Em 23 de março de 1919, em Milão, Benito Mussolini criou os “Fasci Italiani di Combattimento” (FIC) com a fusão de dois grupos anteriores: o “Fasci d’Azione Internazionaliste” e o “Fasci Autonomi d’Azione Rivoluziuonaria”. Eram formados principalmente por ex-soldados desmobilizados, desempregados e jovens da classe média italiana. Desde 1915, eles referiam-se, oficialmente, a si mesmos como “fascistas”.
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A palavra “fascista” deriva do fascio littorio – antigo símbolo da República e do Império Romano representado por um feixe de varas amarradas em torno de um machado cujas extremidades são visíveis. O fascio era levado pelo lictor, uma espécie de oficial de justiça e guarda-costas de magistrados, significando que uma ordem judicial iria ser executada.
Mussolini tomou esse antigo símbolo de um “passado glorioso” do país para representar a união e a força do povo italiano – o feixe de varas –, e o poder do “Duce” (líder”) – a machadinha.
Antecedentes: do socialismo ao fascismo
Antes da Grande Guerra (1914-1918), Mussolini, então um militante socialista e revolucionário, frequentava reuniões de exilados bolcheviques na Suíça. Desde 1903, escrevia artigos para a imprensa sindicalista revolucionária e socialista.
A guerra foi um divisor de águas no socialismo de Mussolini. Enquanto Lênin e seus companheiros na conferência de Zimmerwald (setembro de 1915), reunião do movimento nacional socialista, se posicionaram contra a guerra, Mussolini e os sindicalistas revolucionários defenderam a participação na guerra como meio para promover a revolução socialista.
Em 1917, Mussolini apoiou a Revolução Bolchevista de Outubro, mas não demorou para criticar Lênin considerando-o como uma nova versão do czar Nicolau II. Os discursos radicais de Mussolini foram dando cada vez mais ênfase ao nacionalismo e menos ao proletariado, mais à defesa da guerra expansionista e menos à luta de classes.
Em 1918, Mussolini se apresentava como anti-marxista e anti-comunista.
Contribuíram para essa mudança ideológica a crise econômica do pós-guerra que levou a Itália à crise social e à instabilidade política, e aprofundou o ressentimento nacional pela participação na guerra sem os esperados ganhos.
Foi neste contexto que Mussolini criou, em 1919, o Fasci Italiani di Combattimento, organização paramilitar de cunho nacionalista e antiliberal.
O fascismo começa ganhar forma
Mussolini usa seu talento de orador para arregimentar membros e simpatizantes especialmente entre sindicalistas e trabalhadores arruinados com a crise econômica.
Em 6 de junho de 1919, ele publicou no jornal Il Popolo d’Italia, o manifesto do Fasci Italiani di Combatimento onde anunciou: “Declaramos guerra ao socialismo não por ser socialista, mas por ter-se oposto à nação”.
Propunha um programa político unificador, vagamente socialista e fortemente nacionalista. Em nome da Itália, reivindicava os territórios prometidos pelo Tratado de Londres, denunciava o capitalismo, exigia a abolição do Senado e a eleição de uma Assembleia Constituinte, pedia a abolição do serviço militar obrigatório e, finalmente, colocava-se a favor de uma República laica.
Este programa revolucionário evoluirá muito de acordo com as circunstâncias.
No final de 1919, o movimento fascista ainda era muito marginal. Os Fasci Italiani di Combatimento possuíam apenas 17.000 membros e não conseguiram eleger nenhum candidato nas eleições legislativas de novembro. O próprio Mussolini recebeu apenas 4.800 votos em Milão contra 170.000 para o candidato socialista.
1920-1921: o fascismo mostra sua cara
A crise atingiu seu auge, na Itália, em 1920 quando cresceu a agitação social apoiada pelos socialistas com numerosas greves nos centros industriais do norte e movimentos de camponeses no sul do país.
Mussolini e seus fascista aproveitaram-se do “perigo vermelho” para, em nome da preservação da ordem e da paz interna na Itália, obter apoio da elite industrial e dos proprietários
Desafiando a lei, grupos fascistas, armados e motorizados, sob orientação de ex-oficiais, cruzavam cidades e áreas rurais para intimidar sindicalistas, grevistas e militantes socialistas e comunistas usando de todos os meios: espancamentos, ingestão de altas doses de óleo de rícino (para provocar violentas diarreias) ou mesmo assassinatos.
A polícia, os magistrados e o próprio governo não reagiram à ação paramilitar dos fascistas. Isso encorajou Mussolini e, em 9 de novembro de 1921, ele transformou os Fasci Italiani di Combatimento em Partido Nacional Fascista.
O Partido Fascista foi fundamental para dirigir o apoio à ideologia de Mussolini e ganhar popularidade. Recebeu apoio de setores da classe média, receosos do socialismo e do comunismo, enquanto que industriais e donos de terra viram-no como uma defesa contra a militância trabalhista.
O partido cresceu, em 1922 já tinha 700.000 membros. Entretanto, o partido não conseguiu convencer o eleitorado a lhe confiar o poder. Será por meio da força e da ameaça que Mussolini tomará o poder.
Fonte
- PAXTON, Robert Owen. A anatomia do fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
- KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979
- PARIS, Robert. As origens do fascismo. Perspectiva, 1993. (Coleção Khronos)
- HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. O breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
- DE FELICE, Renzo. Explicar o fascismo. Lisboa: Edições 70, 1976.
Saiba mais
Abertura
- Militantes do “Fasci Italiani di Combattimento“; o traje na cor preta foi mantido pelo organização “Camisas Negras”, fundada em 1923.