Gebelein, nome árabe que significa “Duas Montanhas”, é uma região no Alto Egito, perto do rio Nilo, a 40 km ao sul de Tebas, e que já foi chamado de Pátiris, Afroditópolis, Inerti e Per-Hator. Ali foram encontradas, por volta de 1896, seis múmias enterradas em uma cova rasa na areia do deserto egípcio.
São múmias naturais, isto é, seus corpos foram naturalmente mumificados sob o sol escaldante em um substrato de areia até ficarem totalmente secos. Elas têm 5.500 anos, teriam vivido por volta de 3500 a.C. no chamado período pré-dinástico, período anterior à unificação egípcia e à monarquia faraônica.
Dois corpos foram identificados como masculino e um como feminino, sendo os demais de sexo indeterminado. Foram encontrados em posição fetal, deitados sobre o lado esquerdo.
Três dos corpos tinham coberturas de diferentes tipos: esteira de junco, fibra de palmeira e pele de animal, que ainda permanecem com os corpos.
O Homem Gebelein
Uma das múmias é o Homem Gebelein, apelidado de Ginger devido aos tufos de cabelos ruivos na cabeça. O apelido, contudo, não é mais usado desde que o Museu Britânico desenvolveu políticas para o tratamento ético de restos mortais humanos de acordo com o Human Tissue Act, de 2004.
O corpo foi enterrado nu, deitado sobre o lado esquerdo e em posição flexionada, quase fetal, a principal posição para sepultamentos até meados do Império Antigo, quando os corpos passaram a ser enterrados totalmente estendidos.
A mumificação natural que ocorreu com esses enterros de areia seca pode ter levado à crença egípcia na vida após a morte e iniciado a tradição de deixar alimentos e utensílios para o morto. É muito provável, também, que o desenvolvimento das práticas de mumificação tenha mostrado que era mais fácil mumificar o corpo numa posição estendida, o que se tornou comum a partir da V Dinastia (séculos XXV e XXIV a.C.).
É notável o estado de conservação do Homem Gebelein, em particular, os cabelos ruivos no alto da cabeça. Era um adulto de físico musculoso, com 1,63 metro de altura e tinha entre 18 e 24 anos quando morreu. Tem a boca ligeiramente aberta com todos os dentes presentes e saudáveis. Falta uma falange do dedo indicador esquerdo e vários ossos do pé.
A trágica morte do Homem Gebelein
Em novembro de 2012, o Homem Gebelein foi submetido a uma tomografia computadorizada no Hospital Cromwell em Londres. Foi possível, então, olhar dentro de seu corpo e obter informações sobre sua vida e sua morte. Os especialistas já tinham observado que a múmia tinha uma lesão traumática ante-mortem por força cortante que penetrou na pele sobre a omoplata esquerda.
A tomografia confirmou que havia uma fratura na 4ª costela esquerda. O Homem Gebelein foi assassinado com uma facada nas costas. A arma do crime foi usada com tanta força que danificou a omoplata, quebrou a costela abaixo dela e penetrou no pulmão. Acredita-se que o ferimento foi causado por uma lâmina de cobre ou faca de pedra com pelo menos 12 cm de comprimento e 2 cm de largura. Daniel Antoine, especialista em restos humanos do Museu Britânico acredita que o Homem Gebelein foi pego de surpresa pelo ataque, pois não havia ferimentos de defesa.
Os outros corpos também têm sinais de violência. A mulher adulta tem fraturas no crânio; o segundo homem adulto tem fraturas na 9ª costela; o terceiro homem tem fraturas nas costelas e no fêmur esquerdo, um braço deslocado na altura do cotovelo; a múmia do adolescente (sexo incerto) tem fraturas em todas as costelas; o adulto idoso (sexo incerto) tem muitas costelas fraturadas.
Um novo exame das múmias, em 2018, usando-se varredura infravermelha revelou que um homem e uma mulher tinham tatuagens na parte superior do braço direito. As da mulher eram quatro sinais em forma de S e um desenho parecendo uma bengala com cabo torto. As tatuagens do homem eram figurativas, mostrando um touro selvagem com grandes chifres e cauda longa e uma ovelha com chifres curvos. As tatuagens foram feitas com pigmento preto à base de carvão.
As múmias estão no Museu Britânico que patrocinou a escavação do egiptólogo britânico Wallis Budge (1857-1934), descobridor das múmias. O Homem Gobelein está exposto desde 1901.
Fonte
- Virtual autopsy: exploring a natural mummy from early Egypt. Vídeo do British Museum sobre a tomografia do Homem Gebelein. Duração: 6:50.
- ANDREWS, Carol. Egyptian Mummies . British Museum, 1984.