“Minha vida de menina”, de Helena Morley, um dos livros obrigatórios da Fuvest 2018, possibilita um interessante trabalho interdisciplinar com Língua Portuguesa e História. Trata-se do diário de uma adolescente residente em Diamantina, Minas Gerais, nos primórdios da República. Escrito entre os anos de 1893 e 1895, quando a autora tinha 12-15 anos de idade, ele relata, de forma bem-humorada, o cotidiano familiar, escolar e social na cidade de Diamantina, Minas Gerais.
Contexto histórico
Diamantina era, então, uma província da República. Ficara no passado, mais de um século atrás, a riqueza das jazidas de diamantes do Distrito Diamantina, da época colonial. . Muitos garimpeiros, contudo, ainda tentavam a sorte explorando o leito dos rios a procura de pedras e ouro, como fazia o pai da autora. Por volta de 1850, houve um novo surto de mineração diamantífera mas, dessa vez, na Chapada Diamantina, Bahia, a quase mil quilômetros ao norte da Diamantina mineira. Essa exploração, contudo, durou pouco tempo. O esgotamento parcial das minas e a exploração de diamantes na África do Sul (a partir de 1865) levaram ao abandono do garimpo na Bahia.
Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Cadeira Brant (1880-1970) era filha de um pequeno minerador descendente de ingleses. Teve formação britânica, protestante, liberal (no contexto da época) em um ambiente ibérico e católico, mal saído do regime de trabalho escravo.
Por sugestão de seu pai, manteve um diário onde registrou, em muitos cadernos e folhas avulsas, seus comentários agudos sobre a vida na cidade e na região.
Seu diário revela o cotidiano da sociedade provinciana brasileira nos primórdios da República, com seus costumes arraigados, suas relações sociais e contradições, as várias faces do “racismo cordial”, as festas religiosas, as lentas inovações tecnológicas (luz elétrica, água encanada, telefone etc.).
Trata-se de um saboroso painel sociológico traduzido por uma garota ruiva que, “embora inteiramente identificada com o meio de gente morena que é o seu, o único que conhece e ama, não vacila em o criticar com precisão e finuras notáveis”. Ela faz a interlocução entre mundos culturais divergentes e coexistentes, momento em que a escravidão acabava de ser abolida mas o trabalho livre ainda não se estabelecera nem a velha sociedade patriarcal se desintegrara.
“Minha vida de menina”, de Helena Morley, trechos para download aqui.
Minha-Vida-De-Menina-Ensinar-Historia-JoelzaNa aula de História
“Minha vida de menina” contribui na reflexão dos preconceitos, racismo e contradições sociais ainda presentes em uma sociedade recém-saída da escravidão. Neste sentido, é interessante trabalhar o texto durante na aula sobre abolição e primeiros tempos da República (final do século XIX e início do XX).
Selecionamos quatro trechos curtos da obra, para os quais sugerimos as questões a seguir.
Trecho I – Relações familiares
- O casal negro mencionado no trecho era escravizado ou livre? Justifique.
- Na sua opinião, o que seria o “Arraial dos Forros”?
- Que elementos permitem afirmar a ausência de inovação tecnológica na Chácara e arredores?
- Como era a relação do casal negro com a família da autora?
- Havia uma hierarquia social entre as duas famílias? E entre essas famílias e a autoridade local? Explique e justifique.
Trecho II – Vida dos ex-escravizados
- Após a abolição qual foi a opção dos ex-escravizados dessa família?
- Quais outras opções eles poderiam escolher após a abolição?
- Os ex-escravizados foram convertidos em trabalhadores assalariados? Justifique.
- Qual era o seu modo de sobrevivência?
- Como era vista a cultura religiosa dos afrodescendentes pelos senhores católicos?
Trecho III – Os reis negros da Festa do Rosário
- “Até parece que a festa é nossa”: de quem era essa festa?
- Atualmente, este tipo de festa ainda se mantém? Cite exemplos.
- Qual a origem social dos baderneiros que estragaram o pomar e roubaram o leitão?
- A menina, diferente da avó, fica indignada e os chama de ladrões. Como entender o comportamento da avó à luz da sociedade patriarcal da época?
Trecho IV – Entre a escravidão e a liberdade
- De acordo com o trecho, qual era o destino dos escravizados pós a morte de seu senhor?
- Que informações fornecidas pelo texto permitem afirmar que o escravo era uma mercadoria?
- Compare os trechos IV e I e responda: como eram as relações entre senhores e escravizados, e entre antigos senhores e ex-escravizados?
- Compare os trechos IV e II e responda: o que eles nos informam sobre o modo de vida dos ex-escravizados após a Abolição?
- O diário de Helena Morley levou quase cinquenta anos para ser publicado e ainda assim a autora usou um pseudônimo. O que isso nos faz refletir sobre a condição da mulher na sociedade brasileira da época?
No cinema
A obra de Helena Morley recebeu uma versão para cinema com o nome Vida de menina (Brasil, 2003), direção de Helena Solberg. A personagem principal é interpretada por Ludmila Dayer.
Olá!!
Gostei muito das questões. Estou trabalhando esse livro com meus alunos.
Vc teria o gabarito para me fornecer?
Muito obrigada!
Olá Andrea. Essa obra é muito interessante pois fornece informações do cotidiano da época. Elaborei as questões e deixei ao professor a decisão de selecionar e responder as que melhor se adequam aos seus alunos. Um abraço.
Dicas ótimas para os estudantes de história, dedicado ao ensino médio!@
Ola bom dia! Você teria respostas prontas para poder me basear ?
Oi Pedro, não tenho as respostas prontas. Poderia fazê-las para você mas estou com meu tempo tão apertado que não posso me comprometer com isso. Mas lerei com prazer suas respostas. Um abraço.
Olá, Joelza! Gostaria de aprofundar-me no assunto literário para a FUVEST. Alguma recomendação?
Olá Victor Hugo, seu nome já tem o melhor da literatura universal. No site, além desse artigo – “Minha vida de menina” – há artigos sobre outros temas literários da Fuvest. Busque “Negrinha” e “A cidade e as serras”. lembre que minha abordagem não é literária, mas histórica. Um abraço.