Já se tornou chavão afirmar que vivemos na “era das imagens”. Elas estão em todas as mídias, têm espaço privilegiado nos livros escolares, servem de texto nas redes sociais e nos chats. “Vivemos uma espécie de intoxicação visual, na qual o conhecer se reduz ao ver”, lembra Elias Thomé Saliba.
Daí concluirmos que saber ler e interpretar imagens tornou-se imperativo para os acadêmicos e professores de História. A semiologia clássica interpreta a imagem como um ícone, isto é, um signo que substitui a realidade.
Estereótipos, fantasia e preconceito
Alguns tipos específicos de ícones visuais são os estereótipos, representações da realidade social ou histórica tomadas como verdadeiras mas que constituem quase sempre fantasias ou produtos da imaginação.
Os estereótipos acabam por se generalizar e se transformar em pressupostos com aparência de “verdades inquestionáveis” que são impostas pela cultura e pelo senso comum.
O conceito, criado 1922 por Walter Lippmann, é empregado hoje em situações diversas. Falamos em estereótipos de gênero (“rosa é cor de menina”, “meninos não choram” etc.), raciais e étnicos (“portugueses são burros”, “argentinos são prepotentes”, “muçulmanos são terroristas” etc.), sócio-econômicos (“favelado é bandido”, “a elite é contra o povo” etc.) – que, muitas vezes, veiculam manifestações de racismo, xenofobia, machismo, intolerância religiosa, homofobia e outras.
Assim, o estereótipo é uma forma de pensar que reduz o todo a uma característica única e determinante.
“Em diversas áreas, os estereótipos são tomados como concepções rígidas sobre a realidade que não aceitam ponderações, questionamentos ou contraposições. Ou, ainda, como imagens mentais reduzidas, simplificadas sobre um fato do cotidiano, pessoa, grupo, lugar, crença, instituição, manifestação, constituindo-se como um julgamento generalizado, resultado do acesso fragmentado, incompleto, a informações sobre o observado, ou que se dá mesmo anteriormente à observação.” (SAVENHAGO e SOUZA, 20015).
Estereótipos históricos
A História também possui seus estereótipos que são perpetuados seja por uma tradição equivocada seja por um ensino acrítico. Quanto maior a distância do fato ocorrido ou dos registradores serem de culturas e períodos diferentes, maior a ocorrência de equívocos.
Estereótipos históricos aparecem nos livros didáticos, nos programas de TV, nos comerciais, nas histórias em quadrinhos, nos desenhos animados, nos jogos eletrônicos e nos filmes. São exemplos: os vikings representados com chifres nos capacetes, o homem pré-histórico com aparência simiesca lascando pedra, os escravos sempre negros em oposição ao senhor branco, os índios na figura do “bom selvagem” que preserva a natureza, Tiradentes de barba branca entre outras.
A imagem já clássica da evolução humana mostrando uma suposta evolução que se inicia com o chimpanzé e termina no homem atual é um dos mais fortes estereótipos contemporâneos. Além do equívoco de sugerir uma evolução direta do macaco ao ser humano, ainda associa o Homo Sapiens ao homem europeu, branco e louro, escondendo o fato de que essa espécie surgiu na África.
O estereótipo tem servido para sustentar a exploração e o domínio em que o dominador prevalece-se de uma estereotipia positiva e o dominado, de uma estereotipia negativa.
“Na trajetória da humanidade, pensamentos, atitudes e imagens estereotipadas colaboraram para explicar e/ou legitimar como causa e efeito da dominação e exploração de um grupo pelo outro, de um país pelo outro, de um gênero sobre o outro; em que a estereotipia positiva, cabia ao dominante ou aquele validado como conhecimento verdadeiro; e a estereotipia negativa ao dominado ou aquele negado no campo dos conhecimentos epistemológicos válidos.” (SAVENHAGO e SOUZA, 20015).
Estereótipos nos filmes históricos
Os chamados filmes históricos comumente constroem imagens fantasiosas sobre o passado perpetuando estereótipos. O cinema é uma das mais poderosas linguagens visuais de nosso tempo pois lida com a emoção do espectador. Trata-se de um conjunto de imagens em movimento intencionalmente dispostas e enquadradas, sob luz e cores selecionadas, acompanhadas de efeitos sonoros e musicais que reforçam emoções e mensagens diretas ou subliminares. Daí dizer-se que o cinema cria uma outra história condicionando a visão das massas sobre o passado.
Johnni Langer estudando as imagens de vikings veiculadas na imprensa e no ensino, chama a atenção para a influência exercida pelo cinema na difusão da figura estereotipada do guerreiro escandinavo citando como exemplos: O Viking (1978), Conan, o bárbaro (1982) e A lenda de um guerreiro (2001).
Nesse oceano de imagens estereotipadas, Elias Thomé Saliba lembra que cabe ao professor de História
“o esforço de desmistificar as chamadas imagens canônica, que nos são impostas coercitivamente, daí serem chamadas imagens coercivas. Ícones canônicos seriam aquelas imagens-padrão ligadas a conceitos-chaves de nossa vida social e intelectual. Tais imagens constituem pontos de referência inconscientes, sendo, portanto, decisivas em seus efeitos subliminares de identificação coletiva. São imagens de tal forma incorporadas em nosso imaginário coletivo, que as identificamos rapidamente” (SALIBA, 1999).
Ao desconstruir estereótipos, o professor possibilita ao aluno não somente compreender melhor sociedades do passado como também refletir sobre os nossos próprios valores contemporâneos. Em sala de aula, por sua vez, a desconstrução dos estereótipos realiza-se melhor diante do contato com o diferente.
“Olhar para o igual não acrescenta, não produz dúvidas, não faz pensar. Fechar-se no “eu” monologizante, individualista, elimina a possibilidade da experiência, do conhecer, do deparar-se com o “outro” e fazer um exercício de convivência, de aceitação, de tolerância”. (SAVENHAGO e SOUZA, 20015).
Fonte
- FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
- LANGER, Johnni. Metodologia para análise de estereótipos em filmes históricos. Revista História Hoje. São Paulo, n.5, 2004.
- SAVENHAGO, Igor José e SOUZA, Wladimir Doniseti de. Estereótipo. In: COLLING, Ana Maria e TEDESCHI, Losandro Antonio (orgs.). Dicionário Crítico de Gênero. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2015.
- LANGER, Johnni. Os vikings e o estereótipo do bárbaro no ensino de História. Disponível em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/viewFile/12231/10728
- LIMA, Cláudia. Uma reflexão sobre os agentes históricos na sistematização do estereótipo africano sobre a construção do imaginário do negro no Brasil. Revista Unisinos, v. 45, n. 2, 2009. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/4893
- SALIBA, Elias Thomé. As imagens canônicas e o ensino de História. In: III Encontro; Perspectivas do ensino de História. Curitiba: UFPR, 1999. Disponível em: https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/FEH/article/view/5864/4753
[…] Não existe filme histórico “neutro”, que retrate a realidade ou a verdade histórica. Todo filme é uma representação da época em que foi produzido e reflete uma visão de mundo e estereótipos de seu tempo, como já foi comentado aqui. […]
Até hoje não foi provado que o homem teve sua origem na África, muito pelo contrário, quanto mais o tempo passa mais essa teoria fica furada.
Oi Juliano. Os vestígios ósseos mais antigos de hominídeos foram encontrados na África. É sobre essa evidência que a teoria foi construída.
Oi Juliano, os vestígios ósseos mais antigos de hominídeos foram encontrados na África. É sobre essas evidências que a teoria se sustenta.
O que não faz sentido nenhum. Até porque não existe uma definição de até onde o animal é um macaco e onde ele é um humano. Mesmo se tivesse, encontrar ossos mais velhos em um lugar não quer dizer que a espécie surgiu ali. De toda forma isso aí que você falou está errado, porque já foram encontrados ossos mais velhos fora da África. O problema é se nós somos descendentes dessas populações, e a teoria de que somos descendentes das populações africanas é a que menos faz sentido.
Olá Juliano! A definição entre macaco e homem é obtida, hoje, pela cadeia de DNA. A descoberta de vestígios humanos ainda mais antigos e em outro continente é uma revolução na ciência. Por favor, cite a fonte para que possamos conferir nosso texto e corrigi-lo se for o caso.
Tanto que o homem saiu da África quanto que ele evoluiu em outros lugares são todas terias, mas nenhuma foi provada. Mas a da África possui muito mais falhas e inconsistências lógicas. Você está errada quanto ao DNA ser o critério que utilizam pra saber se um indivíduo pertence à uma espécie, uma vez que você teria que escolher arbitrariamente onde traçar essa linha e nesse caso iriam existir indivíduos que seriam irmãos mas seriam de espécies diferentes, já que o homem não pulou de uma vez de “símio” pra “homem”, e você não iria conseguir perceber nenhuma diferença entre… Leia mais »