Sala temática, sala ambiente, oficina, ateliê ou laboratório pedagógico – são termos usados para chamar uma sala de aula especialmente montada para uma disciplina ou um objetivo educacional específico seja para pesquisas bioquímicas, para aula de artes, de teatro, de astrofísica, laboratório de línguas etc.
Não é uma novidade contemporânea. Segundo Guerra (2007), uma das primeiras experiências inovadoras de organização do espaço escolar ocorreu no Imperial Colégio de Pedro II, em meados do século XIX, com a implantação de laboratórios especializados para atendimento de disciplinas específicas.
A Escola Nova – movimento renovador da educação que surgiu no final do século XIX e ganhou impulso na década de 1930 – combateu a rigidez das escolas cujo maior símbolo eram as mesas dos alunos fixadas no chão e perfiladas diante do professor. A Escola Nova propunha, entre outras coisas, a banir todo formalismo da escola e das práticas educacionais tornando o aluno mais participativo libertando-o da tutela do adulto para que ele chegasse à tutela da própria consciência moral.
A partir dos preceitos da Escola Nova, as salas de aula deixariam de ser concebidas como um enfileiramento de carteiras voltadas para o tablado do professor e o quadro-negro em que o aluno é o agente passivo do processo educacional para se transformarem em classes experimentais em que os alunos se movimentam, aprendem a aprender, e aprendem fazendo.
Os benefícios da sala temática
A sala temática destina-se especificamente a uma disciplina e dispõe dos materiais didáticos e recursos pedagógicos para facilitar o aprendizado. O professor é o arquiteto de sua sala e, como tal, organiza o espaço físico de maneira a permitir uma maior interatividade dos estudantes e favorecer o aprendizado.
A identidade visual do ambiente comunica ao estudante o que vai acontecer aí pela disposição das ferramentas ou recursos (livros, tubos de ensaio, um globo terrestre, máscaras africanas, um robô) e pela disposição do mobiliário (mesas em círculo ou enfileiradas, almofadas no chão, ausência de móveis, um telão de cinema etc.).
A organização da sala denota uma intenção pedagógica, rompe a enfadonha mesmice do espaço, surpreende o aluno e contribui para a sua predisposição ao aprendizado.
A sala temática é dinâmica: o visual, a decoração e a organização mudam conforme as necessidades da aula e da turma. Mesas em círculo favorecem a discussão da turma, todos se vêm e se ouvem. Mesas em meio círculo aberto favorece a exposição do professor e o uso da lousa para apoiar uma explicação ou registrar as questões de uma discussão.
A sala é, também, uma criação dos alunos: ali estão expostos seus trabalhos e o objetos pessoais que eles trouxeram para uma determinada aula. Dessa forma, eles também se identificam com a sala e, por conseguinte, com a disciplina. Isso ajuda a mantê-los motivados.
Uma sala temática usada por turmas de diferentes anos é quase um túnel do tempo para os alunos. Eles podem rever os temas que já estudaram e antever os dos próximos anos. Deixa-lhes a sensação prazerosa de “eu já estudei isso” e a expectativa de conteúdos mais avançados. Isso lhes transmite a dimensão concreta da progressão do ensino, do caminho percorrido e a percorrer, mostrando-lhes que o aprendizado é contínuo, nunca acaba.
A sala temática é sua. Você não precisa desfazer a disposição das mesas nem desmontar a sala para a aula do próximo professor. Pode (e deve) utilizá-la para além da aula: preparar aula, corrigir atividades e, principalmente como espaço para uma conversa particular com o aluno com dificuldades ou indisciplinado criando um clima de privacidade que não existe na sala dos professores e muito menos na diretoria.
Finalmente, talvez o maior argumento pedagógico a favor da sala temática: ela contempla diretamente as Competências Gerais 1 e 2, e as Competências Específicas de História 2 e 3.
Segundo Almeida (2017), as salas temáticas contribuem para uma melhoria significativa no ensino-aprendizagem. “Elas podem despertar o potencial criativo de professores e estudantes, pois possibilitam melhores condições de aprendizado, favorecem a sociabilização e a construção de relações mais solidárias entre alunos.”
Além disso, continua Almeida, a sala ambiente evita a depredação do local (o que ocorre, quase sempre, quando o professor está ausente deslocando para outra sala) e minimiza a violência escolar por democratizar o espaço escolar impedindo que se se formem territórios de grupos ou turmas. “Todas as salas são usadas por todos. Exemplo: nenhum aluno ficará somente na sala mais próxima ao banheiro ou na sala que bate muito sol ou onde faz muito frio ou naquela mais próxima à cantina.”
Sugestões para uma sala temática de História
Uma sala temática é uma produção contínua realizada ao longo do ano. Portanto, não é necessário ter tudo pronto no primeiro dia de aula. A lista abaixo é apenas um referencial de sugestões e não um manual de construção.
1. Porta da sala de aula com o nome da disciplina e, se possível, uma imagem que referencie a disciplina a que se destina. Havendo recurso financeiro e disposição da escola, é interessante adesivar a porta de cada sala temática. Isso dará corredor das salas – quase sempre frio e austero como uma repartição pública – uma aparência colorida, alegre e convidativa. É importante que o professor tenha a chave de sua sala e possa levá-la consigo.
2. Armário e/ou estante para acomodar livros, dicionários, atlas, álbum de imagens e recortes de jornais, revistas, trabalhos dos alunos, jogos etc. Lembre de reservar um espaço para material de emergência: extensão elétrica ou filtro de linha, adaptador de tomada, lâmpada para projetor, cabos de conexão, pen drive etc. Muitas aulas geniais foram arruinadas por falta de um adaptador de tomada.
3. Painéis dos alunos: se a sala for usada para aulas de diferentes turmas, é interessante dividir as paredes em espaços para cada ano. Considerando 3 paredes disponíveis, pode-se dividir cada uma em duas partes, o que acomodaria trabalhos de seis turmas incluindo o Ensino Médio ou para uso exclusivo do professor.
Considere a possibilidade de usar o teto da sala de aula ou mesmo de estender cordas (usadas para varal) para pendurar os trabalhos dos alunos. Verifique antes se eles atrapalham a projeção de vídeos.
4. Linha de tempo: a ferramenta imprescindível para as turmas que estão desenvolvendo a noção de tempo histórico. A melhor opção é pintar com tinta verde (própria para lousa) uma faixa ao longo das quatro paredes da sala medindo uns 20 cm de largura e distante do chão entre 1,50 e 1,70 m. Divida a linha com marcações a cada 15 cm. De acordo com seu tema de aula, as divisões podem indicar anos, séculos ou milênios. Com giz colorido, os alunos vão inserindo, na linha de tempo, os fatos mais importantes estudados.
Outra possibilidade, é fazer a linha de tempo com um rolo de papel kraft (40 cm de largura) estendendo-o pelas paredes da sala. Para fixar o papel na parede de alvenaria, será preciso usar tachinhas na parte superior e inferior do papel, a cada 10 cm. Divida a faixa de papel em espaços de 15 cm para os séculos ou anos (use caneta hidrográfica de ponta grossa). Uma sugestão: marque 30 séculos antes de Cristo (portanto, desde a origem da escrita) e 21 séculos depois de Cristo usando cores diferentes para cada período.
5. Mapas históricos e geográficos e um globo terrestre são imprescindíveis nas aulas de História. A localização espacial dos diferentes povos e culturas em um contexto mundial desperta no estudante questionamentos e inferências que estimulam a curiosidade e permitem estender o aprendizado.
6. Imagens históricas (fotografias, gravuras, reproduções de obras de arte, caricaturas etc.) trazidas pelo professor ou pelos alunos são um bom recurso para identificar características de tempos e espaços diferentes, bem como a perceber mudanças, semelhanças, permanências e rupturas na história de uma sociedade.
7. Acervo museológico da turma: alguns conteúdos de História ficam mais interessantes se os alunos puderem manipular objetos do passado especialmente aqueles carregados de uma memória afetiva por terem pertencido aos pais, avós ou bisavós. Brinquedos antigos, ferro a carvão para passar roupa, pilão, fotografias antigas, telefone de disco, moeda ou cédula antiga e uma infinidade de outros objetos são inspiradores para introduzir um tema ou refletir sobre o tempo histórico.
As peças devem ser tratadas como objetos históricos: ter uma ficha informativa (função, origem, data aproximada, material que é feito etc.), o nome do aluno e a data “de doação”.
Galeria de fotos de salas temáticas
As fotos a seguir podem servir de inspiração para montar uma sala temática. Elas são de escolas de diferentes países incluindo o Brasil.
Relatos de experiência
- Tocantins. Salas temáticas dinamizam o processo de ensino e aprendizagem em escola no Tocantins. Colégio Estadual Girassol de Tempo Integral Agropecuário de Almas, TO
- Alagoas. Salas temáticas no ensino integral fortalecem proximidade e aprendizagem dos alunos. Escola Estadual Egídio Barbosa, zona rural de Palmeiras dos Índios, AL
- Rio Grande do Sul. Salas ambientes. Colégio Bom Conselho, Porto Alegre, RS.
- Rio Grande do Sul. BAGEGA, Chariane; BONI, Marina; RAFFAELLI, Alexandra F. Salas temáticas: espaços de experiências e aprendizagem. Escola Tenente Portela, RS.
Fonte
- LOURENÇO FILHO. Introdução ao estudo da Escola Nova (1930). Rio de Janeiro: Eduerj, 2002.
- Pedagogia Escolanovista. Glossário. Grupo de Estudos e Pesquisa “História, Sociedade e Educação no Brasil”, Faculdade de Educação, Unicamp.
- GUERRA, V. P. Práticas pedagógicas no ensino médio: perspectivas da docência em salas-ambientes. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade de Tuiuti do Paraná, Curitiba,2007.
- VIÑAO, A. Espaços, usos e funções; a localização e disposição física da direção escolar na escola graduada. In: BENCOSTTA, Maucus Levy (org.). História da educação, arquitetura e espaço escolar. São Paulo: Cortez, 2005.
- ALMEIDA, Nedir Fernandes de. Salas ambiente como estratégia de ensino-aprendizagem (versão corrigida). Tese de doutorado. Departamento de Geografia, USP, 2017.
- ALMEIDA, Jacqueline da Silva Rodrigues de; RAMOS, Márcia Elisa Teté. Projetos de sala ambiente: possibilidades de metodologia para o ensino de História possibilidades de metodologia para o ensino de História. Curitiba, PR: Dia a Dia Educação, 2012.
- ROSARIO, Cintya Lopes do.; SANTOS, Raimunda Maria Rodrigues; FERREIRA, Nataly Nunes; ARAÚJO, Klayton Oliveira; MESQUITA, Stephaine Caroline da Rocha. Sala-ambiente: espaço de interação e práticas pedagógicas inovadoras. SEGeT 2014. XI Simpósio de Excelência em Gestão de Qualidade. s/d.
- ROSA, M. I. F. Conversando sobre salas-ambiente no ensino de ciências. Revista Ciência e Ensino. Campinas, SP: FE/Unicamp, n° 3, p. 23-24, dez. 1997