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“Uma lição de vida”, um filme inspirador para professores e alunos

26 de junho de 2016

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O filme “Uma Lição de Vida ” ou “O Aluno” (The First Grader, direção de Justin Chadwick, Reino Unido, BBC Films, 2010) é um daqueles filmes que emociona e continua rodando na nossa cabeça depois que termina. Baseado em fatos reais, conta a história de Kimani N’gan’ga Maruge, um queniano que lutou para aprender a ler e a escrever aos 84 anos de idade. Mas não se trata somente da história de um ancião, mas de um homem com um passado de lutas e resistência: ele era um ex-combatente do grupo dos Mau-Mau, no Quênia.

Revolta dos Mau Mau, no Quênia

O grupo dos Mau Mau era uma organização clandestina formada pelos Kikuyus, grupo étnico do Quênia. O termo “mau mau”, segundo os especialistas, seria um anagrama para “Uma Uma”, traduzido como “Fora, Fora!”, grito de guerra usado pelos Kikuyus. Expulsos de suas terras e destituídos dos direitos civis, os Kikuyus lutaram para libertar o país dos colonizadores britânicos que desde 1888 dominavam o país. A chamada Revolta Mau Mau (1952-1963) foi decisiva para a independência do Quênia, em 1963.

Soldados britânicos em ação no Quênia, buscando guerrilheiros Mau Mau.

Soldados britânicos em ação na aldeia Karoibangi, no Quênia, buscando guerrilheiros Mau Mau. Foto de 1963.

A imprensa ocidental descrevia a guerrilha Mau Mau, como uma sociedade secreta, “uma primitiva sociedade ritualística”, inspirada por superstições e de influência comunista. Contudo, não havia nada de misterioso: a maioria dos quenianos queria libertar o país do regime europeu. A repressão violenta dos britânicos à revolta Mau Mau, entre 1952 e 1963, resultou em milhares de mortes no Quênia, além de linchamentos, castrações, estupros, confisco de bens e propriedades.

O filme apresenta em flash os horrores da guerra na qual Kimani Maruge (interpretado por Oliver Litondo) viu mulher e filha serem executadas pelas tropas britânicas e foi barbaramente torturado.

Passados cerca de quarenta anos da guerra de independência, o país executa um programa de escolarização oferecendo ensino primário universal e gratuito – que Kimani Maruge entende incluir todos incluindo ele, um ancião.

Maruge na escola primária

O que se segue é sua luta para ser matriculado na escola primária junto com as crianças. Para isso, Maruge aceita todas as exigências, inclusive a de usar uniforme infantil. Sua motivação baseia-se no desejo de ler uma carta da Presidência que havia recebido.

A presença de um ancião em uma sala de aula infantil é tão incomum que vira notícia internacional e desperta a inveja da comunidade local, a ira de pais ignorantes e a ganância de burocratas que acham que Maruge estaria ganhando com a popularidade. Maruge tem o apoio da professora (interpretada por Naomie Harris, de “007 Operação Skyfall”). As tensões revelam as rivalidades entre etnias e os oportunismos comuns em qualquer sociedade.

Cena do filme Uma Lição de Vida

Cena do filme “Uma Lição de Vida” em que a professora ensina Maruge na escola primária junto com as crianças.

O que o filme não mostrou

Em 2003, Maruge começou a frequentar a escola de Eldoret, a principal cidade no centro-oeste do Quênia. É uma região montanhosa, situada a 2100 metros acima do nível do mar, o que faz cair a temperatura nas noites e especialmente no inverno.

Maruge foi um aluno aplicado e logo destacou-se entre os colegas de classe. Em setembro de 2005 foi convidado a falar na ONU, sobre a importância da educação primária gratuita durante a Cúpula de Desenvolvimento do Milênio. O evento deu maior visibilidade a ele e à escola.

Durante os conflitos pós-eleitorais de 2007-2008, a propriedade de Maruge foi atacada e saqueada. Ele foi obrigado a se mudar para um campo de refugiados, a quatro quilômetros de sua escola, mas mesmo assim continuou frequentando as aulas todos os dias. Em junho de 2008, ele se mudou para a capital, Nairobi onde foi forçado a morar em uma casa de repouso para idosos. Continuou estudando e se matriculou na escola primária Marura, localizada em Kariobangi, um bairro pobre no norte de Nairobi.

Em maio de 2009, Maruge foi batizado na Igreja católica de Kariobangi e adotou o nome cristão Stephen. Já não andava e trocou seu célebre bastão por uma cadeira de rodas. Morreu em 14 de agosto daquele ano, de câncer de estômago, no Hospital Kenyatta, em Nairobi.  Estava com 90 anos de idade.

Foto real de Kimani Maruge na escola primária

Foto real de Kimani Maruge na escola primária, 2005.

Um filme com uma história inspiradora

Alguns críticos viram o filme “Lição de Vida” como óbvio, recheado de frases de efeito, e maniqueísta por mostrar um país dividido entre pessoas bem-intencionadas e outras que só querem tirar vantagem de qualquer situação. Foi considerado, também, como um pedido de desculpas do colonizador. Outros afirmaram que o filme é uma exaltação ao governo queniano mostrado como um grande benfeitor (o programa “educação para todos”) e acessível ao povo (Maruge chega a invadir uma reunião de governo e é imediatamente recebido).

Para além dessas críticas, o filme emociona e é inspirador para refletir sobre a importância da educação, o ato pedagógico, a força da vontade e a convivência entre gerações. Filmado no vale do Rift, com crianças e adultos da região, ele mostra cenários e pessoas reais. Os cadernos e os livros, que aparecem em rápidos takes, são os mesmo que eu vi quando visitei o Quênia em 2011: material barato, impresso no Reino Unido e fartamente distribuído no país.

Alfabetiza-se em inglês e os livros didáticos estão em inglês. A língua do colonizador unifica o país onde existem dezenas de línguas. Mas a versão da História que está nos livros escolares não é exatamente pró-britânica: os livros analisam os efeitos da colonização na África, os horrores das guerras de independência e os conflitos étnicos. Os livros trazem também ensinamentos práticos como explicações didáticas sobre construção e conservação de cisternas, reciclagem de lixo, cuidados com hortas e animais.

A persistência de Maruge em frequentar a escola e aprender a ler e escrever desencadeia uma verdadeira aventura épica capaz de enfrentar autoridades e as pessoas da comunidade. Só não enfrentou as crianças pois estas não mostraram qualquer resistência à presença de um ancião entre elas. Isso merece uma reflexão: nossos alunos reagiram da mesma maneira?

O verdadeiro Kimanu Maruge com seus colegas da escola primária, foto de 2005

Persistência é a capacidade de continuar com os esforços mesmo frente aos mais desanimadores desafios ou obstáculos. Maruge, contudo, não é só persistente, ele é, também perseverante. Perseverança exige flexibilidade e alternativas na busca de soluções para conservar-se firme num propósito. Ele não somente insiste em entrar para a escola como busca outras estratégias para atingir seu objetivo.

É a perseverança que faz Maruge vestir-se como uma criança e aceitar sentar-se entre elas mesmo com todo desconforto para um ancião. É a perseverança que o move até a cidade grande para falar com as autoridades e passar pela secretária constrangedora.

Pela mesma razão, ele não aceita frequentar a escola para adultos: ela não o levaria ao objetivo almejado. A escola para adultos é caótica: alunos desatentos e desinteressados, e um professor que se limita a cumprir o seu papel. Alguma semelhança com a realidade de nossos cursos do EJA? Eles atentem ao que se propõem?

O contraste entre a indiferença e o isolamento de Maruje na escola para adultos frente à terna receptividade das crianças na escola primária é avassalador. O que isso nos leva a pensar? Seria um mero jogo dramático do diretor ou uma realidade em nossa sociedade excludente com os anciãos?     

O desafio da professora Jane Obinchu diante da persistência e perseverança de Maruge traz outro ensinamento: a solução de um problema. Uma das recomendações das autoridades e educadores é que a educação nos prepare para resolver problemas. E isso não é (ou não deveria ser) só para os alunos. Quantos problemas nós, professores, enfrentamos em nossa prática pedagógica? Estamos encontrando solução para eles?

A professora Jane Obinchu achou uma solução criativa: se Maruge não podia ser aluno, então ele seria o seu professor auxiliar.  A decisão da professora implica, também, em um posicionamento político e isso remete a outra discussão, muito contemporânea: a educação é uma ação política e os professores são seus agentes. Querer eximir-se disso é aceitar o papel de mero funcionário transmissor de informações e fazedor de relatórios.

Por esses ensinamentos e outros que certamente um olhar mais atento observará, o filme “Uma lição de vida” mereceu esse feliz título na versão brasileira.

 

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[…] falam em 20 mil até 100 mil pessoas, e outro tanto de sobreviventes das torturas. O filme “Uma lição de vida” (The First Grader, direção de Justin Chadwick, Reino Unido, BBC Films, 2010) conta a história de […]

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[…] que não querem ceder uma vaga da escola para um homem tão velho. Veja comentário do filme “Uma lição de vida” neste […]

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