O período monárquico mereceu menos atenção dos cineastas do que a época colonial. Há bem menos filmes e documentários sobre a monarquia brasileira mas, entre eles, encontram-se trabalhos bem interessantes realizados até mesmo por cineastas amadores. A lista apresentada abrange oito décadas de história iniciando-se com a vinda da família real portuguesa, em 1808 até a abolição em 1888.
1. Carlota Joaquina, princesa do Brasil
O maior sucesso de público do cinema brasileiro nos anos 1990: mais de 1,5 milhão de espectadores. Centralizado na história de Carlota Joaquina, esposa de d. João VI, conta a vinda da família real portuguesa para o Brasil e sua adaptação na colônia. O filme não tem pretensão intelectual ou em mostrar uma visão histórica rigorosa. Mas a forma jocosa e escrachada de mostrar os personagens torna o filme muito divertido para os jovens.
- Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, direção de Carla Camurati. Brasil, 1995.
2. 1808, a Corte no Brasil
Série de 12 documentários realizada pelas jornalistas Sandra Moreyra e Mônica Sanches, da Globo News. Abrange o período joanino desde a vinda da Corte até o seu retorno. Os episódios, com cerca de 20 minutos cada, são: 1-A fuga dos reis, 2-Nobreza e política, 3-Um reino sem rei, 4-A travessia, 5-A chegada à Bahia, 6-O desembarque no Rio de Janeiro, 7-A economia no tempo de D. João, 8-A política no tempo de D. João, 9-A corrupção no tempo de D. João, 10-Arte e ciência, o reino do Saber, 11-O templo dos livros e da música, 12-O retorno da corte.
- 1808, a Corte no Brasil, Globo News, 2009.
3. Independência ou morte
Filme épico e ufanista, feito em plena época da ditadura militar em comemoração aos duzentos anos de independência. Traça o perfil de D. Pedro I (Tarcísio Meira) desde infância, passando por seu envolvimento com a marquesa de Santos (Glória Menezes), pela proclamação da independência, até a abdicação do imperador. A cena às margens do Ipiranga reproduz, em um jogo de montagem, a célebre tela de Pedro Américo.
- Independência ou morte, direção de Carlos Coimbra. Brasil, 1972.
4. Caminhos da independência, o Grito nas ruas
Documentário produzido pela TV Brasil traz entrevistas com os professores José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basille que, durante quinze anos, pesquisaram documentos em bibliotecas do Brasil, Portugal e Estados Unidos.
- A caminho da independência, o grito nas ruas, direção de Bianca Vasconcellos. Brasil, 2012.
5. Batalha do Jenipapo
Documentário produzido pela Fundação e TV Antares, afiliada TV Brasil no estado do Piauí. Conta a história desse episódio da guerra de independência por meio de versos de cordel de Pedro Costa e de depoimentos de historiadores e especialistas, assim como de descendentes dos combatentes. Usa desenhos e animação gráfica de José Quaresma e Davi Scooby que também assinam a trilha musical.
- Batalha do Jenipapo, direção de Diego Lopes e Tamar Fortes. Fundação Antares, Piauí.
6. Uma história de amor e fúria
Animação brasileira, do gênero ficção científica, percorre seis séculos da história do Brasil. Foi lançado em 2013 nos cinema brasileiros e em 2015, nos cinemas portugueses. Conta a história do índio Abeguar (Selton Mello) e sua amiga Janaína (Camila Pitanga) da tribo dos Tupinambás que vivem 600 anos no Brasil. Os protagonistas passam por momentos marcantes da história do país, desde os conflitos indígenas na época da chegada dos portugueses, passando pela Balaiada no Maranhão, pela ditadura militar e a guerra pela água num futuro não tão distante em 2096.
O filme fornece uma panorama de três momentos da história do Brasil: a colonização, as lutas na Balaiada (em que Abeguar é o próprio Balaio, líder da revolta) e a resistência contra ditadura militar.
- Uma história de amor e fúria, direção de Luiz Bolognesi. Brasil, 2013.
7. Cabanos
Iniciativa corajosa do professor de História Sebastião Pereira, da Escola Estadual Temístocles de Araújo, em Belém do Pará, que, sem qualquer patrocínio e contando apenas com a comunidade escolar realizou um filme sobre a Cabanagem. Os 110 atores são voluntários escolhidos entre alunos e ex-alunos. As gravações foram feitas em Curuçá, Icoaraci, Mosqueiro, no bairro Cidade Velha e na Ilha das Onças.
- Cabanos, direção de Sebastião Pereira. Brasil, s/d.
8. O cônego. Senderos da Cabanagem
Longa-metragem sobre uma ficção inspirada em fatos históricos. A partir da experiência vivida pelo Cônego Batista Campos (1782-1834), a trama chega a Lavor Papagaio, Manoel Vinagre e diversos homens e mulheres chamados pela alcunha coletiva de “cabanos”. A história ambienta-se no período preparatório à eclosão da Cabanagem que teve seu desfecho em 7 de janeiro de 1835 com a tomada de Belém.
- O cônego, direção de Paulo Miranda. Brasil, 2007.
9. Anahy de las Misiones
Ambientado no Rio Grande do Sul durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845), conta a história de Anahy que atravessa os campos de batalha com seus quatro filhos. Em meio às tropas imperiais e os rebeldes, a família saqueia soldados mortos e vende seus despojos aos soldados sobreviventes. Grande fidelidade à época retratada.
- Anay de las Misiones, direção de Sérgio Silva. Brasil, 1997.
10. Mauá, o imperador e o rei
A infância, o enriquecimento e a falência de Mauá (1813-1889) interpretado por Paulo Betti. Suas iniciativas modernizadoras foram vistas com apreensão pelos conservadores e pelo próprio imperador, que não lhe deu o devido apoio. Sua postura liberal, em defesa da abolição da escravidão e sua atitude contrária à Guerra do Paraguai acabaram isolando-o ainda mais, contribuindo para a falência ou venda de suas empresas a preços irrisórios.
- Mauá, o imperador e o rei, direção de Sérgio Resende. Brasil, 1999.
11. Inocência
Baseado na obra homônima de Visconde de Taunay e ambientado no Brasil monárquico, conta a história da garota Inocência (Fernanda Torres) que, acometida de malária, é tratada pelo médico Cirino (Edson Celulari). Os dois se apaixonam, mas a jovem está prometida para um rico fazendeiro da região e seu pai coloca-se contra a relação. Rodado na floresta da Tijuca e em Barra de São João, distrito de Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro.
- Inocência, direção de Walter Lima Jr. Brasil, 1983.
12. A moreninha
Adaptação do livro homônima de Joaquim Manuel de Macedo, é um romance musical que reconstitui a Corte, 1840. A história se passa na paradisíaca Ilha de Paquetá onde acontece um sarau na casa de Carolina, a Moreninha (Sonia Braga). Ali ela conhece Augusto (David Cardoso) que jurara jamais se apaixonar.
- A Moreninha, direção de Glauco Mirko Laurelli, Brasil, 1970.
13. O cortiço
Baseado no livro homônimo de Aluísio de Azevedo, de 1890, que narra a vida do português João Romão (Armando Bogus), dono de um cortiço em Botafogo, Rio de Janeiro, e de seus inquilinos, entre eles, o português Jerônimo (Mário Gomes) e a mulata Rita Baiana (Betty Faria), além do português Miranda (Maurício do Valle), dono do sobrado ao lado do cortiço. Um retrato do cotidiano dessa população pobre nos últimos anos da monarquia.
- O cortiço, direção de Francisco Ramalho Jr. Brasil, 1978.
14. Guerra do Brasil
Documentário sobre a Guerra do Paraguai com base no trabalho de pesquisadores brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios. Reconstituição de alguns episódios, entrevistas e grande material iconográfico sobre a guerra dão margem a muita discussão sobre o maior conflito da América do Sul.
- Guerra do Brasil, direção de Sylvio Back. Brasil, 1987.
15. Netto perde sua alma
Filme baseado no livro homônimo de Tabajara Ruas, recria a complexa personalidade do general Netto, protagonista central de dois episódios chaves da história brasileira – a Revolução Farroupilha (1835-1845) e a Guerra do Paraguai (1861-1866) – comandando a sua cavalaria de gaúchos e lanceiros negros. As locações foram feitas no Rio Grande do Sul e no Uruguai. Premiado no Festival de Recife, de Gramado, de Brasília e indicado ao Grande Prêmio Cinema Brasil.
- Netto perde sua alma, direção de Tabajara Ruas e Beto Souza. Brasil, 2001.
16. Abolição
O documentário aborda a condição do negro no Brasil, 100 anos após a proclamação da Lei Áurea, enfocando temas como o padrão de vida dos negros, sua luta e sua realidade. Traz entrevistas com personagens importantes para a preservação da cultura negra, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalés, Beatriz do Nascimento, Grande Otelo, Joel Ruffino, Dom Elder Câmera em contraposição com D. João de Orleans e Bragança e Gilberto Freire. O documentário traz também fotos históricas em preto-e-branco – as imagens descrevem as muitas situações enfrentadas pelos escravos negros, traçando um paralelo de seus descendentes nos dias atuais.
- Abolição, direção de Zózimo Bulbul. Brasil, 1988. Clique aqui (trecho)
O cineasta Zózimo Bulbul é considerado o inventor do cinema negro brasileiro. Veja artigo de Noel dos Santos Carvalho, professor de cinema no curso de Comunicação Social, da UFS, publicado na Revista Crioula, da USP, n. 12, nov 2012.
Meu amigo Marcelo Carvalho lembrou de mais um filme sobre o período monárquico: “Paixão Jacobina”. Copio seu comentário: “Olá professora Joelza Ester Domingues. Gostaria de sugerir mais um filme para a lista. Trata-se do filme “A paixão de Jacobina”, dirigido por Fábio Barreto. Aborda o primeiro importante movimento messiânico ocorrido no Brasil, embora pouco explorado pelos historiadores. Foi a revolta de colonos alemães ocorrida em São Leopoldo, no Rio GRande do sul, que ficou conhecida como “Revolta dos Mucker”. É um fato curioso de nossa história pois diferente dos outros famosos movimentos (Canudos, Juazeiro e contestado) acontece durante o período… Leia mais »
Luiz Pi enviou outra contribuição para incluir na lista: “Quanto vale ou é por quilo?” (direção de Sérgio Bianchi, 2005). O filme traça um paralelo entre a época da escravidão e a sociedade brasileira atual. Veja comentário a respeito em:
[…] movimentos sociais e políticos da República Velha inspiraram filmes e documentários, alguns deles ganhadores de prêmios internacionais. Adaptações de romances consagrados para as […]
[…] 16 filmes sobre o Brasil Monárquico. […]