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Fechado o Parque Nacional de Sete Quedas

19 de setembro de 1982

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Em 19 de setembro de 1982, o Parque Nacional de Sete Quedas foi fechado para ser oficialmente destruído e dar lugar ao reservatório de Itaipu. Dez dias depois, um decreto-lei proibiu a visitação ao Parque que, diante da notícia de seu desaparecimento, havia aumentado. As pessoas queriam dar adeus às maiores cachoeiras do mundo em volume de água.

Às vésperas da inundação, uma grande manifestação ocorreu no parque nacional das Sete Quedas. Centenas de pessoas se reuniram e realizaram o ritual indígena Quarup, em memória das Sete Quedas.

Em 13 de outubro de 1982, as comportas do canal de desvio foram fechadas e começou a ser formado o reservatório da Usina de Itaipu. As águas barrentas do lago artificial começaram a sepultar um dos maiores espetáculos do mundo: os “Saltos del Guaíra”, como também era chamadas as Sete Quedas do rio Paraná.

Durante a inundação, os moradores de Guaíra iam até a beira do rio para se despedirem das Sete Quedas.

A inundação das Sete Quedas durou apenas 14 dias, pois ocorreu em uma época de cheia do rio Paraná, e todas as usinas hidrelétricas acima de Itaipu abriram suas comportas, contribuindo com o rápido enchimento do lago. O alagamento das Sete Quedas ocorreu somente nos dois últimos dias do alagamento total, ou seja, no décimo segundo dia de alagamento.

Em novembro, com o enchimento do lago principal da represa, o complexo de cachoeiras de Sete Quedas desapareceu ficando visíveis apenas as copas das árvores que ficavam acima do nível do rio.

Ainda restou alguma coisa a ser vista e as pessoas continuaram indo ao local que abrigava o Parque. Em janeiro de 1983, uma passarela que não recebia mais manutenção, situada sobre o salto 14, desabou, jogando para dentro da massa de água as 32 pessoas que estavam sobre ela. Ironicamente, elas tiveram a última visão das cachoeiras.

Em 5 de maio de 1984 iniciaram as operações da usina de Itaupu.

A queda da ponte em janeiro de 1983

O que era Sete Quedas

Sete Quedas do Rio Paraná era constituída por dezenove saltos, que poderiam ser agrupados em sete grupos de queda – razão da denominação Sete Quedas.

As quedas eram um sucesso turístico, Guaíra chegou a ser a cidade mais visitada do Brasil. Eram as únicas cachoeiras do mundo com visitação sobre a parte superior, através de pontes penseis, uma experiência única e inexistente até hoje.

Tinha o dobro de volume d’água das Cataratas de Niágara, na divisa Estados Unidos/Canadá, e treze vezes mais que as de Victoria Falls, na Zâmbia.

A construção da gigantesca hidrelétrica de Itaipu foi determinada pelo governo sem que tivessem sido feitos estudos para avaliar os impactos ambientais e sociais. Foram desalojadas 42.444 pessoas, quase todos trabalhadores do campo. Os direitos dos povos indígenas foram violados, adulterados documentos para subestimar o número de índios da região.

Somente a comunidade de Ocoy foi reconhecida como indígena. As demais foram ignoradas, tratadas como posseiros e invasores porque não tinham documento de propriedade da terra. Foram expulsas sem nenhum ressarcimento.

A região era considerada sagrada pelos índios guaranis. Na época, a FUNAI era gerida por um general do Exército.

O adeus e protesto de Carlos Drummond de Andrade

Na edição de 9 de setembro de 1982, quando se anunciou o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, o poeta Carlos Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B:

Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram.

Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio.

Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta. Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato.

Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos egípcios e assírios em vão ousaria criar tal monumento.

E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas. Aqui sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se empresa gélida, mais nada.

Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se um silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto que luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la.

Sete boiadas de água, sete touros brancos, de bilhões de touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no vazio que forma alguma ocupará, que resta senão da natureza a dor sem gesto, a calada censura e a maldição que o tempo irá trazendo?

Vinde povos estranhos, vinde irmãos brasileiros de todos os semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de arte natural hoje cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante de irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes pênseis destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso, nenhuma culpa ardente e confessada.

(“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o Brasil grande!”)

E patati patati patatá… Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá.

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