Em 10 de janeiro de 49 a.C., Júlio César, desafiando o Senado atravessou o rio Rubicão com a sua legião. Esse pequeno rio, no centro da Itália, separava a Gália Cisalpina, uma província romana, do território administrado diretamente pelos magistrados romanos, isto é, a cidade de Roma e o restante da península italiana. A lei de Roma proibia qualquer pessoa de atravessar este rio com um exército, a menos que expressamente autorizado pelo Senado. A atitude de Júlio César violava a lei e lançava um desafio mortal ao Senado.
- BNCC: 6º ano. Habilidades: EF06HI09, EF06HI11, EF06HI12, EF06HI13
A República em crise
A República romana estava, então, bastante enfraquecida. Nada restara do primeiro Triunvirato constituído dez anos antes por César, Pompeu e Crasso para pôr fim às guerras civis. Crasso estava morto, e a aliança entre Pompeu e César se desfez com a morte de Júlia, esposa de Pompeu e única filha de César. Sem mais o laço familiar que os unia, Pompeu e César transformam-se em inimigos disputando o poder.
Enquanto César lutava na Gália contra Vercingetórix, chefe gaulês, Pompeu, em Roma, realizava reformas legais e políticas que criavam dificuldades para César concorrer ao consulado depois do final de seu mandato na Gália. Diante dessa situação, César decidiu retornar a Roma para concorrer à eleição como cônsul. Porém, ele não tinha permissão para entrar em Roma com seu exército. O Rubicão era a fronteira entre a província da Gália e a Itália e, ao atravessá-lo armado e com suas tropas, ele cometeu uma clara violação da lei.
Depois do Rubicão: a guerra entre César e Pompeu
A travessia do Rubicão por César foi entendida como uma declaração e guerra. Os opositores de César, acreditando que ele estava invadindo a Itália com suas forças tropas, fugiram imediatamente.
Pompeu ordenou que a capital romana fosse abandonada e rumou mais ao sul com suas legiões onde pretendia travar uma guerra contra César. As coisas, porém não saíram como Pompeu imaginava. Teve início uma verdadeira caçada levando Pompeu a fugir para a Macedônia.
O confronto definitivo ocorreu na Batalha de Farsalos, na Grécia, em 48 a.C., um confronto amargo para ambos os lados. Pompeu, apesar de de seu exército mais numeroso, não conseguiu vencer os experientes veteranos de César. Derrotado, Pompeu fugiu com sua esposa e filho para o Egito, o mais poderoso dos reinos orientais aliados de Roma.
Segundo Plutarco, no momento que desembarcava na costa egípcia, Pompeu foi esfaqueado até a morte. Sua cabeça foi cortada e seu corpo despido foi jogado no mar. Filipe, um dos libertos de Pompeu que havia embarcado no barco, embrulhou-o com sua túnica e fez uma pira funerária na praia. Pompeu morreu um dia antes de seu aniversário de 58 anos.
Quando César chegou ao Egito alguns dias depois, ele recebeu como presente de boas-vindas, uma cesta com a cabeça de Pompeu e seu anel. Ficou horrorizado e considerou um insulto à grandeza de seu antigo aliado e genro. Puniu seus assassinos e conspiradores egípcios.
No final de 45 a.C., Pompeu foi deificado pelo Senado a pedido de César. Ironicamente, César foi assassinado, no ano seguinte, em 15 de março de 44 a.C., no Senado, aos pés da estátua de Pompeu.
O que dizem as fontes sobre a travessia do Rubicão
A travessia do Rubicão foi narrada por Suetônio, segundo o qual, no momento da travessia do rio, Júlio César teria dito em latim: Alea iacta est ou Alea jacta est (“O dado foi lançado”). Plutarco e Appiano também concordam com o fato de César ter dito uma frase ao atravessar o Rubicão. É bem provável que o general romano tivesse falado em grego, a língua das elites romanas da época: Anerrifthô Kubos (“É jogado o dado!”).
Interessante observar que, o próprio César, não menciona a frase em sua obra Commentarii de bello ciuli (“Os comentários sobre a guerra civil”) e sequer sobre a passagem do Rubicão, talvez para não se comprometer já que atravessava o rio ilegalmente.
A expressão Alea iacta est foi traduzida pelo senso comum como “A sorte está lançada” significando a tomada de decisão em uma situação arriscada que pode ter consequências irreversíveis, mas ainda não previsíveis.
Fonte
- PLUTARCO. Alexandre e César. Vidas Paralelas. São Paulo: Escala, 2000.
- SUETÔNIO. Vida dos Doze Césares. São Paulo: Martin Claret, 2012.
- “Iacta alea est” y otras frases de César. Revista de Humanidades Sárasuati. 28 abr 2010.
Saiba mais
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