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Pegadas humanas da Era do Gelo acirram o debate sobre o povoamento da América

19 de junho de 2022

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O Parque Nacional White Sands, no Novo México, Estados Unidos é uma região árida, coberta por areia de gesso e pontuada por grandes cactos. Em 2021, pesquisadores publicaram na revista Science a descoberta de pegadas humanas e de animais da megafauna datadas de 23.000 anos atrás – uma época em que muitos cientistas afirmam ser impossível a passagem humana para a América do Norte cujo caminho estava bloqueado por enormes camadas de gelo.

As pegadas de White Sands acirraram o debate sobre o povoamento da América.

  • BNCC: 6° ano. Habilidade: EF06HI04, EF06HI05, EF06HI06.

Pegadas humanas fossilizadas de White Sands, no Novo México, EUA.

As polêmicas sobre o povoamento da América

O povoamento da América é foco de debate de longa data. Um debate interdisciplinar que busca responder questões básicas que envolvem a pesquisa: quando, onde, como e por que?  O momento e o local da chegada humana inicial, o número e o caráter das migrações, a extensão das tecnologias e economias de um determinado grupo humano afetando outros grupos – são temas ainda abertos.

Apesar dos avanços recentes na compreensão dessas questões, a arqueologia ainda enfrenta desafios na avaliação da confiabilidade dos dados e na aplicação de novos modelos interpretativos o que inclui o reexame de estudos e pesquisas anteriores.

Nos últimos anos, há um consenso de que os primeiros povoadores migraram da Ásia para a América através da Beríngia e depois se dispersaram em direção à América Central e Sul.  O antigo modelo de entrada humana de Clóvis de 13.000 anos está ultrapassado com a descoberta de evidências de presença humana muito mais antigas. É o caso de Monte Verde, no Chile, sítio arqueológico pesquisado desde 1997 que foi datado de pelo menos 18.500-14.500 anos atrás.

As pontas de Clóvis, encontradas em 1929 por Ridgely Whiteman, serviram de referência para datar o povoamento da América entre 13.500 e 12.800 anos atrás. Esse modelo manteve-se incontestável por meio século e, de certa forma, ainda influencia muitos cientistas.

Há evidências de ocupação humana muito mais antigas na América, mas ainda vistas com ceticismo por grande parte da comunidade científica, especialmente dos Estados Unidos.

Sítios arqueológicos na América com mais de 14 mil anos, portanto anteriores à Cultura Clóvis.

Evidencias “discordantes” da presença humana na América

O sítio de Gault, no centro do estado do Texas, Estados Unidos, apresenta evidências de ocupação humana quase contínua, mais antiga e distinta da Cultura Clóvis, começando pelo menos 16 mil anos atrás.

A Serra da Capivara, no Piauí, abriga diversos vestígios arqueológicos (incluindo ferramentas líticas) com mais de 20 mil anos de idade, segundo pesquisadores brasileiros e franceses que há décadas trabalham no local sob comando da arqueóloga Niède Guidon. As descobertas, contudo, têm sido contestadas por parte do mundo acadêmico.

O sítio arqueológico Santa Elina, na Serra das Araras, no município de Jangada, em Mato Grosso, constatou o registro de ocupação humana que data de 25 mil anos. Foi encontrada a ossada de uma preguiça gigante e milhares de artefatos, vários comprovando a convivência humana com a fauna. O potencial arqueológico do Mato Grosso é enorme: o estado possui 792 sítios arqueológicos cadastrados no IPHAN.

Na Caverna Chiquihuite, no México, foram desenterradas 2 mil pedras identificadas como sendo lâminas, pontas de projéteis e lascas de um tipo de calcário que não existe na caverna, ou seja, o material foi levado para lá. As datações feitas por diferentes técnicas indicam 26.500 anos atrás – o que faz recuar o povoamento da América para 30 mil anos atrás.

As descobertas de Chiquihuite ainda não foram confirmadas pelos cientistas que questionam se esses artefatos teriam sido, de fato, fabricados por seres humanos. Eles apontam a ausência de outros indícios de ocupação humana como restos de fogueiras e ossos de animais com marcas de corte. Mas isso pode ser uma questão de pesquisa, e as escavações na caverna continuam.

As pegadas humanas e animais de White Sands

O Parque Nacional White Sands, no Novo México, Estados Unidos trouxe outra forte evidência da presença humana na América em tempos mais remotos: pegadas humanas fossilizadas de 23.000 anos junto a pegadas da megafauna como mamutes, preguiça gigante e tigre-dente-de-sabre.

As pegadas foram encontradas escavando abaixo da superfície onde também foram descobertas sementes de gramíneas antigas (Ruppia cirrhosa). Analisadas com datação por radiocarbono, chegou-se às datas calibradas de 22.860 (±320) e 21.130 (±250) anos atrás.

A região, de clima árido e 710km2 de dunas de areia de gesso com vegetação de cactos, era muito diferente há 23.000 anos. O clima era, então, menos árido e a vegetação abundante, com riachos, lagos e pastagens.

Este paraíso de vida verdejante atraiu a megafauna da Era do Gelo. Herbívoros como camelos antigos, preguiça gigante, gliptodonte (tatu gigante), mamutes e mastodontes vinham se deliciar com as gramíneas e folhagens das árvores. Atrás deles, vinham os predadores como o lobo terrível, o leão americano e o tigre-dente-de-sabre, o maior felino da América. As pegadas desses animais permaneceram muito tempo depois de sua partida dos pântanos da região e acabaram se fossilizando.

As pegadas humanas em White Sands sugerem que aqueles indivíduos coexistiram e interagiram com os animais da era glacial. Um conjunto de pegadas humanas estava dentro ou junto de pegadas de uma preguiça gigante o que pode indicar que um caçador rastreava as pegadas do animal. Não se sabe, porém, o resultado da caçada.

A julgar pelo tamanho, as pegadas foram deixadas principalmente por adolescentes e crianças mais novas, com um adulto ocasional. Algumas indicam as passadas de um adulto com uma criança aparecendo ocasionalmente ao lado dele. Talvez o adulto (uma mulher?) carregasse a criança, movendo-se de um lado para outro e, por vezes, colocava a criança no chão enquanto andavam. As pegadas se alargaram e escorregaram na lama como resultado do peso adicional que o adulto carregava.

Pegadas humanas fossilizadas encontradas no Parque Nacional White Sands, Novo México, Estados Unidos.

Reconstituição artística de uma provável situação no que hoje é White Sands há 23 mil anos.

Megafauna da América

Camelo antigo (Camelops Camelops hesternus), leão americano (panthera atrox), Lobo terrível (Canis dirus), preguiça de Harlan (Paramylodon harlani), tigre-dente-de-sabre (Smilodon fatalis, gliptodonte, mamute (Mammuthus columbi) e mastodonte, com pernas mais curtas e musculosas do que os mamutes – são alguns dos animais da megafauna da América que viveram no Pleistoceno  e cujas pegadas e/ou ossadas foram encontradas em White Sands.

A preguiça de Harlan (Paramylodon harlani) tinha 3 metros de altura quando de pé e pesava mais 1,1 tonelada. Exemplar do Museu Ciências Naturais de Houston, EUA (à esquerda), pegada encontrada em White Sands (abaixo à direita) e reconstituição artística (acima, à direita).

O tigre-dente-de-sabre media 3 metros de comprimento, pesava até 340 kg e seus caninos tinham 17 a 20 cm de comprimento. Exemplar do Museu Nacional de Ciência do Japão, Tóquio (à esquerda) e pegada do felino em White Sands (à direita).

Fóssil de um gliptodonte, Museu de História Natural de Milão (à esquerda) e reconstituição artística do animal. Semelhante ao tatu, o gliptodonte tinha 3 metros de comprimento e pesava 1,4 toneladas.

Os sítios paleontológicos da região sudoeste do Piauí são uma das regiões de maior concentração de fósseis da megafauna pleistocênica da América intertropical. Os paleontólogos constataram que, na América do Sul, a megafauna continuou existido por milhares de anos depois que seus parentes do Pleistoceno já tinham desaparecido no Norte.

A megafauna sul-americana sobreviveu até o Holoceno e isso talvez explique alguns mitos do folclore indígena da Amazônia como o mapinguari, descrito como uma criatura enorme e assustadora, coberta por um longo pelo vermelho e que poderia ser a preguiça gigante que sobreviveu na floresta amazônica do Brasil e da Bolívia.

A região da Serra da Capivara, em pleno sertão do Piauí, hoje de clima semiárido e com predominância da caatinga, na Era do Gelo era úmida e dominada por cerrados formando um refúgio florestal de flora e fauna, incluindo a megafauna. Isso atraiu homens e animais que procuravam por água e comida.

Fonte

  • ESCOBAR, Herton. Povoamento da América. Jornal da USP, 23.07.2020
  • Jangada – Sítio arqueológico Santa Elina. SEC-MT, Secretaria de Estado da Cultura de Mato Grosso.
  • The Gault Site. Gault School of Archaeological Research.
  • BENNETT, Matthew R,; BUSTOS, David; PIGATI, Jeffrey et ali. Evidence of humans in North America during the Last Glacial Maximum. Science, v. 373, 23 set 2021, p. 1528-1531.
  •  Fossilized footprints. White Sands National Park New, Mexico, 17 dez 2021.
  • DILLEHAY, Tom D. et ali. New Archaeological evidence for a early human presence at Monte Verde, Chile. National Library of Medicine, 18 nov 2015.

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