Entre os dias 22 de junho e 19 de agosto de 1944, a Wehrmacht (Forças Armadas da Alemanha nazista) sofreu a mais pesada derrota da história militar alemã – derrota decisiva para subjugar Hitler e pôr fim à Segunda Guerra Mundial. O esforço para esmagar a Alemanha nazista foi resultado da Operação Bagration idealizada e executada pela União Soviética. O volume de homens e equipamentos de guerra mobilizados fez parecer a invasão da Normandia um pequeno ensaio militar.
Os motivos que levaram a essa enorme operação militar remontam à mudança de alvo da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial.
Operação Barbarossa: invasão da União Soviética pelo Eixo
Exatamente três anos antes da Operação Bagration, os nazistas executaram a Operação Barbarossa (22 de junho de 1941), nome dado à invasão da União Soviética pelas potências do Eixo. A Alemanha pretendia estender os domínios territoriais do III Reich dizimando a população eslava para realizar a germanização da Europa Oriental. Estava de olho, também nas reservas de petróleo do Cáucaso e nos recursos agrícolas soviéticos.
Cerca de 3 milhões de alemães e 690 mil soldados do Eixo (Alemanha, Itália e Finlândia) invadiram a União Soviética ocidental ao longo de uma frente de 2.900 km de extensão. Além das tropas, a Wehrmacht empregou cerca de 600 mil veículos a motor, 3.350 tanques, 7.200 peças de artilharia, 2.770 aeronaves (cerca de 65% da Luftwaffe) e entre 625 mil e 700 mil cavalos. As forças alemãs conseguiram grandes vitórias e ocuparam algumas das áreas econômicas mais importantes da União Soviética.
Os combates na Frente Oriente foram os que causaram maiores danos: mais pessoas morreram ali do que em todas as outras batalhas durante a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 26 milhões de soviéticos foram mortos, 1.710 cidades e 70 mil aldeias foram totalmente destruídas.
Os reveses da Alemanha nazista na Frente Oriental
Hitler estabeleceu um prazo de quatro meses para a captura de Moscou, a capital e maior cidade da União Soviética. Contudo, os russos frustraram seus planos: a Batalha de Moscou (outubro de 1941 a janeiro de 1942) paralisou o avanço alemão. O general alemão Heinz Guderian escreveu no seu diário que “a ofensiva a Moscou falhou … Subestimamos a força do inimigo, tal a sua dimensão e as condições meteorológicas. Felizmente, parei as minhas tropas a 5 de Dezembro, caso contrário, a catástrofe seria inevitável.”
As forças do Eixo também amargaram a forte resistência dos russos em Leningrado (atual São Petersburgo) que deteve o avanço nazista a tal ponto que Hitler ordenou que a cidade não fosse invadida, mas cercada para definhar até a submissão, vencida pela fome. O cerco a Leningrado durou 872 dias (de 8 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944). A cidade teve todos os acessos por terra cortados e foi bombardeada dia e noite por artilharia e aviões.
Foi um dos cercos militares mais longos e destrutivos da história custando a vida de 1,5 milhões de pessoas (a maioria civis). Ainda assim, os russos não cederam.
O fracasso alemão em capturar Moscou, a resistência de Leningrado bem como as derrotas sofridas em Stalingrado (fevereiro de 1943) e em Kursk (agosto de 1943) debilitaram a moral das forças nazistas, causaram grandes baixas e consumiram enormes recursos de guerra.
Foi nesse contexto militar que a União Soviética começou a planejar a Operação Bagration.
A deterioração das forças alemãs
Apesar dos reveses militares, as forças do Eixo controlavam grande parte do território soviético. Hitler deslocara para a frente russa a maior parte de suas forças de guerra, cerca de 75% de todo efetivo militar do Eixo. Contudo, o inesperado prolongamento da guerra na Frente Oriental (iniciada em 1941) levou à deterioração das tropas. Desde o inverno de 1941-1942, diminuíam os suprimentos alimentares para os soldados alemães; a subnutrição levava à queda do desempenho físico agravado, também, com o aumento do consumo de álcool e estimulantes.
O desembarque dos aliados na Itália (julho de 1943) e a invasão aliada na Normandia (junho de 1944) pioraram a situação pois obrigaram Hitler a deslocar homens e equipamentos para diferentes frentes de combate enfraquecendo ainda mais a capacidade de defesa dos alemães.
Em junho de 1944, as forças alemãs na Frente Oriental estavam reduzidas a 850 mil soldados. Os equipamentos totalizavam 3.000 peças de artilharia, 570 tanques e armas de assalto e 602 aeronaves. Boa parte desse equipamento, contudo, não podia ser utilizado pois faltava combustível devido aos bombardeios aliados contra as refinarias de Ploesti, na Romênia que privaram a Alemanha de petróleo.
A produção militar soviética
Enquanto as forças nazistas se deterioravam, a indústria soviética de armamentos acelerava sua produção superando cada vez mais a economia de guerra alemã. Somente nos primeiros meses de 1944, a produção bélica soviética aumentou em 77%, e de aeronaves 68%. Uma nova geração de tanques e aviões saía em velocidade acelerada das fábricas da Sibéria.
Graças ao recrutamento intensivo, a União Soviética conseguiu reunir cerca de 10 milhões de soldados bem treinados. Apoiados pela máquina de guerra soviética eles se mostraram uma força militar colossal.
O petróleo do Azerbaijão, então parte da União Soviética, alimentava os veículos e os bombardeios do país. As tropas soviéticas foram totalmente motorizadas com 12 mil caminhões e carros de combate enquanto as divisões alemãs dependiam cada vez mais de cavalos.
A Operação Bagration
Mesmo com suas forças reduzidas, os alemães ainda controlavam extensos territórios na União Soviética. Para infringir um golpe mortal contra elas, Stalin pôs em execução a Operação Bagration. (22 de junho a 19 de agosto de 1944). O nome era uma homenagem ao príncipe Pyotr Bagration, general das forças russas que enfrentou Napoleão Bonaparte em 1812.
Os soviéticos superestimaram a força alemã ao planejar Bagration, acreditando que enfrentariam cerca de 850.000 soldados, mas somente metade estava realmente posicionada na frente de combate. Os soviéticos prepararam 1.200.000 homens para o ataque inicial, 34.000 peças de artilharia, 4.000 tanques e 5.300 aeronaves
Já os alemães subestimaram os soviéticos. Isso se deveu, em parte, ao alto escalão militar do Reich que frequentemente ignorava as advertências dos subordinados no Leste a respeito aos movimentos soviéticos. Além disso, a invasão da Normandia pelos aliados em 6 de junho desencadeou o pânico e desnorteou o alto comando alemão.
Toda movimentação das forças soviéticas foi escondida, na maior operação de camuflagem e desinformação da história militar. Movimentos de tropas e tanques despistavam comboios noturnos que viajavam sem luzes atravessando rios, pântanos e florestas. As ordens eram dadas verbalmente ou por escrito, fragmentadas e em código, para que não fossem detectadas pelos espiões inimigos nem por rádio.
A grande ofensiva soviética foi desencadeada na manhã do dia 23 de junho de 1944, um dia depois do aniversário da Operação Barbarossa. As divisões alemãs foram pegas de surpresa por formações militares fortemente blindadas que atacavam uma após a outra, em ondas e em diferentes lugares provocando o caos e a debandada nazista.
Por volta de 3 de julho, as forças soviéticas recapturaram Minsk, capital da Bielorrússia, cidade que estivera nas mãos dos alemães por três anos. No final de julho, o Exército Vermelho cortou as vias de abastecimento das tropas alemãs nos países bálticos.
Stalin ordenou que os alemães capturados durante a operação fossem levados para Moscou para servirem de troféu à vitória soviética. No dia 17 de junho de 1944, 57.000 soldados alemães e seus oficiais marcharam em duas colunas pelas ruas de Moscou cercados por uma população que os agrediu verbalmente e com objetos. A exibição pública visava convencer os governos da Finlândia, Romênia e Hungria – aliados do Reich alemão – a mudarem de lado, bem como para mostrar aos Estados Unidos e Reino Unido a força do Exército Vermelho.
Resultado da Operação Bagration
Em apenas 58 dias, a Operação Bagration (22 de junho a 19 de agosto) causou ao exército alemão 400.000 baixas entre mortos, feridos e prisioneiros, mais do que as batalhas de Stalingrado e Normandia juntas. As forças alemãs não conseguiram mais se recuperar da destruição sofrida o que levou ao colapso do Reich.
A União Soviética conseguiu recuperar uma imensa extensão de território, praticamente todas as áreas controladas antes da invasão alemã em 1941.
O avanço do Exército Vermelho revelou ao mundo a existência dos campos de extermínio. Alguns foram destruídos às pressas pelos soldados e oficiais alemães antes da chegada dos soldados soviéticos, e seus prisioneiros foram executados. Outros foram atacados pelas tropas soviéticas por erro e desconhecimento – o que levou a mais vítimas. O campo de Maly Trostinets, na Bielorússia, por exemplo, foi bombardeado pelos aviões soviéticos em 28 de junho de 1944. Quando o Exército Vermelho ali chegou, em 3 de julho, encontrou alguns prisioneiros judeus remanescentes, restos dos fornos e corpos carbonizados.
O anúncio das atrocidades alemãs na União Soviética intensificou o ódio dos soldados do Exército Vermelho contra a população alemã o que levou aos crimes de guerra cometidos em território alemão em janeiro de 1945.
Fonte
- Adair, Paul. La gran derrota de Hitler. La caída del Grupo de Exército Centro, junho de 1944. Madri: Tempus, 2008.
- MAZOWER, Mark. O império de Hitler: a Europa sob o domínio nazista. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
- GLANTZ, David M.; HOUSE, Jonathan. Confronto de Titãs: como o Exército Vermelho deteve Hitler. São Paulo: CR Editorial, 2009.