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Minotauro: o mito e suas múltiplas leituras e simbolismos

15 de junho de 2015

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BNCC

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Uma criatura monstruosa, com a cabeça e a cauda de touro e o corpo de homem, o Minotauro era o flagelo da  população de Creta. Vivia encerrado no Labirinto e seu apetite só era saciado com vítimas humanas. Até que um dia,  o príncipe ateniense Teseu decidiu matá-lo pondo fim ao trágico tributo imposto à cidade de Atenas de enviar anualmente sete moças e sete rapazes para serem devorados pelo Minotauro.

O mito do Minotauro atravessou os tempos aparecendo nos poemas clássicos, nos mosaicos greco-romanos e na arte da Renascença. Ele é mostrado no centro de muitas representações do Labirinto. Foi mencionado por Dante Alighieri, em A Divina Comédia, no canto 12, quando Dante e seu guia Virgílio buscam caminho entre pedregulhos na encosta para entrar no sétimo círculo do inferno. Está nas pinturas de Salvador Dali, René Magritte, Max Ernst, Diego Rivera e Pablo Picasso que lhe dedicou uma série de gravuras.

  • BNCC: 6° ano – Habilidade: EF06HI09

Mais recentemente, o Minotauro foi tema do videogame de realidade virtual Theseus (2017). Em Assassin’s Creed: Odyssey (2018) o personagem principal (Alexios ou Kassandra) visita as ruínas do Palácio de Knossos para matar o Minotauro no Labirinto das Almas Perdidas.

Este artigo remete para atividades no Site Stud História, Veja no final.

O mito do Minotauro

Conta-se que Minos desejando ser rei de Creta rogou a Poseidon, o deus dos mares, que enviasse um sinal divino que mostrasse a todos que ele era o escolhido pelos deuses. Poseidon atendeu-o com uma condição: faria surgir um belo animal e Minos deveria sacrificá-lo imediatamente ao deus.

Minos concordou, e viu sair das águas um magnífico touro branco de chifres dourados.  O deus cumpriu sua parte no trato porém Minos diante de um animal tão esplêndido, não cumpriu a promessa. Guardou o touro para si e sacrificou outro animal para o deus. Poseidon ficou furioso em ter sido enganado e, por vingança, inspirou Pasífae a jovem esposa do rei, a se apaixonar loucamente pelo touro branco de chifres dourados. Dos amores entre Pasífae e o touro* nasceu um ser monstruoso, meio humano meio animal, o Minotauro.*

Horrorizado e cheio de vergonha, Minos encomendou ao artista ateniense Dédalo a construção de um imenso palácio, o Labirinto, tão cheio de corredores que se entrecruzavam e de aposentos dispostos de tal maneira que quem nele entrasse não conseguisse sair mais. O Minotauro foi deixado no Labirinto. O apetite voraz do monstro só era aplacado com vítimas humanas jovens.

[*Esta parte do mito foi suprimida no texto de download por ser inadequada para alunos pequenos. A supressão não compromete a posterior interpretação e análise do mito.]

Teseu mata o Minotauro, mosaico

O tema do labirinto aparece em numerosas obras greco-romanas como esse mosaico de 300-400 d.C. No centro do labirinto, Teseu mata o Minotauro. Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria.

Tempos depois, aconteceu de um filho de Minos ter sido morto em Atenas, cidade tributária de Creta. Furioso, o rei exigiu que a cidade enviasse sete rapazes e sete moças, a cada sete anos (ou nove ou anualmente, as versões divergem) para serem devorados pelo Minotauro. Quando o terceiro sacrifício se aproximou,  Teseu ofereceu-se para matar o monstro. Egeu, seu pai, mandou preparar o navio com velas pretas, em sinal de luto. Incluiu também um jogo de velas brancas recomendando a Tese que, se voltasse vitorioso, mandasse hastear as velas brancas.

Chegando a Creta,  Teseu conheceu a princesa Ariadne, filha de Minos que se apaixonou pelo jovem ateniense. Decidida a ajudá-lo a sair do Labirinto, ela lhe deu um novelo de lã que Teseu deveria amarrar na entrada e ir desenrolando à medida que caminhasse para o interior da complicada construção.

Teseu e Ariadne na entrada do Labirinto

Teseu e Ariadne na entrada do Labirinto, Richard Westall, 1810, North Lincolnshire Museums

Ariadne impôs uma condição a Teseu: que ele a desposasse e a levasse consigo para Atenas.  Teseu matou o Minotauro com a espada de Egeu e, guiado pelo novelo de lã, levou os outros jovens para fora do labirinto. Embarcaram de volta à Atenas levando Ariadne com eles. No caminho, o navio parou em Naxos. Ariadne desceu e adormeceu na praia.  Quando acordou estava só. Teseu a havia abandonado.

Aproximando-se de Atenas, Teseu esqueceu de trocar as velas pretas pelas brancas. Egeu, em um ponto alto, avistou de longe o navio com a vela preta se aproximando. Presumindo que o filho estivesse morto, suicidou-se atirando-se ao mar que, desde então, recebeu o seu nome.

A arqueologia à procura do Minotauro

A escrita minoica permanece indecifrada. As fontes escritas para se conhecer a civilização minoica são indiretas, sendo a maioria delas relatos deixados pelos antigos gregos, entre os quais, o mito do Minotauro.

O nome de Minos ainda é um mistério. Desconhece-se se era o nome de um governante, de uma dinastia de Cnossos ou um termo minoico para designar rei. De qualquer forma, Minotauro significa “o touro de Minos”, uma alusão à dominação exercida pelo governante de Cnossos, para quem os povos dominados deviam pagar pesados tributos. Nesse sentido, a decisão de Teseu de eliminar o Minotauro é uma oposição à dominação exercida por Minos sobre os atenienses.

Reconstituição artística do palácio de Cnossos segundo Arthur Evans.

Reconstituição artística do palácio de Cnossos segundo Arthur Evans que escavou o local entre 1900 e 1935. O palácio possuía cerca de 1300 salas conectadas com corredores de tamanhos variados e ocupava uma área de 24.000 m2.

As escavações realizadas em Creta durante 30 anos por Arthur Evans (1851-1941) revelaram muitas evidências que remetem ao mito do Minotauro. O gigantesco Palácio de Cnossos, com seu intrincado desenho arquitetônico repleto de corredores e milhares de salas, sugere tratar-se de um labirinto do Minotauro.

O símbolo sagrado minoico, um machado de dois gumes que decorava as colunas e nas paredes do palácio, era chamado de labyrs, palavra que identificava o palácio de Cnossos como o “palácio do labyrs” o que acabou por associá-lo a “labirinto”.

Outra referência ao mito são as numerosas pinturas e esculturas de touros e touradas encontrada nas escavações. O touro era considerado um animal sagrado e a a tauromaquia (“jogo do touro”) representada nos afrescos, devia fazer parte de uma festividade religiosa. Neste jogo, uma espécie de tourada sem que o animal fosse morto, consistia em perigosas acrobacias feitas por homens e mulheres. Os participantes deviam agarrar-se nos chifres do touro, dar um impulso e saltar sobre as costas do animal, caindo de pé atrás dele.

Afresco jogo do touro, Cnossos

Afresco representando a tauromaquia, o jogo do touro, Cnossos, Creta

Figura de touro, afresco

Figura de touro, afresco em relevo, restaurado, palácio de Cnossos, Creta.

 O mito e sua simbologia

O labirinto é, essencialmente, um entrecruzamento de caminhos que constituem impasses, dificuldades que retardam a chegada do viajante ao centro que deseja atingir. Seu desenho era conhecido no Egito Antigo, estava representado no oráculo de Cumas, nos petroglifos de Nazca e nas lajes das catedrais góticas simbolizando o caminho percorrido pelo eleito, aquele que é digno de chegar ao centro, isto é, à revelação misteriosa. Uma vez atingido o centro, o eleito está consagrado e introduzido nos mistérios aos quais fica ligado pelo segredo.

O labirinto é, também, o símbolo da autorreflexão: concentrar-se em si mesmo, não se deixar desviar por outras escolhas ou ideias (caminhos) para atingir o centro. O labirinto conduz o homem ao interior de si mesmo onde reside um tesouro: a essência de sua humanidade.

Labirinto catedral de Chartres, séc. XIII

Labirinto desenhado no piso da catedral de Chartres, França, séc. XIII (foto via Fashion Cloud).

O fio de Ariadne, por sua vez, é o fio dourado que conduz Teseu para chegar ao seu destino e depois sair da escuridão e retornar à luz. Metáfora da sabedoria, da luz interior, da intuição, do autoconhecimento ou do amor (foi por amor que Ariadne ajudou Teseu), o simbolismo do fio de Ariadne inspirou poetas, escritores e filósofos em todas as épocas.

Na filosofia, a linha de Ariadne é a denominação de um método de resolução de problemas que permite seguir vestígios e ordenar a pesquisar para atingir um ponto de vista final desejado.

Quanto à Ariadne, trata-se de uma representação do mundo matriarcal. Segundo Arthur Evans, a civilização minoica era uma sociedade matriarcal cuja religião baseava-se exclusivamente na adoração de divindades femininas. A importância conferida à mulher na antiga Creta é atestada pelas numerosas imagens em que a mulher aparece exercendo funções religiosas, administrativas e políticas.

Teseu, por sua vez, é um herói representante do mundo patriarcal e da “pólis”. Em sua mitologia, ele é dito como aquele que reuniu poderosos “genos” em uma só “pólis”, promulgou leis, fundou a Boulé e adotou o uso da moeda. Ele é o herói fundador da sociedade masculina e patriarcal grega que exclui a mulher da cidadania. Teseu e Ariadne representariam dois mundos inconciliáveis àquela altura. O abandono de Ariadne em Naxos seria, assim, a explicação mítica do fim da sociedade matriarcal.

Na sequência do mito, Ariadne é encontrada por Dionísio que a faz sua mulher. Na celebração das núpcias, a deusa Afrodite ofereceu a Ariadne um maravilhoso diadema de ouro com brilhantes. Quando Ariadne morreu, o diadema se transformou na constelação Corona Borealis ou Coroa de Ariadne. Na Idade Média, astrólogos tentaram renomear a constelação como Coroa de Espinhos, sem sucesso.

Ao longo do tempo, a triste história de Ariadne, reduziu-se ao tema da mulher “seduzida e abandonada”. Poetas e escritores (Corneille, Victor Hugo, Nikos Kazantazakis, Marguerite Yourcenar etc.), escultores, pintores e músicos (Monteverdi, Haendel e Richard Strauss) criaram obras inspiradas no mito de Ariadne, a mulher infeliz que amou, foi usada e depois deixada.

Os escritores argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cortázar  resignificam o mito em contos pertencentes ao gênero fantástico. Em “Los dos reyes y los dos laberintos” (na obra “El Apeph”, de 1949) Borges opõe duas ideias de labirinto: um construído pelo homem, de bronze, portas e escadas,  construído para impedir o homem de entrar; o outro labirinto, em oposição, é o deserto. A disputa de labirintos é travada entre dois reis. Em “La casa de Asterión”, Borges confere voz e identidade ao Minotauro.

Na obra “Los Reyes” (1949), Julio Cortázar revisita o mito em um poema dramático pleno de significados como essa fala do Minotauro a Teseu: “Olha, só há um meio para matar os monstros: aceitá-los”.

É instigante lançar o desafio aos nossos alunos e ver que leitura eles fazem do mito à luz das questões que atormentam o homem. É o que propomos a seguir.

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Acessar

Fonte

  • AYMARD, A. e AUBOYER, J. O Oriente e a Grécia Antiga, v. 2. Rio de Janeiro, São Paulo: Difel, 1977.
  • GUIMARÃES, Ruth. Dicionário da mitologia grega. São Paulo: Cultrix, 1995.
  • GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil 1993.
  • BRANDÃO, Junito de Sousa. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1989.
  • BORGES, Jorge Luis. O Aleph. Rio de Janeiro: Globo, 2011.
  • CORTÁZAR, Julio. Os Reis. São Paulo: Civilização Brasileira, 2001.
  • KAZANTZAKI, Nikos. No palácio do rei Minos. São Paulo: Marco Zero, 1986.

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J.H.Domingues
J.H.Domingues
9 anos atrás

Parabéns mana, por mais este trabalho.

Ely
Ely
9 anos atrás

Muito interessante, um conteúdo muito rico, cheio de detalhes que até então não conhecia. Obrigada por enriquecer meus conhecimentos de História!

Gabriel Lyra
Gabriel Lyra
9 anos atrás

Muito bom!!!!!

trackback

[…] descoberta do Vale dos Artesãos mostrou outra faceta do Egito Antigo, para além dos faraós e seus feitos: ela revelou aspectos surpreendentes da vida cotidiana do […]

Dédalo Araújo de Amorim
Dédalo Araújo de Amorim
7 anos atrás

Muito legal!! Parabéns!

Pereira Brasil
Pereira Brasil
7 anos atrás

Excelente,artigo.

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