Na manhã de sexta-feira, 19 de maio de 1536, Ana Bolena, rainha da Inglaterra e segunda esposa do rei Henrique VIII foi decapitada por ordem de seu marido. Tinha 29 ou 35 anos de idade (a data de seu nascimento é incerta).
Seu casamento com Henrique VIII foi polêmico, do ponto de vista político e religioso. Para se casar com Ana Bolena, o rei pediu ao papa Clemente VII o divórcio e anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. A intenção de casar-se novamente era para produzir um herdeiro legítimo, já que Catarina de Aragão até então não lhe dera um herdeiro varão.
Catarina de Aragão esteve grávida sete vezes entre 1509 e 1518: a primeira gravidez, deu à luz a uma filha natimorta; na segunda, o filho morreu com 52 dias de vida; na terceira, a criança foi prematura e morreu; na quarta, deu à luz a um menino natimorto; na quinta, nasceu uma menina que sobreviveu (Maria Tudor); na sexta sofreu um aborto espontâneo; na sétima deu à luz a uma menina que viveu apenas algumas horas.
Como o papa Clemente VII demorasse responder ao pedido de divórcio de Henrique VIII, este agiu por conta própria. Em 1531, um tribunal eclesiástico inglês declarou Henrique o chefe supremo da Igreja na Inglaterra, o que efetivamente acabava com a autoridade papal em todas as questões religiosas do país. Em julho desse mesmo ano, Catarina foi expulsa da corte, e seus antigos aposentos foram dados para Ana.
Henrique e Ana casaram-se secretamente em 14 de novembro de 1532. Esta pressa pode ter sido pela gravidez de Ana e a necessidade de Henrique VIII não deixar sombra de dúvidas quanto à legitimidade de um herdeiro.
Em janeiro de 1533, o recém-nomeado arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer, declarou o casamento de Henrique e Catarina nulo e sem efeito; cinco dias depois, ele declarou válido o casamento de Henrique e Ana Bolena.
Catarina perdeu o seu título e, consequentemente, Ana foi coroada Rainha de Inglaterra, em 1 de junho, numa cerimônia magnífica na Abadia de Westminster, precedida de um suntuoso banquete. Em 7 de setembro de 1533, Ana deu à luz uma menina, a futura rainha Elizabeth I, da Inglaterra.
Ana Bolena em desgraça
Henrique ficou decepcionado por ter uma filha, pois esperava um filho. Passaram-se três anos, e nada de Ana Bolena dar um herdeiro varão ao trono. As gestações acabaram em abortos espontâneos e em nascimento de natimortos.
Em 7 de janeiro de 1536, Catarina de Aragão morreu de doença prolongada, provavelmente câncer, e Ana Bolena teve o mau gosto de celebrar o evento vestida de amarelo quando o resto da corte, incluindo o rei, usava luto. A partir de então Henrique começou a se afastar da mulher e logo encontrou outra amante, Joana Seymour.
Prisão de Ana Bolena
Como Henrique estava vinculado a um casamento válido com Ana pelo Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento Inglês, foi necessário encontrar outra forma para se separar de Ana Bolena. Se o rei contrariasse abertamente o Ato Supremacia para ter seu casamento anulado, a sua reputação em toda a Europa ficaria comprometida. Portanto, ele só tinha uma maneira de se separar de Ana: uma acusação que resultaria em julgamento e sentença de morte.
Ana Bolena foi acusada em 2 de maio de 1536 de múltiplos adultérios, relações incestuosas com seu irmão e conspiração para matar o rei. Embora essas alegações não tenham sido provadas, ela foi condenada à morte por alta traição.
No dia seguinte, Ana e seus supostos amantes foram presos. Estes incluíam o tesoureiro dos cofres privados reais, dois camareiros, um músico e o irmão de Ana. Com exceção do músico, Marck Smeaton, todos os homens negaram as acusações. É possível que o músico, de família humilde, estivesse tentando evitar uma morte horrível: enforcamento, estripação e esquartejamento. De acordo com a lei, o réu acusado de traição só poderia esperar perdão se se declarasse culpado e se submetesse inteiramente ao julgamento do rei. Se condenado, o réu poderia ter uma morte menos horrível: a decapitação.
O músico e todos os demais acusados foram condenados à morte em 12 de maio de 1536 e executados cinco dias depois na Torre de Londres.
O julgamento e execução de Ana Bolena
Ana e seu irmão Jorge Bolena foram levados ao tribunal em 15 de maio para enfrentar acusações de incesto. Todo o julgamento foi baseado em depoimentos de testemunhas que estavam preparadas ou que eram hostis à rainha há muito tempo. Lady Rochford, sua própria cunhada, testemunhou que Ana havia lhe dito que “o rei era incapaz de dormir com sua esposa e não tinha habilidade nem virilidade”.
Ana e seu irmão foram condenados à morte no mesmo dia. Ela não admitiu sua culpa, mas também evitou atacar o rei. Dois dias depois, seu casamento com Henrique VIII foi anulado por razões desconhecidas, uma vez que os registros foram destruídos. A filha Elisabeth, de apenas 2 anos de idade, foi considerada uma bastarda.
Ana Bolena fez uma exigência: não queria ser morta por um carrasco inglês, que utilizava o machado para a decapitação. Exigia um carrasco francês que usava a espada. Justificou-se dizendo “uma Rainha da Inglaterra não curva a cabeça para ninguém e em nenhuma situação” – as execuções com a espada eram feitas com a vítima ajoelhada, mas com a cabeça erguida.
Ana Bolena foi decapitada por espada na manhã de sexta-feira, 19 de maio de 1536. Seu corpo e cabeça foram enterrados num túmulo sem nome na Capela Real de São Pedro ad Vincula, na Torre de Londres. Onze duas depois, Henrique VIII casou-se com sua terceira esposa, Jane Seymour.
Depois de Ana Bolena
Henrique VIII teve outras quatro esposas:
- Joana Seymour (1536-1537) que morreu no parto do futuro Eduardo VI.
- Ana de Cleves (1540) cujo casamento com Henrique VIII durou apenas seis meses sendo anulado para que o rei se casasse com a jovem de 15 anos Catarina Howard.
- Catarina Howard (1540-1541) foi acusada de adultério e executada na Torre de Londres em 13 de fevereiro de 1542, aos 19 anos.
- Catarina Parr (1543-1547) que sobreviveu à morte de Henrique VIII ocorrida em 28 de janeiro de 1547. Viúva, ela pode então se casar com seu antigo apaixonado, Tomás Seymour, mas o casamento durou pouco: ela morreu no parto de sua primeira filha que também não sobreviveu por muito tempo.
Com a morte de Henrique VIII, ascendeu ao trono Eduardo VI, seu filho com Joana Seymour com apenas 9 anos de idade e que reinou de 1547 a 1553.
A morte prematura de Eduardo VI levou a um período de conflitos entre herdeiras da coroa: Maria Tudor, Elizabeth e Joana Grey, esta última decapitada na Torre de Londres, em 1548, por ordem de Maria Tudor que reinou por dois anos, de 1556 a 1558.
Em 1558, a filha de Ana Bolena e Henrique VIII assumiu o trono da Inglaterra vindo a se tornar uma das grandes governantes de sua história sob o nome de Elizabeth I (1558 a 1603).
O local onde Ana Bolena foi executada, na Torre de Londres, tem uma placa de mármore desde 1866. O seu corpo foi sepultado sem placa comemorativa sob a nave da capela da Torre de São Pedro ad Vincula. Em 1876, os restos mortais dos que ali jaziam foram transferidos para a cripta da capela.