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Fundação do Museu Real (Museu Nacional), Rio de Janeiro

06 de junho de 1818

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No dia 6 de junho de 1818, D. João VI assinou o decreto de fundação do Museu Real (atual Museu Nacional da UFRJ) a fim de estimular a pesquisa científica no Brasil. O Museu Real funcionava, então, no Campo de Santana. Ao longo dos primeiros anos, o Museu abrigou materiais de botânica, minerais, animais empalhados em uma grande variedade para a época.

Após o casamento de D.Pedro I com a Imperatriz Leopoldina, o Museu começou a receber ainda mais investimentos. Naturalistas e entusiastas artísticos e científicos da época decidiram vir para o Brasil trabalhar no Museu.

À época, Carl Friedrich Philipp von Martius e Georg Heinrich von Langsdorff contribuíram para a ascensão do museu. A chamada expedição Langsdorff havia percorrido mais de 16.000 km pelo interior do Brasil, entre 1824 e 1829, fazendo registros dos aspectos variados da natureza e sociedade, constituindo o mais completo inventário do Brasil.

O Museu Nacional no Campo de Santana, em 1870

Durante o reinado de dom Pedro II, o Museu recebeu novos investimentos em antropologia, arqueologia e paleontologia. O imperador era um entusiasta e amante da ciência e doou seu acervo pessoal ao Museu formado por peças egípcias, gregas e romanas antigas. Nesta época, o Museu já era reconhecido como o centro mais importante no estudo da História Natural e Ciências Humanas da América do Sul.

A Quinta da Boa Vista

O imponente edifício na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, que atualmente abriga o Museu Nacional, foi construído por volta de 1803 pelo português Elias Antônio Lopes, político e traficante de escravos para lhe servir de residência. O casarão foi erguido sobre uma colina, da qual se tinha uma bela vista do mar e da Baía da Guanabara – o que deu origem ao atual nome Quinta da Boa Vista. De suas laterais, era possível ver o morro do Corcovado e a floresta da Tijuca.

Com a chegada da família real em 1808, e sem espaços residências no Rio de Janeiro, Elias doou a sua propriedade para o príncipe-regente D. João transformá-la na residência real. Em troca, Elias recebeu outras propriedades, condecorações e dinheiro.

A Quinta da Boa Vista em 1817, então residência de D. João VI.

O casarão foi reformado à época do casamento de D. Pedro com a arquiduquesa Maria Leopoldina em 1816, estendendo-se até 1821. Foi encarregado do projeto o arquiteto inglês John Johnston, que, além da reforma do paço, fez instalar um portão monumental em sua entrada.

Após a independência, o agora Paço Imperial sofreu nova reforma que durou todo o primeiro reinado. As obras foram executadas pelo arquiteto português Manuel da Costa (1822-1826), posteriormente substituído pelo francês Pedro José Pézerát (1826-1831), autor do projeto em estilo neoclássico do edifício. O Paço recebeu um segundo torreão e um terceiro pavimento.

Uma terceira reforma foi feita a partir de 1847, pelo brasileiro Manuel Araújo de Porto-Alegre, que harmonizou as fachadas do edifício, seguido pelo alemão Theodor Marx (1857 e 1868), época em que o pintor italiano Mario Bragaldi decorou vários aposentos interiores e quando foram feitas obras de embelezamento dos jardins.

Vista do Paço de São Cristóvão por Jean-Baptiste Debret.

Moradores ilustres

No Palácio de São Cristovão residiram D. Pedro e Maria Leopoldina, nasceram suas filhas e o futuro dom Pedro II, e ali faleceu a imperatriz, em 1826.

Próximo à Quinta da Boa Vista, vivia Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa dos Santos, em um casarão presenteado por D. Pedro I e onde hoje funciona o Museu do Primeiro Reinado, no bairro de São Cristóvão.

Na Quinta cresceu, foi educado e viveu D. Pedro II com a imperatriz Tereza Cristina, e onde nasceu a princesa Isabel.

O palácio vira Museu Nacional

Com o fim do Império, a República precisava apagar os símbolos que representassem o Brasil Império. O Palácio de São Cristovão já havia sediado a primeira Assembleia Constituinte República. Promulgada a Constituição, a antiga residência imperial, recebeu nova identidade sendo destinada ao uso do museu, em 1892.

A partir de 1946, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ passou a gerenciar o Museu que abrigou vários departamentos da Universidade (Antropologia, Botânica, Etnologia, Entomologia, Geologia, Paleontologia e Zoologia). Era um museu de exposição, mas também de pesquisa contando com a participação de dezenas de pesquisadores brasileiros e estrangeiros e cerca de 500 alunos.

O Museu Nacional, foto de 2011.

Acervo do Museu Nacional

O Museu Nacional contava com um acervo de mais de 20 milhões de itens em diversas áreas: geologia, paleontologia, botânica, antropologia, arqueologia, linguística etc. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470 000 volumes e 2 400 obras raras.

Fazia parte de seu enorme acervo de milhões de itens:

  • Meteorito de Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e um dos maiores do mundo, pesando 5,36 toneladas e medindo mais de 2 metros de comprimento. Descoberto em 1784 no sertão da Bahia.
  • Fósseis de pterossauros, alguns com esqueletos completos.
  • Esqueletos de dinossauros como o Maxakalisaurus topai de 13 metros de comprimento e 9 toneladas de peso encontrado em Minas Gerais; o crânio de um Tyranossaurus rex proveniente de Dakota do Sul, EUA; o esqueleto completo de preguiça gigante (Eremotherium laurillardi), encontrado em Jacobina, na Bahia
  • Crânio de Luzia (c. 11.500-13.000 A.P.), o mais antigo fóssil humano das América, descoberto em Lapa Vermelha, Lagoa Santa, Minas Gerais.
  • Coleção egípcia com mais de 700 itens, a maior da América Latina contando, entre outras peças, o sarcófago egípcio de c. 750 a.C. ainda com a múmia em seu interior.
  • Coleção de arqueologia clássica com 750 peças de origem grega, romana, etrusca e italiota, a maior de seu gênero da América Latina, contendo afrescos de Pompeia, cerâmicas, esculturas.
  • Coleção pré-colombiana com cerca de 1.800 artefatos de povos andinos, amazônicos e mesoamericanos, incluindo múmias incas.
  • Coleção de arqueologia brasileira com peças da cultura Marajoara, Santarém, povos sambaquieiros, Tupi-Guarani entre outros.
  • Coleção de etnologia indigena brasileira abrangendo mais de 30.000 objetos de mais de cem grupos indígenas de todas as regiões do Brasil incluindo registros sonoros de línguas, cantos e narrativas de culturas indígenas.
  • Coleção de etnologia africana e afro-brasileira constituída por aproximadamente 700 objetos entre eles o trono do Reino de Daomé ofertado a dom João VI pelo rei Adandozan.
  • Acervo de culturas do Pacífico com artefatos da nova Guiné, Havaí, Polinésia, Nova Zelândia, ilhas Aleutas etc.

O descaso e o incêndio

Ao longo dos anos, o Museu apresentava sinais visíveis de má conservação: fios elétricos expostos, rachaduras, queda de lajes internas, paredes degradadas e ausência de política anti-incêndio. A possibilidade de um incêndio era anunciada desde 2004. Os seguidos cortes orçamentários desde 2014 impossibilitavam a reforma e a manutenção da estrutura do Museu.

Após o dia de visitação de 2 de setembro de 2018, um domingo, um incêndio de imensas proporções atingiu todos os andares do prédio. Os bombeiros foram acionados às 19h30, porém, mesmo chegando rapidamente à Quinta da Boa Vista, pouco puderam fazer. Os materiais eram altamente inflamáveis: madeira, papel, penas, tecidos.

Cerca de duas horas depois, às 21h30, as chamas já se mostravam incontroláveis. Labaredas e estrondos faziam a vista e a sonora da triste situação.

Por volta das 22h do mesmo dia, as coleções já haviam sido destruídas pelas chamas. O gigante acervo com esqueletos de preguiça gigante, o crânio de Luzia e os documentos dos séculos passados foram destruídos e/ou danificados. O incêndio devastador destruiu 85% do acervo do Museu Nacional.

Museu Nacional consumido pelas chamas na noite de 2 de setembro de 2018.

Renascendo as cinzas

Em 19 de dezembro de 2018, o Congresso Nacional aprovou R$ 55 milhões do orçamento da União para o Museu e outros 30,4 milhões de reais foram destinados  para uso nas obras de recuperação do acervo e infraestrutura. Essa verba foi recebida após a repercussão do incidente, que provocou manifestações denunciando o descaso do governo, e debates acalorados em redes sociais em torno da manutenção da instituição histórica. A verba foi indicada por deputados da bancada do Rio de Janeiro e apresentada como emenda impositiva, aprovada pela Comissão Mista de Orçamento.

Em 2019 começou a retirada cuidadosa de escombros e a contenção de estrutura. As obras de restauração foram iniciadas em novembro de 2021. Os atrasos foram em decorrência da pandemia.

Em 2 de setembro de 2022, foram entregues a fachada do prédio histórico e o jardim da frente. As 31 estátuas de divindades gregas que decoravam o alto da fachada foram restauradas e réplicas foram colocadas no lugar. Oito estátuas foram espalhadas no jardim em frente ao museu. Em comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, algumas exposições também foram abertas em diferentes áreas do museu.

Atualmente (2024), estão sendo restauradas as fachadas dos prédios de trás. A expectativa é que o local seja totalmente reaberto ao público no primeiro semestre de 2026.

O orçamento anunciado para a recuperação foi de R$ 380 milhões, dos quais R$ 254 milhões foram gastos nesta primeira fase de obras.

Fachada restaurada do Museu, foto de 2022.

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