Em 26 de dezembro de 1801, o general e diplomata escocês Thomas Bruce, sétimo conde de Elgin, começou o retirar parte das esculturas e dos frisos que compunham o Partenon, célebre templo erguido no século V a.C. na acrópole de Atenas em honra à deusa Atena, a protetora da cidade.
O Partenon foi construído na época de Péricles, assim como os Propileus que marcam a entrada da colina sagrada, e os templos de Erecteion e Atena Niké.
O escocês Lord Elgin serviu como embaixador britânico no Império Otomano de 1799 a 1803. Apaixonado por antiguidades, ele ficou chocado pela indiferença das autoridades turcas em relação às esculturas gregas, que estavam em péssimas condições. Tentou, mas em vão, convencer o sultão a proteger o Partenon. Decidiu, então, agir por conta própria e usar sua fortuna pessoal para o ousado empreendimento. Autorizado pelo sultão, começou a retirar as esculturas do frontão do templo e de outras peças da acrópole.
Essa versão dos acontecimentos é, atualmente, contestada. Especula-se que Lord Elgin teria subornado autoridades locais de Atenas para retirar as esculturas e os elementos arquitetônicos do Partenon com o objetivo de transportá-los para Londres e integrá-los à sua coleção pessoal. Não existe um documento legal que conferisse a Lord Egin permissão para realizar essa operação.
O processo de remoção dos mármores causou danos irreparáveis: peças foram cortadas em pedaços e muitas foram quebradas.
O desmonte continuou nos anos seguintes, incluindo uma das cariátides do Erecteion. Em 1817, as últimas peças foram levadas para Londres. Muitas foram destruídas durante a viagem e outras tantas desapareceram no naufrágio de um dos navios de transporte em 1812, próximo a Creta.
Os frisos do Partenon vão para o Museu Britânico
Ao retornar à Grã-Bretanha, Lord Elgin estava arruinado financeiramente. Ele havia investido a maior parte de sua fortuna para manter sua equipe trabalhando em Atenas e também para agradar as autoridades locais com presentes. Por isso, ele se viu obrigado a vender a sua coleção para o Museu Britânico em 1816, por um valor bem menor do que havia investido.
O Museu Britânico comprou as peças ciente de que não existia nenhum documento que comprovasse a origem lícita dessas aquisições por parte de Lord Elgin. O único documento que acompanhava as obras era uma tradução para o italiano de uma suposta permissão do sultão para desenhar, tirar moldes e pegar algumas peças com inscrições e figuras, documento no qual não constava nenhuma assinatura.
Hoje os chamados “mármores de Elgin” podem ser vistos na galeria do Museu Britânico sob luz artificial. Outras esculturas estão no Louvre, em Paris ou em Kopenhagen. As que restaram em Atenas estão no Museu da Acrópole. Umas poucas ainda resistem no Partenon.
A luta pela repatriação das obras do Partenon
Desde que a Grécia conquistou sua independência (25 de março de 1821), ela clama para que as obras do Partenon lhe sejam devolvidas. No ano de 2009, a luta pelo retorno das esculturas e dos frisos à Grécia ganhou um novo e potente argumento com a inauguração do Museu da Acrópole. Com sua inauguração, caiu por terra o argumento de que as esculturas estariam melhor preservadas no Museu Britânico do que em Atenas. O novo museu foi construído com o intuito de abrigar e reunir todos os mármores, estabelecendo-se como um dos melhores do mundo.
A Unesco e o Parlamento Europeu já votaram resoluções a favor da reunificação das esculturas, mas o Museu Britânico continua negando colaborar com o governo da Grécia.
Os mármores do Partenon sofreram severos danos devido a uma desastrosa limpeza realizada em 1930 pelo Museu Britânico. Pensando que eles eram originalmente brancos (na realidade, eles tinham uma tonalidade mel), foram clareados com ferramentas de cobre e produtos cáusticos. Rasparam-se, também, todos os vestígios da tinta com a qual eram originalmente coloridos. Na Grécia, aplicou-se processo semelhante nas ruínas da acrópole nos anos 1950. Além disso, os mármores do Partenon foram atacados pela poluição do ar e pelo clima úmido de Londres.
O cineasta greco-americano Costa Gravas realizou, em 2009, um curta-metragem intitulado Parthenon para ilustrar os diversos momentos da história do Partenon e denunciar a destruição causada por Lord Elgin.
Parthenon, curta-metragem de Costa Gravas
O documentário apresenta em ordem cronológica as transformações que o Partenon sofreu ao longo da História. Foram elas:
- 3.000 a.C. – a rocha da acrópole de Atenas sobre a qual seria erguido o Partenon séculos depois.
- 432 a.C. – a construção do Partenon, sob o governo de Péricles, a Era de Ouro de Atenas.
- 267 d.C. – piratas hérulos saquearam Atenas e incendiaram o Partenon destruindo o telhado e grande parte do santuário.
- 360 d.C. – a restauração do Partenon pelo imperador romano Juliano.
- 438 d.C. – cristãos destroem parte das esculturas do Partenon, consideradas pagãs, retiram colunas internas e algumas paredes da cela. A grande imagem da deusa Atena foi levada para Constantinopla onde, mais tarde, foi destruída, talvez durante o saque da cidade pela Quarta Cruzada, em 1204.
- 550 d.C. – o Partenon é convertido em uma igreja cristã dedicado a Parthenos Maria (Virgem Maria) ou Igreja de Theotokos (Mãe de Deus). O edifício foi reformado e modificado para esse nova função.
- 1206 – Sob o Império Latino de Constantinopla (Estado fundado pelos líderes da Quarta Cruzada), o Partenon é convertido em igreja de Nossa Senhora; construiu-se um campanário contendo uma escada em espiral junto ao edifício, e túmulos sob o piso do Partenon.
- c.1440 – o humanista italiano Ciríaco de Ancona “redescobre” o Partenon como monumento antigo chamando-o de “templo da deusa Atena” baseado em seus estudos em textos antigos.
- 1456 – forças turco-otomanas invadiram Atenas e sitiaram um exército de Florença que defendia a acrópole. No final desse século, o Partenon foi convertido em mesquita sofrendo novas modificações: o campanário foi ampliado para o alto tornando-se um minarete, foi instalado um miharab (púlpito muçulmano), as paredes foram caiadas para cobrir imagens cristãs.
- 1687 – durante a guerra de Veneza contra o Império Otomano, os venezianos enviaram uma expedição para atacar Atenas e capturar a acrópole que estava fortificada pelos turcos. Estes utilizaram o Partenon como depósito de pólvora. Em 26 de setembro de 1687, um morteiro veneziano disparado de uma colina a sudoeste da acrópole explodiu o paiol. A explosão destruiu a parte central do edifício e fez com que as paredes da cela desmoronassem em escombros. A explosão matou cerca de 300 pessoas, espalhou fragmentos de mármore e provocou incêndios que destruíram muitas casas.
- 1688 – os venezianos abandonaram Atenas e os turcos recapturaram a acrópole. Usaram os escombros para erguer um mesquita menor dentro da casca do Partenon em ruínas. Partes da estrutura remanescente foram saqueadas para outras construções.
- 1801 – Lorde Elgin, embaixador britânico em Constantinopla, obteve uma autorização do sultão (cuja legitimidade é questionada até hoje) para retirar peças do Partenon.
Na parte final do documentário são declamados os versos “A Maldição de Minerva”, de Lord Byron, escrito em 1811, em que a deusa lança uma maldição sobre Elgin.
Fonte
- Elgin had no legal authority to remove the sculptures as he did, as modern archival reserarch has also show. International Conference for the reunification oh the Parthenon Sculptures. Atrnas, 15 abri 2019.
- Ottoman Edict allowing Lord Elgin to remove Parthenon Sculptures non existent say experts. News Network Archaelogy, 25 fev 2019.
- LAGE, Celina F. A maldição de Minerva: Lord Byron e as esculturas do Partenon. ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia), n. 20, 2016.
- Museu da Acrópole. Google Art.
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Abertura
- Partenon na acrópole de Atenas.