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O Grande Cisma do Ocidente: a Europa dividida entre dois (ou três) papas

21 de setembro de 2019

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BNCC

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O Cisma do Ocidente ou Grande Cisma foi uma crise papal da Igreja Católica, ocorrida no final da Idade Média, entre 1378 e 1417 que, por quase quarenta anos, dividiu a cristandade católica em dois papas rivais.

O cisma foi consequência da permanência do Papado na cidade francesa de Avignon por quase setenta anos (1309-1378). Ali residiram sete papas seguidos, no período que ficou conhecido como o Papado de Avignon.

Em 1377, o papa Gregório XI decidido a retomar o trono de São Pedro regressou a Roma onde faleceu pouco tempo depois. A população italiana, desejando que o papado fosse restabelecido em Roma, pressionou a eleição de um papa romano. Foi eleito o italiano Urbano VI.

O novo papa, contudo, de forte temperamento autoritário, logo entrou em atrito com os cardeais. Insatisfeitos, um grupo de 13 cardeais, retirou-se de Roma e iniciou uma campanha contra Urbano VI, preparando-se para uma segunda eleição.

Em 20 de setembro de 1378, eles escolheram um novo papa que tomou o nome de Clemente VII. Este instalou sua residência em Avignon. O Cisma do Ocidente começava.

Por quase quarenta anos, a cristandade europeia ficou dividida entre dois papas simultâneos, um em Avignon e outro Roma. Teve, ainda, por um curto período, um terceiro papa residente em Pisa. Os papas de Avignon e de Pisa foram chamados de antipapas.

  • BNCC 6° ano. Habilidade: EF06HI18
Grande Cisma do Ocidente

Ilustração em um mapa medieval mostra Roma personificada como uma viúva de luto que sofre a perda do papado. Biblioteca Nacional da França.

Contexto: a crise do séc. XIV

O Grande Cisma do Ocidente (1378-1417) insere-se no período em que a Europa passava por crises e dificuldades: a Crise do Séc. XIV, causada por motivos diversos.

O crescimento e a prosperidade que, até então, vinham acontecendo foram estancados pelo colapso demográfico (Peste Negra e Fome), a instabilidade política, as revoltas religiosas (heresias) e populares, como a Jacquerie (1358) e a Revolta camponesa de 1381.

Para agravar a situação, ocorreram constantes guerras como a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre Inglaterra e França que acentuou a penúria europeia.

O sistema feudal estava se transformando e não atendia mais às necessidades de uma sociedade em mudança. A moeda, cada vez mais em evidência por força do desenvolvimento urbano e comercial, abalou a poderosa ordem dos senhores feudais. Em declínio, muitos procuraram novas fontes de lucro, entre elas, a guerra e o banditismo, formando companhias de mercenários a serviço de reis e de cidades.

A Igreja Católica não tinha mais o papel cultural e social hegemônico que possuía desde início da Idade Média. Enfraquecida, ia perdendo força no jogo político. Enquanto isso, os monarcas europeus fortaleciam seu poder. Ocorria, então, a formação dos Estados-nação (monarquias nacionais).

Poder espiritual x poder temporal

Duas forças poderosas e antagônicas, uma em declínio e outra em ascensão, logo entrariam em choque. Exemplo disso foi o célebre episódio entre o Bonifácio VIII, “o papa que desejava ser também imperador “ (ARNALDI, 2002, p.584), e o rei da França Filipe IV, o Belo, que se recusava a obedecer ao papa.

O rei francês não admitia qualquer poder fora de seu controle e, com isso, entrou em conflito com Bonifácio VIII que alegava o direito papal sobre todos os homens, mesmo os soberanos.

As tensões entre ambos cresceram com ameaças mútuas. Na noite de 7 para 8 de setembro de 1303, tropas francesas com 600 cavaleiros e 1500 peões, investiram contra a pequena cidade de Anagni, onde o papa residia durante o verão. Obrigaram os guardas do castelo a lhes abrirem passagem e foram aos aposentos do papa.

Grande Cisma do Ocidente

O chefe das tropas francesas, Sciarra Colonna, dá um tapa no rosto do papa Bonifácio (1303), o desdobramento desse episódio foi a transferência do papado para Avignon. Gravura de François Guizot, 1882

Em uma cena humilhante, insultaram o papa e exigiram sua renúncia. Ante a negativa e arrogância deste, o chefe da tropa esbofeteou Bonifácio VIII, com a mão coberta pela luva de ferro da armadura. Sob a violência do golpe, o papa caiu no chão onde recebeu novos golpes. O papa morreu um mês depois enlouquecido e desmemoriado.

Seu sucessor, Bento XI intimou os atacantes e o rei da França. Mas o processo não avançou já que o papa morreu nove meses depois sob suspeita de envenenamento.

Elegeu-se novo papa, Clemente V, de origem francesa. Este, cooperando com o rei francês suspendeu todas as sentenças contra Felipe IV e seus assessores e, em 1309, concordou em mudar a sede do papado para Avignon, além de dar uma grande ajuda ao rei na supressão da Ordem dos Templários.

A atitude de Felipe IV, enfraqueceu o poder temporal do papado e colaborou para diminuir a noção teocêntrica, característica da Idade Média.

O Grande Cisma do Ocidente (1378 a 1417)

Por quase setenta anos, a cidade francesa de Avignon foi residência dos papas até que, em 1377, o papa Gregório XI decidiu regressar a Roma, onde faleceu pouco tempo depois.

Seguiu-se então a escolha de novo papa sendo eleito o italiano Urbano VI. Sua escolha foi contestada por um grupo de cardeais, na maioria franceses, que, em 20 de setembro elegeram o francês Clemente VII. Este assumiu sua residência em Avignon. O Cisma do Ocidente começava com a existência de dois papas eleitos: Urbano VI, em Roma, e o antipapa Clemente VII, em Avignon.

Palácio do papa em Avignon.

A Europa dividida entre dois papas

O conflito rapidamente deixou de ser um assunto da Igreja para se tornar um incidente diplomático que dividiu a Europa. Clemente VII mantinha relações com as principais famílias reais europeias e elas lhe deram apoio assim como os aliados da França. Assim, ficaram ao lado do antipapa de Avignon: França, Nápoles, Castela, Aragão, Leão, Chipre, Borgonha, Condado de Saboia, Escócia, ducados de Lorena, Bretanha, Áustria e Luxemburgo.

Em apoio ao papa Urbano VI, de Roma, juntaram-se Inglaterra e Flandres (inimigos do reino da França), o Sacro Império, Hungria, Polônia, Portugal, Dinamarca, Noruega, Suécia, Irlanda, norte da Itália.

Grande Cisma do Ocidente

Grande Cisma do Ocidente. AZUL: reinos que reconhecem o papa de Roma. LARANJA: reinos que reconhecem o papa de Avignon. AMARELO: estados que mudaram de posição durante o cisma. (Nota: o mapa é meramente ilustrativo e pode conter imprecisões históricas).

Muitas alianças oscilaram durante o período do Grande Cisma e reinos mudaram de posição. Seja como for, a Europa ficou dividida por quase quarenta anos. Os papas excomungaram-se mutuamente, nomeando outros cardeais para compensar as deserções, enviando mensageiros para a cristandade em defesa de sua causa e estabelecendo sua própria administração.

O fim do Cisma do Ocidente

O Concílio de Constança, realizado entre 1414 e 1418 tomou para si a tarefa de acabar com o cisma papal. Quando o concílio foi convocado, havia três papas, todos clamando legitimidade: Bento XIII (papa em Avignon), João XXIII (para em Pisa) e Gregório XII (papa em Roma).

Com apoio do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o concílio recomendou que todos os três papas abdicassem, e que um outro fosse escolhido. O papa Gregório XII foi o único dos três que apresentou sua renúncia; dois anos depois retirou-se de suas funções eclesiásticas.

Os outros dois papas recusaram-se o que demandou negociações que envolveram os poderes ecumênicos e seculares (monarcas ingleses, franceses e alemães). Ao final, Bento XIII refugiou-se em Peníscola, na Espanha onde morreu em 1423 convencido de seu estatuto. João XXIII foi acusado de vários crimes e, preso, foi levado ao cárcere de Pisa em 1415.

Concilio de Constança

Bispos debatendo com o papa João XXIII no Concilio de Constança, c.1460-1465.

Em 11 de novembro de 1417, o Concílio de Constança elegeu novo papa – o italiano Martinho V – e com ele restabeleceu-se a unidade papal.

Martinho V deixou Constança no encerramento do concílio (maio de 1418) e embarcou em uma longa jornada pela Itália parando em diversas cidades. Permaneceu em Florença um ano e meio aguardando o fim dos conflitos em Roma. Em 30 de setembro de 1420, entrou na cidade protegido pelas tropas do reino de Nápoles e junto com a rainha Joana II.

Roma voltara a ser a Santa Sé da cristandade católica, mas o prestígio do papado estava profundamente afetado e a indispensável reforma da Igreja ainda estava por vir – o que só aconteceria um século depois com a Reforma e a Contra-Reforma.

Grande Cisma do Ocidente

Sucessão de Papas durante o Grande Cisma do Ocidente

A condenação à fogueira de hereges

O Concílio de Constança também adotou medidas para reformar a administração da igreja e evitar futuros cismas o que incluía pôr fim a qualquer ameaça de segregação entre os fiéis. Daí o concílio tratar com severidade a questão dos reformadores John Wycliffe (já falecido em 1384) e Jan Huss que faziam oposição à Igreja atraindo um grande número de seguidores.

Em relação ao reformador inglês John Wycliffe (1328-1384), o concílio acusou-o de heresia e condenou todas as suas obras à fogueira. Ordenou também que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido doze anos depois pelo papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, na Inglaterra.

O reformador tcheco Jan Huss (1369-1415), presente no concílio, também foi acusado de simpatizante de Wyclif e, portanto, herege. Suas obras foram condenadas e ele foi executado à morte na fogueira no mesmo dia de sua condenação, 6 de julho de 1415.

Jerônimo de Praga (1370-1416), amigo de Jan Huss foi à Constança para defendê-lo. Acabou preso e mantido na prisão por um ano, mesmo afirmando que repudiava as ideias de Jan Huss. Em 30 de maio de 1416 foi julgado herege e condenado à fogueira no mesmo dia.

Fonte

  • ARNALDI, Girolamo. Igreja e papado. In: LE GOFF, Jcques; SCHMITT, Jean-Claude (coord.). Dicionário temático do Ocidente Medieval, v.2. Bauru, SP: EDUSC; São Pualo, So: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
  • ALBERIGO, Guiuseppe (dir.) História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1995.
  • COMBY, J. Para ler a História da Igreja. Das origens ao século XV. 1 vol. São Paulo: Loyola, 1993.
  • SOUTHERN, R. W. A Igreja Medieval. Lisboa: Editora Ulisseia, s/d.
  • HOLMES, J. Derek; BICKERS, Bernard W. História da Igreja Católica. Lisboa: Edições 70, 2006.
  • WOODS JR., Thomas. Como a igreja católica construiu a civilização ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008.
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