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Primeiro comício das “Diretas Já”, Pernambuco

31 de março de 1983

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Em 31 de março de 1983, na cidade de Abreu e Lima, região metropolitana do Recife, ocorreu a primeira manifestação pública em favor de eleições diretas. A iniciativa coube a um grupo de militantes da Ação Católica ligados a Dom Helder Câmara que ocupou a praça principal para protestar contra a ditadura e a favor das Diretas Já, reivindicando eleições livres para presidente da República.

  • BNCC: 9º ano – Habilidades: EF09HI19, EF09HI20, EF09HI22

A ditadura militar já durava quase vinte anos. Manifestações de repúdio à ditadura já vinham ocorrendo como nas eleições de 1974 onde venceu maciçamente o PMDB, o único partido de oposição permitido, derrotando a Arena, o partido do governo. Em 1979, foi a ampla campanha da anistia e, em 1982, nas primeiras eleições diretas para governador, a oposição ganhou em dez Estados, os mais populosos do país.

Em 2 de março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira (MDB) obteve 199 assinaturas para sua emenda que propunha eleições diretas para presidente, que se realizariam em 15 de novembro de 1984. A emenda foi apresentada ao Congresso Nacional dando início a ampla campanha que ficou conhecida como Diretas-Já.

Teotônio Vilela, o Menestrel das Alagoas

A defesa das eleições diretas foi feita, também, pelo senador Teotônio Vilela (MDB-AL), no programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes de televisão. Conhecido por suas duras críticas ao governo, Teotônio Vilela tornou-se um dos maiores defensores da redemocratização do país.

Em sua homenagem, foi feita a canção Menestrel das Alagoas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, em setembro de 1983. A música se transformou em hino da campanha das Diretas-Já e foi cantada nos 32 comícios pela cantora paranaense Fafá de Belém.

Teotônio Vilela, afastado da vida política desde o final de 1982 por motivos de saúde, faleceu em novembro de 1983 sem acompanhar os desdobramentos de seus discursos pela redemocratização.

Teotônio Vilela, entrevista ao Canal Livre, TV Bandeirantes

A campanha pelas Diretas-Já se organiza (1983)

A partir de abril de 1983, políticos e partidos – em especial, Ulysses Guimarães (PMDB), Franco Montoro (PMDB), Leonel Brizola (PDT) e Luís Inácio Lula da Silva (PT) – começaram articular uma campanha nacional em favor das Diretas.

Em 15 de junho, o governador Iris Resende (PMDB) comandou em Goiânia o primeiro comício “oficial” pelas Diretas-Já, reunindo 6.000 pessoas. Rompeu-se o medo de enfrentar a ditadura e de convocar o povo para ir às ruas.

Nos meses seguintes ocorreriam manifestações em Teresina (PI) e em diversas cidades de Pernambuco conclamadas pelo governador Miguel Arraes.

Em 26 de novembro, os dez governadores eleitos pela oposição em 1982 (nove do PMDB e Leonel Brizola, do PDT), assinaram manifesto conjunto apoiando a emenda Dante de Oliveira e exigindo eleições diretas para presidente.

No dia seguinte, 27 de novembro, realizou-se o primeiro comício unificado das Diretas-Já, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com participação do PMDB, do PT e do PDT, da UNE, da CUT, da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) e da Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de São Paulo.

Começou a nascer ali a coordenação suprapartidária da campanha, que contaria com a adesão de mais de 70 entidades da sociedade civil.

Cerca de 15.000 pessoas compareceram ao comício do Pacaembu, dando a largada para a campanha que tomaria conta do Brasil nos meses seguintes. Naquela noite, por coincidência, morreu o senador Teotônio Vilela, um dos grandes nomes da resistência democrática.

O crescimento do movimento ocorreu numa conjuntura de crise econômica, arrocho salarial e aumento acelerado da inflação que fechou o ano de 1983 com uma taxa de 239%, situação que estimulou a mobilização de entidades de classe e sindicatos.

A manifestação pelas Diretas Já contou com representantes de diversas correntes políticas e de pensamento, unidas pelo desejo de eleições diretas para presidente da República e também pelas liberdades democráticas.

As músicas das Diretas-Já

O clima de entusiasmo pela redemocratização refletiu-se nas músicas que fizeram sucesso na época:

  • Menestrel das Alagoas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, composta em homenagem a Teotônio Vilela.
  • Coração de Estudante, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, composta para o filme “Jango”, de Sílvio Tendler;
  • Pelas Tabelas, de Chico Buarque;
  • Vai Passar, de Chico Buarque e Francis Hime;
  • Vovô Sobral, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, em homenagem ao jurista Sobral Pinto, grande defensor dos direitos humanos;
  • Não me venha com Indireta, de Noca da Portela e Ratinho de Pilares;

Muitos foram os artistas do teatro, cinema e TV que se engajaram na campanha das Diretas-Já: Christiane Torloni, Mário Lago, Gianfranfesco Guarnieri, Dina Sfat, Maitê Proença, Renata Sorrah, Raul Cortez, Ruth Escobar, Francisco Cuoco, Eva Wilma, Fernanda Montenegro etc. Em passeatas, em manifestações nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo e do Rio de Janeiro ou nos palanques, eles marcaram presença.

Também músicos e intérpretes como Chico Buarque, Martinho da Vila, Jards Macalé, Fafá de Belém, Taiguara e Beth Carvalho, o cartunista Ziraldo, o jogador de futebol Sócrates, o narrador esportivo Osmar Santos – locutor oficial dos comícios, entre tantos outros nomes do meio artístico, cultural e intelectual participaram da campanha das Diretas-Já de um modo ou de outro.

Reação do governo

Enquanto isso, na televisão, o presidente general João Baptista Figueiredo classificava os protestos como ‘subversivos’. Para reprimir as manifestações populares, aumentou a censura sobre a imprensa e ordenou prisões, ocorrendo violência policial.

Em 20 de outubro de 1983, tropas policiais-militares cercaram Brasília, invadiram a sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e bloquearam estradas. Liberdades públicas foram suspensas. A operação foi comandada pelo general Newton Cruz, responsável pelo Comando Militar do Planalto.

A reação punitiva do governo não adiantou: o movimento pelas Diretas-Já continuou e, no início de 1984 ganhou maior força.

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