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Destruição de máquinas na Inglaterra: surge o “ludismo”

26 de março de 1811

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Em 26 de março de 1811, em Nottingham, na Inglaterra, uma manifestação de tosquiadores foi severamente reprimida pelos policiais. Naquela noite, 60 teares foram destruídos por um grupo de manifestantes.

Não era a primeira vez que trabalhadores destruíam máquinas têxteis. Desde o final do século XVIII, com o avanço da Revolução Industrial, tecelões e artesãos, tiveram seus ganhos reduzidos, além de serem submetidos a um ritmo e condições de trabalho inteiramente fora das antigas tradições. As más colheitas de 1811 e 1812 e, em consequência, a fome aumentaram as insatisfações dos trabalhadores. Entre 11 e 23 de março de 1811, mais de cem teares haviam sido quebrados. O movimento ficou conhecido como ludismo.

  • BNCC: 8° ano. Habilidade: EF08HI03

Ludistas quebrando tear, gravura de 1812.

O que foi o ludismo

O ludismo foi o movimento dos trabalhadores ingleses, no inicio do século XIX, que promoveram deliberadamente a destruição de teares e outras máquinas fabris contra a deterioração de suas condições de vida no decorrer da Revolução Industrial. O movimento, iniciado em março de 1811, prolongou-se até 1814 quando foi esmagado militarmente. Muitos dos envolvidos foram executados ou deportados para a Austrália.

O contexto histórico

As máquinas desenvolvidas durante o período da revolução industrial estavam substituindo a produção têxtil artesanal pela manufatura industrial. As fiações, os teares mecânicos, a lançadeira volante e outras máquinas movidas a carvão substituíram os tecelões de tear manual.

A mão de obra especializada dos artesãos foi deixando rapidamente de ser necessária, trabalhadores menos qualificados podiam fazer o trabalho por um salário menor.

As nova máquinas aumentaram a produtividade, mas também reduziram a mão de obra empregada e as habilidades necessárias e, portanto, os salários pagos.

Em 1813, havia 2.400 teares a vapor e cerca de 250 mil tecelões manuais de algodão (1826).

Em 1850, eram 250 mil teares a vapor e apenas 40 mil tecelões empregados.

Foi esse contexto de deterioração do trabalho que ocorreu o ludismo. O movimento deve seu nome ao seu lendário líder fictício Ned Ludd.

Ned Ludd

O nome de Ned Ludd apareceu pela primeira vez em 4 novembro de 1811 quando mais teares foram quebrados. Naquela data surgiram cartas ameaçadoras contra a vida e as propriedades dos fabricantes assinadas por Ned Ludd ou também Rei Ludd, General Ludd e Capitão Ludd.

Ludd não era uma pessoa real, mas um nome para indicar um líder imaginário, era um estratagema para preservar o anonimato dos participantes. Centenas de cartas assinadas por Ludd foram distribuídas. O nome ludista começou a ser empregado para chamar os destruidores de máquinas.

O movimento de sabotagem

O ludismo iniciou-se de forma desorganizada, sem liderança. Os participantes agiam à noite e cobriam os rostos para evitar o reconhecimento. As informações eram espalhadas de boca a boca. As autoridades não sabiam quem estavam tentando prender, e sequer conseguiam identificar os participantes.

A partir de novembro, porém, o movimento se organizou e os ataques começaram a ser direcionados. As cartas assinadas por Ludd traziam reivindicações dos trabalhadores por aumento de salários. Os ludistas escreveram, também, petições, proclamações, poemas e canções. Pediam a regulamentação do comércio, reformas políticas radicais e defesa de direitos do trabalho. O movimento politizou-se, enfim.

Em 1812, o ludismo já havia se espalhado por toda a Inglaterra: Leicestershire (particularmente em Loughborough), Lancashire, Cheshire e Yorkshire. No processo, os luditas destruíram numerosas fábricas de lã e algodão

A repressão aos ludistas aumentou: policiais especiais foram enviados às cidades afetadas pela desordem. Eles deveriam patrulhar as ruas todas as noites. Foi imposto um toque de recolher proibindo a circulação e a reunião de pessoas depois das 10 horas da noite. Bares e tabernas deveriam fechar as portas nesse horário. Ofereceram-se recompensas para quem identificasse um ludista. Mas nada disso surtiu efeito.

Em 1812, foi aprovada uma lei que introduzia a pena capital para quebra de máquinas. Em 1813, ocorreu o maior processo contra os ludistas: dos 64 acusados de terem atentado contra uma tecelagem, 13 foram condenados à morte na forca e 2 à deportação para as colônias.

Apesar da dureza das penas, as ações nas fábricas continuaram esporadicamente até 1816.

Historiadores avaliam o ludismo

Por muito tempo, o ludismo foi entendido como um movimento de reação ao progresso técnico, à industrialização, à automação e a novas tecnologias em geral. Os trabalhadores destruíam as máquinas acusando-as de lhes roubar trabalho e salário e por defenderem um modo tradicional de trabalhar.

Este entendimento foi objeto de revisão por parte dos historiadores que discordam que o ludismo tenha sido simplesmente um protesto contra a introdução de máquinas. A destruição das máquinas não era um fim em si, mas um meio de pressionar os empregadores a atenderem as reivindicações dos trabalhadores. O ludismo tão pouco foi dirigido apenas contra máquinas, mas também contra matérias-primas, produtos acabados e até mesmo contra a propriedade privada dos empregadores.

Segundo Thompson, o ludismo olhava para trás, para costumes antigos e uma legislação paternalista que nunca poderia ressuscitar. Por outro lado, representou uma experiência subjetiva que ajudou a criar uma consciência de classe, marcando um momento de conflito e de transição.

Hobsbawn também enxergou no ludismo um movimento proto-sindical, inicialmente uma reação natural ao desemprego, mas que, depois, teria evoluído para uma forma de contestação ao capitalismo, representado pela substituição do trabalho artesanal pela mecanização.

O desenvolvimento industrial e a criação das primeiras trade unions (sindicatos) limitaram o alcance e as possibilidades das revoltas ludistas, determinando o declínio do movimento a partir de meados do século XIX.

Fonte

  • HOBSBAWM, Eric J. A era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
  • __________. Os trabalhadores: estudos sobre a história do operariado. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
  • THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Operária Inglesa: A maldição de Adão. Vol. II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

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