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Fim da Grande Marcha, de Mao Tsé-Tung, China

20 de outubro de 1935

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Em 20 de outubro de 1935, terminava a Grande Marcha ou Longa Marcha do Exército de Libertação Popular, denominação das tropas do Partido Comunista Chinês (PCC) liderado por por Mao Tsé-Tung.

O exército, composto por 86 mil homens (soldados e camponeses) percorreu 9.650 quilômetros em um ano de marcha (16/10/1934 a 20/10/1935) em condições extremamente duras. Durante a jornada, morreram cerca de 90% do contingente incluindo um irmão de Mao Tsé-Tung.

A marcha foi uma retirada militar durante a Guerra Civil Chinesa para fugir à perseguição do exército do Kuomintang ou Partido Nacionalista Chinês.

Mao Tsé-Tung em foto de 1936.

Origem do conflito

O Partido Nacionalista Chinês ou Kuomintang (KMT) governava, então, a jovem República da China (proclamada em 1912 com a deposição da dinastia Qing ou manchu) com apoio da URSS que, inclusive, armou o Exército Revolucionário Nacional.

O Partido Comunista da China (PCC), fundado em 1921 com apoio soviético, colaborou inicialmente com os nacionalistas do Kuomintang.

Após a morte inesperada do líder e fundador do KMT, em março de 1925, abriu-se uma luta pelo poder dentro do partido que acabou por favorecer Chiang Kai-shek, um jovem soldado. Em 1928, Chiang Kai-shek tornou-se o líder do KMT, mantendo a aliança com a URSS.

Chiang Kai-shek rompeu a cooperação com o Partido Comunista, expulsou os comunistas do governo e lançou campanhas de perseguição contra os seus líderes e militantes. Os comunistas, após várias tentativas fracassadas de provocar insurreições urbanas, formaram suas próprias forças armadas, o Exército Vermelho (mais tarde renomeado Exército de Libertação Popular).

O confronto ideológico entre o Partido Comunista e o KMT transformou-se em conflito bélico. A Guerra Civil Chinesa (1927-1937, em sua primeira etapa) enfraqueceu, mas não derrotou o PCC.

Foi nesse contexto que Mao Mao Tsé-Tung, um jovem membro do PCC, liderou o movimento rural que se estendeu por toda uma extensa área montanhosa nas províncias meridionais de Jiangxi e Fujian. Essa área controlada do PCC de Mao foi o embrião de um novo estado chinês, a República Soviética Chinesa.

O início da Longa Marcha

As forças nacionalistas cercaram as tropas comunistas, forçando-as abandonar as suas posições no Sul. O Exército Vermelho dividiu-se em três colunas que tomaram rotas diferentes viajando milhares de quilômetros pelo oeste e centro da China, até de se reunirem na nova base comunista de operações localizado na província noroeste de Shaanxi.

A mais famosa dessas marchas foi realizada pelo primeiro Exército Vermelho sob Mao Tsé-Tung, identificada como a Longa Marcha. Partindo de sua base na província de Jiangxi, no sul do país, na madrugada de 16 de outubro de 1934, o primeiro Exército Vermelho marchou mais de 9 mil quilômetros em um grande arco no sentido horário até se encontrar com as outras forças comunistas em Yan’an em 19 de outubro de 1935.

A Grande Marcha liderada por Mao Tsé-Tung (linha vermelha) que percorreu a China do Sul ao Norte em um grande arco no sentido horário.

 

A rota tortuosa exigiu que o primeiro Exército Vermelho passasse por alguns dos terrenos mais difíceis do país, evitando assim o confronto com os nacionalistas Chiang Kai-shek.

Ao iniciar a viagem, a Grande Marcha era composta por cerca de 86 mil homens, entre os quais 15 mil membros não militares do partido. Também viajavam no grupo 35 mulheres, esposas de altos funcionários.

Enquanto os comunistas realizavam sua jornada pelo interior do país, as  forças de Chiang Kai-shek desmantelaram a República Soviética Chinesa. O pessoal administrativo sobrevivente fugiu transportando vários pertences, como uma máquina de raios X, as reservas de ouro e prata e todos os livros da biblioteca. A República Soviética da China tornou-se assim um Estado itinerante, em busca de território.

Em 30 de novembro de 1934, o Exército Vermelho enfrentou as tropas do exército de Chiang Kai-shek no mais feroz dos combates, a Batalha do Rio Xiang. As baixas e deserções reduziram o número de participantes da marcha para cerca de 30 mil soldados, que conseguiram superar o bloqueio dos nacionalistas e seguiram em sua jornada.

Mao Tsé-Tung durante a Grande Marcha de 1934-1935, montado em seu pequeno cavalo branco, seguido por sua primeira esposa, Yang Kaihui.

O Encontro de Zunyi: ascensão de Mao ao poder

Depois de cruzar o rio Xiang, os sobreviventes da Grande Marcha continuaram sua viagem através da província de Guizhou, no sul.

Em 7 de janeiro de 1935, o Primeiro Exército Vermelho assumiu o controle de Zunyi (atual capital da província de Guizhou), um dos principais centros comerciais da província, e a maior cidade que os comunistas controlariam durante toda Longa Marcha.

Em Zunyi, os combatentes passaram vários dias descansando e planejando o futuro da operação. Ali foi realizada a histórica reunião de líderes partidários que confirmaria a ascensão de Mao ao poder e que marcaria o futuro do Partido Comunista da China.

Note-se, porém, que esta interpretação tem sido criticada por alguns historiadores devido à escassez de fontes e ao fato das primeiras menções à resolução Zunyi são todas posteriores a 1949.

Como em tantos outros episódios da Longa Marcha, o Encontro de Zunyi mostra as dificuldades de distinguir o mito da realidade numa história recheada de elementos de propaganda e exaltação da figura de Mao Tsé-Tung.

Um caso especialmente representativo deste debate é o da Batalha do Rio Xiang que, na versão oficial do Partido Comunista Chinês, o Exército Vermelho foi reduzido de 86.000 para apenas 30.000 homens devido às mortes em combate. Segundo o historiador chinês Sun Shuyun, o número de mortes em combate não teria sido tão elevado e, provavelmente, a maioria das baixas foi causada por situações nada honrosas como deserções, doenças, frio e fome.

É inegável, porém, que a Grande Marcha foi o marco mais importante na história do Partido Comunista da China durante o seu período clandestino, marcou a ascensão definitiva ao poder de Mao Tsé-Tung e a derrota dos seus rivais políticos.

Da Longa Marcha à vitória da Revolução Chinesa

Em 20 de outubro de 1935, o Primeiro Exército Vermelho de Mao Tsé-Tung chegou à província de  Shaanxi e juntou-se às forças comunistas locais. A seguir, chegaram os remanescentes do Quarto Exército Vermelho em um estado tão precário que Zhang, seu líder, mesmo sendo membro fundador do Partido Comunista, nunca foi capaz de desafiar a autoridade de Mao.

Um ano depois, em 22 de outubro de 1936, os combatentes do Segundo Exército Vermelho juntaram-se ao primeiro e quarto exércitos  (não existe um “terceiro exército”) em Yan’an. Essa data, conhecida pela historiografia chinesa como a “união dos três exércitos”, foi o fim definitivo da Longa Marcha, com todas as forças comunistas já agrupadas num só lugar.

Apesar do sucesso do reagrupamento final dos exércitos, o Partido Comunista encontrava-se numa situação de extrema fragilidade no final da Grande Marcha, controlando apenas uma zona montanhosa no Norte, de pouca relevância estratégica e muito distante das grandes cidades e indústrias chinesas. A percepção, naquela altura, era de derrota do Exército Vermelho.

Um fato, porém, mudou o rumo da história: a invasão japonesa em 7 de julho de 1937. Diante da agressão de um inimigo externo, Chiang Kai-shek mudou de planos: ao invés de atacar as bases de poder comunistas, foi forçado a aceitar a colaboração das forças de Mao Tsé-Tung para combater os japoneses. Em 7 de agosto de 1937, os dois líderes acordaram formar a chamada “segunda frente unida” para expulsar os japoneses, uma guerra se estendeu até 1945.

Chiang Kai-shek ao centro (de braços para trás) e Mao Tsé-Tung à direita em agosto de 1937.

A mudança de situação permitiu a Mao consolidar o seu controle no noroeste do país e, sob o espírito da Longa Marcha sempre presente, manter a luta primeiro contra o exército japonês e, depois de 1945, novamente contra os nacionalistas de Chiang Kai-shek até à vitória final da Guerra Civil Chinesa (1945-1949).

Vitoriosos, os comunistas proclamaram, no dia 1 de outubro de 1949, a República Popular da China e tornaram Mao Tsé-Tung o novo líder supremo do país.

Mao Tsé-Tung declarando a fundação da República Popular da China, outubro de 1949.

Mao Tsé-Tung: um personagem polêmico

Mao Tsé-Tung chegou ao poder comandando a Longa Marcha, formando uma frente unida contra o exército do Kuomintang, iniciada na Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) até vitória contra o generalíssimo Chiang Kai-shek na Guerra Civil Chinesa (1946-1949).

Ele se intitulava “O Grande Timoneiro” e seus partidários afirmam que ele foi responsável por uma série de mudanças positivas na China durante as três décadas de seu governo, entre elas:

  • abolição dos latifúndios e ampla reforma agrária,
  • duplicação da população escolar,
  • moradias para toda população,
  • fim do desemprego e da inflação,
  • acesso universal à saúde,
  • melhoria da qualidade de vida e aumento da expectativa de vida.

O seu Partido Comunista ainda é a força política dominante e única na China, detém os meios de produção, controla a economia e dirige a educação e a cultura. Como resultado desses fatores, Mao ainda possui alta consideração pela população chinesa que o considera um grande estrategista político, mentor militar e “salvador da nação”. Os maoístas também exaltam seu papel como um teórico, estadista, poeta e visionário.

Muitos chineses acreditam também que, através de suas políticas, Mao lançou os fundamentos econômicos, tecnológicos e culturais da China moderna, transformando o país de uma ultrapassada sociedade agrária em uma grande potência mundial. Como consequência, seu enorme retrato continua exibido na Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial), nas ruas de todas as cidades e nas cédulas  do país.

Sua contribuição teórica para o marxismo-leninismo, as estratégias militares, suas ideias e políticas são conhecidas como maoísmo.

Inversamente, no Ocidente, o legado de Mao é contestado e seus programas sociais e políticos, como o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural, são apontados como causadores da fome que matou milhões de chineses e provocou enormes danos à sociedade, à economia e à cultura do país.

Embora Mao tenha incentivado o crescimento populacional e a população chinesa quase tenha duplicado (de cerca de 550 a mais de 900 milhões), suas políticas e os expurgos políticos de seu governo entre 1949 a 1976 provocaram a morte em massa de 50 a 80 milhões de pessoas.

Os opositores de Mao denunciam as severas consequências sociais e políticas de suas campanhas, entre elas:

  • a Grande Fome Chinesa (1959-1961),
  • o suicídio em massa provocado pelas campanhas Três-Anti (anti-corrupção, anti-resíduos, anti-burocracia)  e Cinco-Anti (anti-suborno, anti-roubo de bens do Estado, anti-evasão fiscal, anti-fraude em contratos do governo, anti-roubo de informações)
  • a perseguição política durante a reforma agrária chinesa,
  • a repressão política durante o Movimento Sufan para eliminar os contrarrevolucionários,
  • os expurgos durante a Campanha Antidireita que perseguiu indivíduos acusado de serem direitistas,
  • a perseguição durante a Campanha de Educação Socialista.

Essas campanhas foram também culpadas pelos danos causados à cultura chinesa com a destruição de relíquias históricas e saques aos locais religiosos.

Apesar dos objetivos declarados de Mao de combater a burocracia e promover a rápida industrialização da China, os duros métodos para alcançá-los, incluindo tortura e execuções, têm sido amplamente denunciados.

Após a morte de Mao, durante o governo de Deng Xiaoping (1978-1992) muitas políticas maoístas foram abandonadas em favor de reformas econômicas e de abertura do país ao capital estrangeiro.

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