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Machado de Assis e a proclamação da República

14 de novembro de 2016

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Machado de Assis já era um escritor conhecido quando ocorreu o golpe que derrubou a monarquia e instalou a república em 15 de novembro de 1889. Tinha, então, 50 anos de idade e ocupava um alto posto no funcionalismo público da Corte. Isso deixava-o mais próximo dos fatos e, também, vulnerável às mudanças políticas. Além disso, ele era vizinho do Barão de Ladário, no Cosme Velho, ministro do Império e a única vítima da proclamação da República. Machado, contudo, nunca expressou claramente sua opinião a respeito do golpe mas deixou um relato cheio de ironia em seu romance Esaú e Jacó, que analisamos abaixo.

Ao final do artigo, download do texto com questões e respostas.

Machado de Assis, breve apresentação

Machado de Assis (1839-1908) nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, era neto de escravos alforriados e de família pobre. Estudou em escolas públicas e nunca frequentou o ensino superior. Esforçou-se por ascender socialmente por meio da superioridade intelectual. Alcançou relativa fama e prestígio escrevendo em praticamente todos os gêneros literários: poesia, romance, conto, folhetim e teatro. Foi também jornalista e crítico literário.

É considerado o maior expoente da literatura brasileira e do Realismo no Brasil que ele introduziu, em 1881, com a publicação da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Seus ganhos, contudo, não vinham tanto dos livros e colunas que escreveu. Machado fez carreira no funcionalismo público, na maior parte do tempo no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, chegando a ocupar o cargo de oficial de gabinete do ministro, em 1881. À época da proclamação da República fora nomeado para ser diretor da Diretoria do Comércio, um cargo altamente honroso para quem era neto de ex-escravos.

A monarquia lhe abrira as portas para a ascensão social. O escritor tinha grande admiração por D. Pedro II e chegara mesmo a frequentar o paço imperial algumas vezes, como prova a sua assinatura no livro de presença. Por isso, não deve ter visto com simpatia a mudança do regime que expulsou o imperador do país.

Centro do Rio de Janeiro 1890

Assim era o centro do Rio de Janeiro na época da proclamação da República. Foto de Marc Ferrez, 1890.

A proclamação da República em “Esaú e Jacó

Esaú e Jacó, de 1904, é uma das últimas obras de Machado de Assis. A narrativa se desenrola pelo ponto de vista do Conselheiro Aires, um diplomata aposentado. É ele quem opina sobre os fatos, quem esclarece as situações e as atitudes dos personagens.

A história se passa à época da mudança do regime monárquico para o republicano. A proclamação da República, propriamente dita, é mencionada no episódio da tabuleta, que se inicia no capítulo 49 e só se completa no capítulo 63. É no diálogo entre Conselheiro Aires e Custódio, dono de uma confeitaria, que percebemos, entre ironias e metáforas, a opinião de Machado de Assis sobre o novo regime.

Confeitaria Colombo

As confeitarias eram locais muito frequentados no século XIX. Algumas tinham decoração luxuosa como a Confeitaria Colombo, fundada em 1894, na rua Gonçalves Dias, no Rio de Janeiro, ainda em funcionamento. Machado de Assis e outros escritores frequentaram a Confeitaria Colombo.

Tudo começa dias antes, quando “toda gente voltou da ilha com o baile na cabeça”, referindo-se ao célebre Baile da Ilha Fiscal, ocorrido em 9 de novembro de 1889.  Custódio, depois de muita relutância, mandara pintar a tabuleta que levava o nome de sua loja na rua do Catete: Confeitaria do Império. O pintor avisa então que “a tábua está velha, e precisa outra; a madeira não aguenta tinta (…) está rachada e comida de bichos”.  A alusão à monarquia é óbvia: um regime velho, decadente, comprometido e sem sustentação, que não suporta mais nem uma reforma, tem que mudar tudo.

Encomenda-se uma nova tabuleta mas eis que ocorre o golpe da República. Custódio manda um bilhete ao pintor com o seguinte recado: “Pare no d.” Não sabia se era melhor concluir a pintura com a palavra Império ou República. O que se segue é uma narrativa carregada de humor e ironia. A indecisão de Custódio quanto ao nome é sintomática de um país de muda para manter tudo como está. Machado de Assis reduz a proclamação da República a uma simples troca de tabuletas, mudança só de nomes. República e Império se equivalem como rótulos de fachada.

Para baixar atividades com o texto Esaú e Jacó, clique no botão abaixo. Ele remete para a loja do STUD HISTÓRIA. Faça o pedido na loja para acessar o recurso. Material gratuito.

Fonte

  • ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1998.
  • CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados, o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
  • GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
  • ____________ . Machado de Assis: impostura e realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
  • ____________ . Por um novo Machado de Assis.São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Capa

  • Ilustração de Rodval Matias para o livro “História em Documento. Imagem e Texto”, v.4, de Joelza Ester Domingues, São Paulo: FTD, 2001.

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Wherbty Nogueira
Wherbty Nogueira
8 anos atrás

Material maravilhoso e que amplia as possibilidades de didáticas para trabalhar o tema. Parabéns!

Joelza Ester
Joelza Ester
8 anos atrás
Responder para  Wherbty Nogueira

Obrigada! O texto de Machado de Assis é precioso. Possibilita um bom trabalho com os alunos e, inclusive, a encenação em sala de aula. Os alunos se divertem e aprendem.

Eduino de Mattos
Eduino de Mattos
8 anos atrás

Joelza, PARABÉNS, (não sei muito sobre a monarquia e “a troca para república”), FOI GOLPE ? !

Joelza Ester
Joelza Ester
8 anos atrás
Responder para  Eduino de Mattos

Obrigada Eduino! Sim,foi um golpe militar com apoio de alguns civis.

Hahmeyer
Hahmeyer
8 anos atrás
Responder para  Eduino de Mattos

Foi um golpe feito com a ajuda dos positivistas (militares de baixa e média patente) e da elite escravocrata (contrárias a abolição, obviamente). D Pedro II tinha altíssima popularidade, a república não teve de forma alguma apoio da população.

Black Seiya
6 anos atrás
Responder para  Eduino de Mattos

Golpe ou não foi uma evolução para o Brasil, seria irracional continuar com a monarquia

Joelza Ester
Joelza Ester
6 anos atrás
Responder para  Black Seiya

Pode ser ou não. Impossível profetizar o passado. Pessoalmente, eu acredito que não é a forma de governo (monarquia, republica, anarquia etc) que define o avanço ou o atraso de um povo, mas o caráter de seus governantes e de sua população, as intenções e a ética de quem exerce o poder e de quem legisla, a vigilância da população sobre seus representantes, a capacidade de distinguir o público do privado, o respeito às leis. E toda essa postura não é um dom divino mas um aprendizado que começa em família, é reforçado na escola e conservado na vida social.

Black Seiya
7 anos atrás
Responder para  Joelza Ester

Na democracia, mesmo que seja perfeita, voce escolher, se manifestar e até derrubar o governante. E mesmo que na monarquia consiga ter um bom rei num momento, vai estar sempre a merce da familia dele, sabe-se lá o vem no futuro. Não tem sentido escolher a Monarquia, pior que existem ainda hoje no Brasil pessoas que defendem isso

Nãotãoimbecil
Nãotãoimbecil
6 anos atrás
Responder para  Black Seiya

Mas e os países que são monarquistas como o Japão, a Inglaterra, a Espanha, o Canadá…? Eles são pobres como o Brasil? Escolher um representante não é o mesmo que ter um líder; representação, no fundo, é só uma masturbação de ego. No período do segundo reinado haviam eleições democráticas, mas o imperador podia remover os políticos com seu poder moderador. Imagine o quão útil seria para nós que tipos como o Lula ou o Sarney fossem removidos antes de pilharem a máquina pública…

Martakz
Martakz
8 anos atrás

Adorei o artigo. Sinceramente, como apaixonada por história, adoro todos os seus textos!

Gabriel
Gabriel
6 anos atrás

Quanto às minhas opiniões públicas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a republica de Platão. A realizada é o sistema representativo (monarquia parlamentar). É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais iluminou… O imperador tem as duas qualidades essenciais ao chefe de uma nação: é esclarecido e honesto. Ama o seu país e acha que ele merece todos os sacrifícios.” Machado de Assis. Era… Leia mais »

Danilo Cruz
Danilo Cruz
6 anos atrás

“a tábua está velha, e precisa outra; a madeira não aguenta tinta (…) está rachada e comida de bichos”.
Esse trecho ao meu ver refere-se claramente a nosso imperador Dom Pedro II que não estava tão bem de saúde que estava na Europa em tratamento. Então a nova placa seria nossa Princesa Isabel, mas a troca por república trocou a tábua nova da Princesa Isabel pela tábua de Deodoro da Fonseca.
Foi golpe sim, o povo não participou do movimento, apenas militares e antigos fazendeiros donos de escravos que ficaram enfurecidos com a lei áurea.
Ave glória, ave Império.

Joelza Ester
Joelza Ester
6 anos atrás
Responder para  Danilo Cruz

É uma interpretação possível.

Fernando
Fernando
6 anos atrás
Responder para  Danilo Cruz

Não, se você ler as crônicas do Machado, vai ver que ele se refere ao sistema monárquico, e não à figura do imperador por si só, se bem que ele era indolente e inútil mesmo.

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