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Saque de Jerusalém e destruição do Segundo Templo

30 de agosto de 70

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Em 30 de agosto do ano 70 d.C., cerca de 70 mil soldados romanos sob comando de Tito, futuro imperador, ocuparam e saquearam a cidade de Jerusalém. O episódio foi o ponto alto da Primeira Guerra Judaico-Romana que, desde o ano 66 vinha provocando motins e atentados contra cidadãos romanos em protesto ao domínio de Roma e ao pagamento de tributos.

Jerusalém antes do cerco

No século I d.C., Jerusalém era uma posição muito defensável na época do cerco. A cidade foi construída em meio a vales, era elevada e totalmente cercada por muralhas. Tinha 7 quilômetros de diâmetro e podia acomodar cerca de 600 mil pessoas na época do cerco.

Herodes transformou a cidade, mandando construir importantes obras que lhe conferiam um caráter helenístico com seus palácios e torres que serviam de quartel às tropas que ocupavam a cidade.

Estava dividida em seções: a Cidade Alta no lado oeste, onde os cidadãos mais ricos residiam, o Monte do Templo no extremo leste, a Fortaleza de Antônia, ao norte protegida por uma segunda muralha. Durante a guerra, o povo de Jerusalém completou o terceiro muro mais externo.

Maquete de Jerusalém do século I: cidade baixa, Templo (no alto) e fortaleza Antônia, à esquerda.

O estopim da guerra

Havia descontentamento aberto entre o povo da Judeia e o governo romano desde que o imperador Nero (reinado 54-68) ordenara aumento de impostos. Com os protestos estourando, o Procurador romano  Gessius Florus saqueou o Segundo Templo reivindicando o dinheiro para o Império Romano. Essa ação, juntamente com as tensões preexistentes, levou revoltas a se espalharem por toda a Judeia, iniciando a Primeira Guerra Judaico-Romana (66-73).

Os revolucionários chefiados por Eleazar, filho do sumo sacerdote, ocuparam o templo e a fortaleza Antônia e, após dias de luta cruel, mataram todos os homens da II Legião, mesmo após terem se rendido, poupando apenas Metílio, prefeito do acampamento.

Ao mesmo tempo, membros da seita zelota encaminharam-se para a fortaleza de Massada, no mar Morto, e massacraram a legião romana lá baseada. Outro bando de rebeldes fez o mesmo na fortaleza de Chipre. Os rebeldes tinham se espalhado pelo interior do país e ocupado a Judeia e regiões vizinhas. Herodes Agripa II, soberano de Jerusalém, tentou conter a revolta e não conseguiu.

Caio Céstio Galo, governador da província romana da Síria, marchou com uma força de mais de 30 mil homens para restabelecer o controle romano na Judeia. Galo chegou às muralhas externas de Jerusalém em novembro de 66, com o inverno prestes a começar e com os rebeldes determinados a resistir à poderosa Roma. Após um cerco superficial de cinco dias, Galo inexplicavelmente ordenou que suas tropas se retirassem. No vale de Beth-horon, a coluna do general Galo foi rendida e quase totalmente dizimada pelos rebeldes.

Vespasiano no comando das legiões

Em Roma, o imperador Nero nomeou o general Vespasiano para pôr fim à revolta judaica. Com seu filho Tito, ao seu lado, Vespasiano estava a frente de quatro legiões reforçadas por guarnições do Eufrates e de Alexandria somando cerca de 70 mil homens. Os judeus contavam com uns 23.400 homens  divididos em facções antagônicas sob diferentes lideranças e que acabariam se matando uns aos outros.

Um dos líderes da resistência judia era José, um rebelde de 30 anos, que posteriormente assumiu o nome romano de Flávio Josefo. Ele foi cercado e derrotado em julho de 67 por Vespasiano e transferido para o acampamento romano. Diz-se que Josefo salvou-se ao profetizar que tanto Vespasiano quanto seu filho seriam imperadores de Roma. Ele acompanhou o exército romano no restante da campanha, dando conselhos e informações sobre seus antigos companheiros de armas.Tornou-se o cronista da guerra. É a partir de seus escritos que ficamos sabendo a maior parte do que aconteceu na guerra judaica.

Enquanto Vespasiano conquistava mais partes do país, eclodiu uma guerra civil em Jerusalém entre as facções judias. Neste ínterim, Nero suicidou-se em Roma (junho de 68) deixando o trono vazio. Vespasiano suspendeu as operações militares por um ano. Durante o tempo do cessar-fogo, os rebeldes ficaram envolvidos em lutas internas.

Em 1° de julho de 69, Vespasiano, com o apoio de suas legiões, foi aclamado imperador e retornou a Roma. Deixou na Judeia seu filho Tito que assumiu o comando das legiões e continuou a lutar contra os judeus.

Tito chega a Jerusalém na Páscoa

No comando das legiões, Tito tinha uma Judeia ainda convulsionada. Jerusalém e as fortalezas de Massada, Macharus e Herodion continuavam em poder dos rebeldes.

Em 14 de abril de 70, Tito e o exército romano marcharam sobre Jerusalém. Faltavam três dias para a Páscoa e a cidade de Jerusalém estava lotada.

Ao chegar, Tito saiu com batedores para inspecionar as áreas ao redor do Templo. Neste ponto, os rebeldes atacaram o grupo de batedores de Tito e quase mataram o general. Surpreendidos e fora de formação, os romanos perderam muitos homens nesta luta rápida. Após a escaramuça, os romanos estabeleceram um acampamento a leste da cidade no Monte das Oliveiras.

Tito mandou desmatar e nivelar o terreno para ter maior visibilidade e mobilidade. Os romanos estavam, agora, preparados para começar o cerco por completo com seu acampamento base estabelecido. Logo montaram outros três acampamentos ao redor da cidade.

Em vinte dias, Tito havia penetrado na segunda camada de defesa da cidade. Ordenou a construção de rampas e avançou os aríetes e as torres de cerco até a muralha. Após 17 dias, os preparativos foram concluídos, e Roma estava pronta para atacar a fortaleza.

Os judeus, porém, preparam uma surpresa aos romanos: cavaram uma galeria que passava por baixo da rampa recém-construída. A galeria foi preenchida com material inflamável e então incendiada. O incêndio destruiu o equipamento de cerco. Usando todos os recursos que tinham, os rebeldes foram capazes de frustrar a poderosa máquina militar romana.

A vitória dos judeus foi temporária. Quando o incêndio foi extinto, Tito ordenou um ataque à fortaleza. Embora a galeria fosse engenhosa, ela tinha uma falha fatal: enfraqueceu a fundação do forte e, após um dia do ataque, o muro desabou. Os romanos avançaram e conseguiram uma posição no Monte do Templo.

O Segundo Templo às vésperas da Primeira Guerra Judaico-Romana, maquete projetada pelo arqueólogo da Universidade Hebraica Michael Avi-Yonah, em 1966.

O assalto final a Jerusalém

Foram quatro batalhas no monte do Templo onde os judeus defenderam ferozmente sua posição. Foi somente na quarta batalha, em meio a um incêndio no Templo que os romanos venceram os judeus. Invadiram o Templo e o saquearam por suas riquezas (30 de agosto de 70 d.C.).

O restante do cerco veio com facilidade para os romanos.

A destruição do Templo não deu o controle da cidade aos romanos. Tito exigiu a rendição e diante da recusa dos judeus, ordenou o ataque e saque de toda cidade (25 de setembro) massacrando a população. e incendiando Jerusalém. Os líderes judeus Simão bar Giora e João de Giscala foram feitos prisioneiros e a população sobrevivente, escravizada e levada para trabalhar no campo, nas minas ou nas galés. Homens mais fortes foram transformados em gladiadores.

Segundo Flávio Josefo, o número de prisioneiros de guerra foi de 97 mil e os mortos durante o cerco, 1,1 milhão o que pode parecer exagerado embora deva ser lembrado que o cerco começou pouco antes da Páscoa, festa de peregrinação onde os judeus costumavam ir para Jerusalém.

No triunfo de Tito, 700 prisioneiros, incluindo Simão bar Giora e João de Giscala, desfilaram acorrentados pelas ruas de Roma. João de Gischala morreu na prisão e Simão bar Giora foi executado após o triunfo no altar de Júpiter Capitolino.

Entre os espólios exibidos no triunfo estavam a Menorá e a Mesa dos Pães da Presença Divina. Até então, esses objetos só haviam sido vistos pelo sumo sacerdote do Templo.

Reconstrução do painel do Arco de Tito mostrando as tropas romanas levando os espólios de Jerusalém para Roma.

Após o cerco de Jerusalém e destruição do Templo

A queda de Jerusalém não marcou exatamente o fim da guerra porque algumas fortalezas permaneceram nas mãos dos judeus. A Primeira Guerra Judaico-Romana ainda seria travada por mais três anos.

Em 73 d.C., os romanos se apoderarem de Massada, palácio-fortaleza do rei Herodes, no topo de uma montanha acima do Mar Morto, onde se encontravam os defensores, sob a liderança de Eleazar ben Yair. Encurralados, eles se suicidaram com as suas mulheres e filhos para evitarem a rendição. Morreram 960 pessoas; duas mulheres e cinco crianças escondidas sobreviveram e testemunharam os acontecimentos.

A queda de Jerusalém marcou o início da segunda diáspora (dispersão dos judeus pelo império). Todo o território judeu torna-se uma província imperial, a Judeia, administrada diretamente por um governador pretoriano. Veteranos do exército romano fundaram várias colônias. As contribuições do templo passaram a ser feitas na forma legal de fiscus judaicus ao Templo de Júpiter Capitolino.

A vitória legitimou Vespasiano e Tito como imperadores e o início da Dinastia Flaviana.

A destruição do Templo marcou uma mudança importante no culto judaico. Os fariseus estabeleceram o culto em novas bases, fazendo da oração o ponto central da adoração em vez do sacrifício e estabelecendo a sinagoga como um local de culto, substituindo o Templo. À sua frente, já não existe um sacerdote, descendente de Aarão, mas um rabino que é o mais sábio ou mais culto dos membros da comunidade.

A memória de Jerusalém e do Templo ainda está no centro do culto judaico. A oração diária da manhã deseja a reconstrução de Jerusalém e os judeus evocam, durante alguns eventos solenes, a memória de Jerusalém e do seu Templo. Dois jejuns relembram a queda do Templo: o jejum de 17 de Tamuz recorda a primeira brecha nos muros de Jerusalém e o de 9 de Av, o dia mais triste do Judaísmo, em memória da destruição do primeiro e segundos templos.

A cerimônia do Seder de Páscoa inclui um ovo cozido, alimento de luto que lembra o Templo de Jerusalém, e finaliza com as famílias judias desejando “no próximo ano em Jerusalém” (os que residem na cidade dizem “Jerusalém reconstruída”). No casamento judaico, noivo quebra um copo no final da cerimônia em memória da perda do Templo de Jerusalém, fato todo judeu deve lembrar, mesmo em momentos de alegria.

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