa norte do Peru Antigo, eram enterrados com um grande número de objetos de metal precioso, armas, conchas, tecidos, vasilhas de cerâmica e as máscaras feitas de ouro, prata e cobre. Até cinco máscaras eram colocadas em um sepultamento: uma presa à cabeça do corpo envolto em tecido e as outras quatro empilhadas aos pés do falecido.

Máscara funerária, ouro, prata, cobre, cinábrio, 29 cm alt x 50 cm larg x 10 cm espessura, cultura Lambayeque, 900-1100 a.C.,Peru, The Met, Nova York, EUA.
O cinábrio (sulfeto de mercúrio), um pigmento mineral vermelho, cobre grande parte das bochechas e da testa desta máscara (acima), escondendo a superfície dourada. Em geral, as máscaras expostas em museus frequentemente não apresentam esse pigmento que foi removido nos tempos modernos para destacar o dourado. Pingentes dourados completam a máscara. Pode-se imaginar o efeito mágico que causavam ao refletirem a luz do sol enquanto o fardo da múmia era transportado para seu local de descanso final.
Os olhos desta máscara têm hastes finas, semelhantes a espetos, emergindo das pupilas. Outras máscaras incluem pequenas contas de âmbar e esmeralda, o que levou estudiosos a interpretá-las como lágrimas. Nas orelhas e nos ornamentos auriculares, podem ser vistos camadas prateadas (agora verde-corroídas).
Máscaras como essas, com seus característicos olhos ovoides terminando em uma ponta, são associadas à cultura Lambayeque, na costa norte do Peru. Essa comunidade política, também conhecida como Sicán, ergueu grandes centros monumentais como Batán Grande, Chornancap e outros sítios arqueológicos. Um indivíduo enterrado com tal máscara acreditava-se que assumia aspectos do poder da Divindade Sicán e se transformava em um ancestral venerado após a morte.
Escavações recentes em Chornancap revelaram que tais máscaras faziam parte da indumentária funerária de mulheres de alto status, bem como de homens. De acordo com mitos da costa norte, o ouro era particularmente associado a governantes homens, a prata a mulheres nobres e o cobre a plebeus. Uma máscara de Chornancap, encontrada no túmulo de uma importante sacerdotisa, era feita de prata.

Máscara funerária, cobre dourado, concha e pigmento, 525-550 d.C., cultura Moche, Peru, Getty Center, Los Angeles, Califórnia, EUA.

Máscara funerária, cobre e incrustações de concha, 17,5 cm alt, 23,5 cm larg x 0,27 cm espessura, cultura Moche, 100-800 d.C., Peru, Museu Larco Herrera, Lima, Peru.
Fonte
- The Met Museum.