Chamada por Capistrano de Abreu de “certidão de nascimento” do Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha é considerada um dos documentos fundadores de nossa história. São 27 páginas manuscritas em papel e datadas de 1º de maio de 1.500 que registram as primeiras impressões e reações frente ao novo, ao exótico e diferente.
A carta é um diário de viagem que narra os dez dias que os portugueses passaram ao sul do litoral baiano depois de avistados os primeiros sinais de terra no dia 21 de abril: o achamento da terra (dia 22), o primeiro contato com os índios (dia 23) prosseguindo com as informações dia a dia até 1º de maio quando ocorreu a missa em terra firme.
No dia 2 de maio, logo ao nascer do sol, Cabral partiu de viagem em direção às Índias deixando na praia dois degredados além de dois grumetes que haviam fugido na noite anterior. Caminha informa o nome de um degredado – Afonso Ribeiro – condenado por ter cometido assassinato. O outro teria sido João de Thomar, sobre o qual nada se sabe.
Trabalhando a Carta em sala de aula
A Carta de Pero Vaz de Caminha está digitalizada e disponível na Internet. Sugerimos dois endereços para acessá-la:
- Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, Lisboa, Portugal. O portal permite visualizar a Carta, página por página e traz informações adicionais como tamanho, suporte, âmbito e conteúdo, condições de acesso, localização, idioma etc.
- Biblioteca Digital, da Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal. O site traz, junto com a Carta original, a sua transcrição conforme a grafia original.

Penúltima pagina da Carta de Pero Vaz de Caminha. No destaque em vermelho: “/ beijo as maãos de vosa alteza. / deste porto seguro da vosa jlha de vera cruz oje sesta feira primº dia demayo de 1500//
A Carta pode ser trabalhada com as turmas do 6° e 7° anos, e Ensino Médio. Ela se aplica à análise de documentos e seu uso pelo historiador (EF06HI02 e EM13CHS101), e para analisar os impactos da conquista europeia para as populações nativas (EF07HI09 e EF07HI10).
O trabalho da Carta como documento histórico traz a oportunidade do aluno experimentar o ofício do paleógrafo traduzindo um documento do século XV. Veja mais informações no ítem abaixo, “O trabalho do paleógrafo”.
O trabalho do paleógrafo
A leitura de um documento primário antigo não é tarefa fácil nem para os especialistas. Por isso, é importante apresentá-lo aos alunos. Se possível, faça os alunos verem a Carta nos sites indicados acima e observarem: a letra manuscrita (qual era o instrumento de escrita usado na época?), a grafia das palavras (a escrita tem uma história?), a quase ausência de pontuação, a inexistência de letras maiúsculas etc.
Comente sobre o trabalho do paleógrafo e a importância da Paleografia (o estudo de textos manuscritos antigos) como ciência auxiliar para a História, assim como os arquivos e a Arquivologia (ou Arquivística) para a preservação e restauração dos documentos. Cite exemplos de arquivos na cidade (públicos, particulares, das escolas, igrejas, delegacia etc.).
Observando o documento na Internet, faça uma análise crítica destacando o seguinte:
1. O documento em si
- Tamanho, suporte, tipo de escrita, material utilizado.
- Local onde está guardado.
- Condições físicas do documento (se bem conservado ou não, se inteiro ou fragmentado).
2. Características do documento*
- Estilo da caligrafia.
- Grafia das palavras e a gramática.
- Abreviações (usadas para escrever mais rápido e economizar papel).
- Os números (no documento são usados algarismos romanos).
*Esses detalhes ajudam os paleógrafos a identificarem falsificações antigas ou mais recentes comparando com documentos autênticos.
3. Contexto histórico
- Em que circunstâncias históricas foi produzido.
- Data e local onde foi produzido.
- Autoria: nome do autor e seu papel histórico.
- Destinatário: para quem foi escrito.
- Intenção do documento: relatar fatos, descrever um episódio, solicitar algo, denunciar etc.
Fonte
- Arquivos Nacionais, Torre do Tombo, Lisboa, Portugal.
- Biblioteca Digital, da Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal
- Carta de Pero Vaz de Caminha (documento integral). NUPILL – Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística.
- CORTESÃO, Jaime (ed.). A carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943.
- PRIORE, Mary del. Documentos históricos do Brasil. São Paulo: Panda Books, 2016.
- VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Para os alunos lerem
- ASTURIANO, Poliana e MATIAS, Rodval. A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: FTD, 1999. Trata-se de uma obra paradidática, para crianças, que traz o texto integral da Carta em linguagem atual, baseada na versão feita por Jaime Cortesão. As ilustrações são artísticas porém cuidadosas para manter a verossimilhança. É uma boa opção para os estudantes mais novos conhecerem a narrativa com uma apresentação primorosa e linguagem acessível.
bom